Em minha atuação como headhunter, o famoso caça-talentos, percebo, diariamente, inúmeros profissionais que têm adiado o seu plano de carreira. Quando se dão conta, os meses passaram; anos se foram. E à medida que o tempo se vai, aumentam as dificuldades para retomar o controle da trajetória profissional. Mas eu tenho uma boa notícia: antes tarde do que mais tarde! Caso a pessoa se sinta “perdida”, é hora de parar, refletir e desenhar novos caminhos, porque é essencial e urgente assumir o comando das próprias atitudes. Isso significa desenvolver o tão falado protagonismo e dar o direcionamento necessário aos próximos passos. Nessas reflexões, vale, inclusive, decidir mudar de profissão, algo que tem sido um movimento cada vez mais natural e possível.
Diante disso, é importante entender que construir uma carreira de êxito não é simples nem fácil. Exige muita cautela, planejamento e, sobretudo, ação. Para isso, é fundamental se preparar: buscar novos conhecimentos, manter ativa a rede de networking, avaliar o mercado e as tendências. Evidentemente, o primeiro passo é verificar o que pode ainda ser feito na sua atual empresa, para mudar o cenário que não tem proporcionado satisfação. Ao entender que realmente já fez de tudo e, então, escolher trocar de emprego ou mudar de carreira, saiba que existem algumas etapas a seguir.
A primeira delas é ter uma reserva financeira. Afinal de contas, se o indivíduo não estiver preparado nesse aspecto, como bancar uma redução salarial no primeiro momento, por exemplo, caso seja necessário? Flexibilidade é outro ponto relevante, uma vez que, talvez, tenha que “dar alguns passos para trás” no momento de trocar de ocupação. Assim, mudanças menos bruscas – para áreas das quais já reúna algum conhecimento ou experiência – podem ser melhores, pois não envolverá “começar do zero”.
Além disso, deve-se avaliar as perspectivas. O que você quer para a sua carreira nos próximos três ou cinco anos? Quais aprendizados pretende adquirir daqui para frente? Se quer mudar de atividade, precisa compreender esse cenário e ter as suas metas desenhadas de forma muito clara. A troca de carreira não é prejudicial, se for bem estruturada e baseada em objetivos. Logo, o autoconhecimento é uma competência fundamental para essa “guinada”. Ou seja, se conhecer e mapear quais são os seus pontos fortes, fracos e o que é preciso desenvolver melhor. Assim, será possível entender as chances de sucesso em sua nova empreitada. Contar com a orientação de um profissional capacitado poderá acelerar o processo.
Enfim, todos esses aspectos são primordiais para efetivamente transformar uma carreira. Afinal, se falamos tanto em felicidade no trabalho e propósito, é vital atuar em ambientes e organizações que nos fazem bem e nos desafiem a ser melhores profissionais e pessoas a cada dia. Não quer dizer que no primeiro problema, o indivíduo vai pedir demissão, até porque a resiliência é uma das competências e habilidades, as conhecidas soft skills, desejadas pelas companhias, especialmente em um mundo cada vez mais volátil, incerto, complexo e ambíguo.
No entanto, não há o menor problema em se desligar da atual empresa, quando, realmente, se entende que lá não é o lugar certo. Isso é muito comum, mesmo porque a vida é feita de fases, e buscar uma nova colocação não é apenas sinônimo de que a pessoa está em uma corporação em que é infeliz ou não está integrada. Talvez apenas os planos pessoais e profissionais tenham mudado ou a companhia já não proporcione tantos desafios ou aquela tal visibilidade de crescimento em médio e longo prazos.
Nesse caso, é importante entrar e sair “pela porta da frente”. Significa ser respeitoso e cauteloso, da mesma maneira que ocorreu quando a empresa lhe deu a oportunidade de trabalhar lá. É preciso ser grato pelas experiências, vivências, pessoas e projetos compartilhados. Então, ao optar pela demissão, deve-se comunicar o fato imediatamente ao superior e à área de Recursos Humanos, para que possam planejar a sua saída de forma tranquila. A principal sugestão é ser o mais leve possível nesse momento e evitar usá-lo para desabafar e apontar erros. Siga em frente, com vistas ao futuro.
Também é vital organizar todas as demandas a serem entregues e manter as atividades com o mesmo engajamento de sempre, até o dia do desligamento. Muitos profissionais se esquecem desses detalhes e deixam uma marca negativa no processo de saída da organização. É preciso lembrar que as pessoas estão, constantemente, nos observando e, portanto, devemos nos preocupar com a imagem construída. No mais, mantenha as portas abertas na empresa e o networking com seu ex-líder, ex-pares e ex-colegas. Nunca se sabe o dia de amanhã; não é mesmo?
Fonte: Diário do Comércio