Ao treinar o cérebro para lidar melhor com essas situações, é possível transformar conversas difíceis em oportunidades de crescimento, conexão e liderança
Muitas pessoas lidam com o conflito de duas formas: ou fogem dele como de um incêndio ou avançam como um aríete. No entanto, ambas as reações costumam ser impulsionadas pelo mesmo mecanismo: a resposta instintiva do cérebro para eliminar o conflito o mais rápido possível. Mas evitar o confronto ou enfrentá-lo de maneira agressiva não resolve o problema; pelo contrário, muitas vezes o empurra para o subterrâneo, onde pode se agravar e ressurgir de forma ainda mais prejudicial.
A explicação para isso está no funcionamento do cérebro humano. Pesquisas indicam que o cérebro percebe o conflito como uma ameaça à sobrevivência, acionando a mesma resposta de luta ou fuga que ajudou nossos ancestrais a escaparem de predadores. Essa reação faz com que até mesmo pequenos desentendimentos pareçam intensos e pessoais. No entanto, segundo especialistas, é possível reprogramar o cérebro para lidar com conflitos de forma mais equilibrada, sem estresse excessivo.
Cinco estratégias para treinar o cérebro a lidar com conflitos
O neurologista comportamental Dr. Joel Salinas, coautor do livro Conflict Resilience: Negotiating Disagreement Without Giving Up or Giving In, explica que podemos reconfigurar nossa forma de reagir a conflitos, substituindo hábitos ineficazes por estratégias mais produtivas. A seguir, ele apresenta cinco técnicas baseadas em neurociência para gerenciar desentendimentos sem perder a calma.
1. Reenquadre o conflito com a estratégia da “Melhor Alternativa”
Nosso cérebro busca alívio imediato para o desconforto, o que explica por que evitar um conflito pode parecer tão satisfatório a curto prazo. No entanto, o Dr. Jud Brewer, especialista em neurociência, sugere um método chamado Bigger, Better Offer (BBO), ou “Melhor Alternativa” em tradução livre. Em vez de evitar um conflito, o ideal é perguntar-se: Qual é o maior benefício que posso obter ao enfrentar essa situação? Isso pode incluir ganhar mais clareza, fortalecer relacionamentos ou desenvolver habilidades de liderança. Esses ganhos são muito mais valiosos do que o alívio momentâneo de evitar uma conversa difícil.
2. Treine seu cérebro para permanecer calmo
Quando um conflito ativa o sistema nervoso, o corpo reage antes que o cérebro racional possa intervir. Técnicas de respiração controlada, como o suspiro cíclico, ajudam a regular a resposta ao estresse. Pesquisas mostram que esse tipo de respiração reduz os níveis de cortisol, permitindo que a mente se mantenha clara mesmo sob pressão. Para praticar, faça uma inspiração profunda pelo nariz, seguida por uma segunda inspiração curta, expandindo completamente os pulmões. Depois, expire devagar pela boca. Repetir esse processo por um ou dois minutos ativa o sistema nervoso parassimpático, promovendo um estado de calma.
3. Use a exposição controlada para aumentar sua tolerância ao desconforto
Evitar um conflito ou enfrentá-lo de maneira impulsiva reforça a ideia de que o desconforto é insuportável. Mas estudos baseados na terapia de exposição e prevenção de resposta (ERP) mostram que a melhor forma de mudar esse padrão é treinar uma nova resposta. Em vez de fugir ou reagir automaticamente, faça uma pausa e tolere o desconforto conscientemente. Segundo o Dr. Salinas, cada vez que resistimos ao impulso de escapar ou exagerar, enfraquecemos velhos hábitos e fortalecemos uma nova abordagem mais equilibrada. Com o tempo, isso ensina o cérebro a ver os conflitos como algo gerenciável, e não ameaçador.
4. Preste atenção aos sinais do seu corpo
O corpo geralmente percebe um conflito antes da mente. Batimentos acelerados, mandíbula tensa ou ombros rígidos são sinais de que o cérebro entrou em modo de alerta. Reconhecer esses sinais ajuda a retomar o controle antes que as emoções fiquem avassaladoras. O Dr. Salinas recomenda um exercício simples: faça uma varredura corporal rápida e observe onde você está segurando tensão. Apenas essa consciência já pode ajudar a reduzir a intensidade da reação emocional.
5. Pratique pequenas exposições ao desconforto
Desenvolver resiliência a conflitos é como fortalecer um músculo – requer prática constante. O ideal é começar com situações de baixo risco, como discordâncias leves, onde seja possível treinar a calma e a escuta ativa. À medida que o cérebro se adapta, torna-se mais fácil lidar com discussões mais difíceis sem perder o controle.
Transformando conflitos em oportunidades
O conflito em si não é o problema – o medo dele é. Ao treinar o cérebro para lidar melhor com essas situações, é possível transformar conversas difíceis em oportunidades de crescimento, conexão e liderança. Como resume o Dr. Salinas: “O objetivo não é vencer ou evitar conflitos, mas enfrentá-los com clareza e confiança. É assim que ocorrem verdadeiros avanços.”
Com a aplicação consistente dessas estratégias, profissionais e líderes podem desenvolver uma maior resiliência a conflitos, transformando desafios em momentos de progresso significativo. O segredo está em começar pequeno, manter-se consciente e praticar constantemente.
Fonte: Administradores