Os funcionários querem e as empresas precisam? Veja como deve ser feita a educação dentro das companhias a partir de agora.
Não é de hoje que as empresas tomam para si a missão de preencher algumas lacunas na formação dos profissionais. Por conta do contexto atual, provavelmente esse gap entre a realidade da faculdade e a realidade do mundo do trabalho deve aumentar. Isso porque o processo de aprendizado tem sido duramente impactado pela pandemia, fora o aumento na evasão escolar e o acesso restrito ao ensino à distância por conta da desigualdade socioeconômica no país – 55% dos estudantes que moram em favelas ficaram sem estudar durante a pandemia pela falta de internet ou por não receberem as atividades das escolas ou faculdades, segundo pesquisa do Instituto Locomotiva em parceria com a Central Única das Favelas (Cufa).
Diante disso, pode ser que o ímpeto das organizações seja elaborar mais cursos, fazer mais treinamentos, criar mais conteúdos para já se preparar e suprir tal carência. Só que, como as coisas não são tão simples assim, essa produção em massa esbarra em outro cenário: o do cansaço.
Fora o desgaste gerado pela própria realidade em que vivemos, há também aquele que vem do nosso relacionamento com a informação. Para aqueles que podem ter acesso à internet, infoxicação, infodemia e fadiga do Zoom são alguns termos que andam circulando por aí e que se relacionam com essa ideia de esgotamento. Por conta do excesso de dados e de estímulos, esses sintomas começam a aparecer e o curso ou o workshop que tinha sido cuidadosamente desenhado para complementar o conhecimento do colaborador se torna mais um item nessa pilha de conteúdo. Uma pilha que parece estar desmoronando sobre nós.
Sabe aquele mix de desânimo e ansiedade ao se deparar com esse volume gigantesco de conteúdos, esse “Everest” de informações? Estou me referindo a isso. Parece que estamos diante de algo gigantesco e não sabemos muito bem por onde começar a escalada. Na minha opinião, é exatamente neste ponto que se encontra o novo desafio das empresas quando o assunto é a educação. No ponto de partida!
Fazer uma lista de competências comportamentais e técnicas (as soft e hard skills) que precisam ser trabalhadas na sua organização, gerar conteúdos focados nela e disponibilizar esse material já é um grande passo, porém, talvez, o que precisamos é voltar e refletir sobre o processo de aprendizado em si. Mais do que isso: refletir sobre como equipar as pessoas com os acessórios corretos para que elas consigam escalar esse monte de informações. Afinal, como uma empresa pode ajudar seus colaboradores a passarem de um ponto em que falta determinado conhecimento para outro em que ela não só adquire esse conhecimento, mas o assimila?
Estou aqui levantando esses questionamentos, mas a verdade é que não existe uma única rota nessa escalada. O que posso fazer é compartilhar a minha experiência para gerar alguns insights para quem está passando ou vai passar por essa situação.
A primeira é: conheça o seu público. No Bettha.com, por exemplo, fazemos mapeamentos de perfis que promovem aprendizado tanto para o usuário (por meio do autoconhecimento), quanto para nós (por meio da coleta de dados). Ao passar pelos assessments, o jovem reflete sobre questões da vida pessoal e profissional que, até então, não tinha parado para pensar; e, do nosso lado, temos a oportunidade de conhecer melhor as particularidades de cada perfil.
Conhecer as pessoas em detalhes, aliás, é essencial para customizar o processo de aprendizado. Se jovens diferentes vão aprender de maneiras diferentes, então é um erro padronizar completamente o ensino, como se uma única abordagem servisse a todos. Não serve. Mas, claro, entendo que padronizamos por uma questão de praticidade. Se for possível, no entanto, considere investir tempo e dinheiro para conhecer melhor seus “alunos” e, na medida do possível, customizar o processo de aprendizado.
A segunda dica diz respeito à jornada, mais precisamente ao ato de criar uma jornada. Quem é da minha geração vai lembrar de quando fazíamos uma viagem mais longa de carro e precisávamos consultar um mapa para planejar a rota. Um plano era traçado, mas muitos percalços eram descobertos assim, no meio do caminho.
Hoje, contudo, dispomos de aplicativos que não só traçam a rota, mas que nos acompanham ao longo dela, fazendo ajustes, fornecendo informações atualizadas. Em algum grau, é o que também pretendemos com as jornadas de conhecimento do Bettha.com.
Não adianta apenas disponibilizar um conteúdo sobre feedback ou inteligência emocional, por exemplo. É importante criar uma rota que guia as pessoas por esse caminho do conhecimento, entendendo que, à medida que ela avança, o aprendizado vai acontecendo. Se, nessa jornada, você tiver a possibilidade de interagir com o seu público, propor atividades reflexivas, enfim, fazer essas “atualizações” dos apps de mapas, melhor ainda.
Tudo isso porque nesse mundo de abundância de conteúdos e de estímulos, não basta que nós, líderes de empresas, sejamos fontes de informação. O excesso nos faz um convite para repensar o nosso papel na educação. Antes de simplesmente entregar uma lista de conteúdos a ser consumida, conheça essa pessoa, investigue suas necessidades de informação e entenda como é seu processo de aprendizado. Não é só o destino final que importa, o conhecimento em si, mas o ato de ensinar como se trilha por essa bela e fundamental jornada do conhecimento.
Fonte: Exame