Pesquisa “Women @ Work 2022” aponta que quase metade das brasileiras (44%) que trabalham se sentem esgotadas
A rotina das mulheres que trabalham foi muito mais afetada que a dos homens após o início da pandemia da Covid-19 em 2020, de acordo com dados do ano passado da Deloitte, maior organização de serviços profissionais do mundo.
O teletrabalho somado às atividades domésticas fez com que as mulheres ficassem muito mais atarefadas do que os homens. Após uma retomada parcial às atividades presenciais, com muitas profissionais trabalhando de forma híbrida, a situação, que poderia ter melhorado, não avançou muito e, em alguns aspectos, até piorou. Essa é uma das conclusões da pesquisa “Women @ Work”, da Deloitte, que chega à sua segunda edição.
O esgotamento mental/emocional, conhecido como burnout, aumentou entre as mulheres que trabalham (44% das brasileiras se sentem esgotadas). A situação entre as mulheres pertencentes a minorias étnicas no Brasil é ainda pior – mais da metade delas (54%) sentem os efeitos do burnout.
“No ano passado já havia insatisfação e esgotamento por parte das profissionais mulheres, resultado de uma desigualdade de gênero que ainda existe dentro das empresas. Em 2022, com base em nossa pesquisa, podemos perceber que muitos avanços ainda são necessários para evitar o burnout e para que as mulheres tenham, de fato, as mesmas oportunidades que os homens no mundo corporativo. Além disso, só iniciativas realmente concretas podem fazer com que mulheres não se sintam inferiores nem tenham medo de denunciar comportamentos inadequados. O lado bom é que já existem empresas que contam com ações efetivas de equidade de gênero, mas muito avanço ainda é necessário”, destaca a sócia e líder do Delas, programa de diversidade de gênero da Deloitte no Brasil, Venus Kennedy. “Na Deloitte, fazemos isso por meio da estratégia ALL IN, com ações desenvolvidas a sete pilares, que se voltam a pessoas com deficiências; jovens aprendizes; mulheres; pessoas LGBTQIA+; pessoas negras; profissionais acima de 50 anos; e profissionais das áreas STEMs, entre outros grupos identitários”, completa Venus Kennedy.
A pesquisa, realizada entre novembro de 2021 e fevereiro de 2022, ouviu 5 mil mulheres de dez países, sendo 500 do Brasil. O levantamento revela que as mulheres brasileiras avaliam sua saúde mental de forma semelhante a seus pares globais: 50% e 49%, respectivamente, consideram a saúde mental ruim ou muito ruim. Por outro lado, 39% das brasileiras e 39% da amostra global consideram sua saúde mental boa ou muito boa. Aquelas em grupos de minorias étnicas são menos propensos a se sentir à vontade para falar sobre problemas de saúde mental no local de trabalho e indicam que são muito menos propensas a receber apoio adequado de saúde mental dos empregadores.
Fuga dos empregos atuais
Um pouco menos mulheres no Brasil (49%) estão procurando sair de seus empregos atuais dentro de dois anos em comparação com a média global (52%). Para as brasileiras que procuram ativamente, o burnout (49%) e a remuneração inadequada (27%) e a falta de oportunidades de crescimento na empresa (16%) são os principais motivos; apenas 9% das brasileiras (e 10% da média global) pretendem ficar na mesma empresa por cinco anos ou mais.
As mulheres no Brasil classificam certos aspectos de sua vida em níveis igualmente ruins como o grupo global: satisfação no trabalho (27% tanto para Brasil quanto para global) e equilíbrio entre vida pessoal e profissional (48% para ambas). No entanto, as brasileiras relatam sentir-se menos motivadas no trabalho (23%, ante 27% da média Global) e aquelas em grupos étnicos minoritários são menos otimistas sobre as perspectivas de carreira (53%). Quase metade das profissionais brasileiras (44%) se sentem menos otimistas este ano em relação às oportunidades de sua carreira do que no ano passado; entre as mulheres de minorias étnicas este número sobe para 53%.
