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Minas Gerais tem potencial para expandir a produção de biogás

30 de maio de 2022 / Consultoria / por Comunicação Krypton BPO

Número de unidades instaladas no Estado deu um salto de 225 para 261 no período de apenas um ano.

Quanto mais ampliada e diversificada for a matriz energética em Minas Gerais, em relação às fontes renováveis, maior a segurança do setor e mais próximo o Estado fica da meta de zerar emissões de carbono até 2050, firmada pelo governo ao se tornar signatário da campanha mundial Race to Zero. Uma medida que pode contribuir nesse sentido é o crescimento da produção de biogás, hoje pouco significativa no contexto da geração de energia no Estado, porém, com grande potencial.

O biogás surge da decomposição da matéria orgânica. É produzido a partir do que descartamos. É versátil, podendo ser usado para gerar energia elétrica, mecânica e térmica, além de gás natural renovável (biometano) para ser utilizado em veículos e na indústria.

Por se tratar de um Estado bastante diversificado no agronegócio e na indústria e com uma modernização da política de saneamento em andamento, as fontes de biomassa provenientes dessas atividades para a geração de biogás são muitas, mas pouco exploradas. Mesmo assim, Minas Gerais é o Estado brasileiro com o maior número de unidades produtoras desse tipo de energético. São 261 plantas, que representam 32% das 800 plantas espalhadas pelo País.

Nesse contexto, o potencial de produção de biogás é tema do #JuntosPorMinas desta semana. O projeto do DIÁRIO DO COMÉRCIO aborda desafios e gargalos do Estado que podem ser transformados em oportunidades de crescimento econômico e inclusão. Confira a seguir.

Não produzir significa poluir e deixar de ter ganho financeiro

Obter energia a partir de matéria orgânica descartada e que seria responsável pela emissão na atmosfera de metano, um gás 28 vezes mais poluente que o CO2. Dessa forma, é possível ampliar a geração de energia renovável e proteger o meio ambiente duplamente. Esse é o fundamento da tecnologia de produção do biogás, relativamente antiga, difundida na Europa já na década de 90. No Brasil, disseminou-se mais no início dos anos 2000. Mas, ainda hoje, a produção de biogás é pouco significativa no cenário nacional.

Em Minas Gerais, não é diferente. Todas as fontes de energia provenientes da biomassa, e isso inclui o biogás e o biometano, respondem juntas por apenas 10% na matriz energética do Estado, segundo a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). Considerando apenas dados de geração distribuída de energia elétrica em Minas Gerais, a potência instalada do biogás é de 18.152,45 KW, o que corresponde a apenas 0,97% da potência do Estado nesse segmento.

Mas a expectativa para o biogás em Minas é de crescimento. No ano passado, o número de plantas aumentou 16%, passando de 225 unidades produtoras em 2020 para 261 em 2021.

“As mudanças nas políticas de saneamento favorecem a produção de biogás por meio de estações de tratamento de esgoto, aterros sanitários, que são uma importante fonte geradora. Além disso, a conscientização dos setores acerca das questões climáticas e a difusão do conhecimento sobre biogás no agronegócio também favorecem esse crescimento. O grande desafio hoje é ampliar a cadeia produtiva de fornecedores do setor”, avaliou a gerente-executiva da Associação Brasileira do Biogás, Tamar Roitman.

Segundo ela, a maior parte das plantas biogás em Minas (veja quadro) tem como fonte geradora os resíduos agropecuários, principalmente do setor de suinocultura. Há apenas 15 unidades produtoras a partir do lixo orgânico e do esgoto. Essas, porém, embora poucas, ganham em volume, pois representam 74% do biogás produzido no Estado.

Um dos casos de sucesso é o de uma usina que funciona a partir de um aterro sanitário em Sabará, do grupo italiano Asja, que recebe resíduos sólidos do município, de Belo Horizonte e de outras cidades da região metropolitana. A reportagem buscou informações sobre produção com a empresa, mas não obteve retorno até o fechamento desta matéria. Dados obtidos no site da Asja apontam para uma potência instalada de 5,7 MW, capaz de abastecer 25 mil famílias.

Capacidade

Hoje são produzidos no Estado 308,6 milhões de m³ de biogás por ano. “Estima-se que Minas tenha capacidade para produzir 1 bilhão de m³ de biogás por ano”, afirmou o professor do Departamento de Engenharia Sanitária e Ambiental da UFMG, Thiago de Alencar Neves, que é doutor em química analítica.

Segundo Neves, um importante incentivo ao setor, além da isenção de ICMS já praticada no Estado há alguns anos, é o programa federal Metano Zero, lançado recentemente. Através do programa foram criadas linhas de crédito específicas, públicas e privadas, para implantação de biodigestores, criação de pontos e corredores verdes para abastecimento de veículos pesados movidos a biometano, desoneração tributária para infraestruturas relacionadas com projetos de biogás e biometano, entre outras ações.

“Estimativas nacionais apontam que por volta de dez a 15 anos nossa matriz pode ser modificada a ponto de o uso de biometano reduzir em até 15% o uso de diesel no País. Já há montadoras de veículos investindo e P&D para desenvolver motores que funcionam a biometano”, destacou.

Perda de dinheiro

Não aproveitar os resíduos orgânicos para gerar energia, além de contribuir para os efeitos climáticos, significa perda financeira, segundo o economista Guilherme Gonçalves, especialista em gestão de resíduos e mudanças climáticas. “Quando você utiliza o biogás, além de reduzir a poluição atmosférica, você está também gerando energia e, possivelmente, uma receita com essa energia”, destacou Gonçalves que é diretor-técnico da G & G Klima.

No caso dos aterros, o economista destacou as possibilidades de geração de receitas acessórias para o setor de resíduos sólidos urbanos ou para o setor de saneamento. “Tudo isso dentro de um contexto de um mercado regulado de carbono, que pode ser utilizado também parar gerar créditos de carbono e ter um benefício financeiro com esse aproveitamento do biogás”.

Projeto que cria política estadual aguarda votação

O governo do Estado está elaborando uma política estadual de incentivo à produção de biogás, voltada à distribuição de biometano. Segundo a Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico, o governo de Minas está participando de um estudo, junto ao Reino Unido, que subsidiará as ações nesse sentido. Enquanto isso, está pronto para ir ao plenário da Assembleia Legislativa de Minas Gerais (ALMG), um projeto de lei que cria uma política estadual de biogás e biometano. Trata-se do PL 5.240/18, de autoria do deputado Antonio Carlos Arantes (PL).

O texto explicita a cadeia produtiva do biogás e do biometano, lista os objetivos da nova política, entre os quais, incrementar, em bases econômicas, sociais e ambientais, a participação do biogás e do biometano na matriz energética estadual. Entre essas, constam incentivo ao aproveitamento de resíduos orgânicos para produção de biogás; e estímulo ao uso de biometano nos serviços de transporte público. O texto ainda aponta a necessidade de licenciamentos para o setor.

“É muito claro o potencial que Minas Gerais tem para produzir biogás e biometano não apenas por questões energéticas, mas, principalmente e também, por questões ambientais”, defendeu o deputado Antônio Carlos Arantes.

Agronegócio

Segundo Arantes, além de estimular o uso do biometano no transporte público, é preciso difundir a produção de biogás no agronegócio. “Temos condições de ampliar e muito a produção de biogás na nossa matriz de forma regulada e organizada”.

A analista de agronegócios da Federação da Agricultura do Estado de Minas Gerais (Faemg), Ana Carolina Alves Gomes, informou que o setor é bastante consciente em relação ao potencial de biogás em Minas.

“O Sistema Faemg realiza muitos cursos, seminários ambientais, orientações sobre como estruturar a produção. Não é caro gerar biogás, caro é fazer a utilização, dar a destinação, adaptar maquinário, tecnologias. As linhas de crédito foram ampliadas no último ano e a expectativa é que o agronegócio busque cada vez mais esse tipo de energia renovável”, afirmou.

Fonte: Diário do Comércio

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