Assim como os números globais, cerca de um terço das mulheres no Brasil (34%) diz que seus empregadores oferecem políticas de trabalho flexíveis. No Brasil, 95% acreditam que solicitar ou aproveitas as opções de trabalho flexível pode afetar negativamente sua probabilidade de promoção. A ampla maioria das brasileiras (92%) acha que se solicitarem opções de trabalho flexível, a jornada de trabalho não será ajustada. As mulheres brasileiras que mudaram de jornada de trabalho desde o início da pandemia ou trabalham meio período são muito mais propensas do que aquelas que não mudaram de horário a se sentirem esgotadas, estressadas, menos otimistas sobre suas perspectivas de carreira e menos à vontade para falar sobre saúde mental no local de trabalho.
As mulheres participantes da pesquisa responderam quanto as atividades domésticas, os cuidados com filhos e tempo gasto cuidando de outros dependentes aumentaram no último ano. Em relação às tarefas domésticas, 62% das mulheres que trabalham meio período dizem que elas aumentaram; entre as mulheres que mudaram sua jornada de trabalho esse número é de 60%, enquanto para as mulheres que não alteraram a carga horária essa taxa cai para 42%. Em relação aos filhos, 50% das mulheres que trabalham meio período e 50% das que alteraram sua jornada dizem que o tempo de cuidados aumentou; para 42% das profissionais brasileiras sem mudança na jornada esse número aumentou.
Assédio e microgressões aumentam
Menos mulheres brasileiras que trabalham de forma híbrida sentem que não têm exposição suficiente aos líderes do que as respondentes globais (36% Brasil, ante 45% Global). Semelhante à taxa Global, as mulheres brasileiras que trabalham de forma híbrida são muito mais propensas a ter sofrido microagressões no ano passado (70%) do que aquelas que trabalham totalmente remotas (33%) ou totalmente presencial (40%). A exclusão de interações ou conversas informais foram as microagressões mais citada por mulheres no Brasil (12%).
As mulheres no Brasil, assim como as respondentes globais, experimentaram um número maior de comportamentos não inclusivos em 2022 do que em 2021. No ano passado 44% das mulheres brasileiras passaram por isso; em 2022, o número subiu para 60%. As três principais razões que as mulheres no Brasil deram para não relatar esses comportamentos são: elas não sentiram que o comportamento era sério o suficiente para denunciar (34%), elas não achavam que a reclamação seria levada a sério (23%) e estavam preocupadas que o comportamento piorasse após a denúncia (15%).
No caso das mulheres em grupos étnicos minoritários no Brasil, a situação é pior e elas são propensas do que a média global e que a média geral do Brasil experimentar certos comportamentos como se sentir excluídas de interações informais (18% para mulheres desse grupo, ante 12% do total Brasil e 11% da média Global), ter alguém levando o crédito por suas ideias (15%, 11% e 9%, respectivamente) e ter menos oportunidades de falar em reuniões em comparação com colegas do sexo masculino (11%, 7% e 8%, respectivamente). Já 40%, 37% e 35%, respectivamente, dizem que o tempo gasto com cuidado de outros dependentes cresceu no último ano.
Atraso
Apesar dos muitos avanços que precisam acontecer em relação à diversidade de gênero nas empresas, a pesquisa da Deloitte identificou um grupo de “Líderes de Igualdade de Gênero”, organizações que, de acordo com as mulheres pesquisadas, criaram culturas genuinamente inclusivas que apoiam suas carreiras, equilíbrio entre vida profissional e pessoal e promovem a inclusão.
A proporção de mulheres trabalhando para empresas assim é de 5% globalmente e 8% no Brasil. Por outro lado, foi identificado um grupo de organizações atrasadas nesse quesito. As mulheres que trabalham para essas empresas indicam que têm uma cultura menos inclusiva e de baixa confiança.
Este ano, 24% das entrevistadas globais e 20% das entrevistadas no Brasil trabalham para essas organizações. Mulheres que trabalham para líderes de igualdade de gênero relatam níveis muito mais altos de bem-estar e satisfação no trabalho.
As experiências vivenciadas pelas mulheres que trabalham em empresas líderes de igualdade são muito diferentes das que trabalham nas organizações atrasadas – 81% das profissionais do segundo grupo têm burnout, contra apenas 3% daquelas pertencentes ao primeiro. A lealdade com o empregador, motivação no trabalho, produtividade e o bem-estar físico e mental são muito mais altos entre as profissionais que atuam em organizações Líderes de Igualdade de Gênero.
Fonte: Diário do Comércio