O trabalho remoto é um tema que divide opiniões. Há quem acredite que é a melhor forma para os funcionários e colaboradores, enquanto outras pessoas acham que pode acabar com a produtividade. Com o avanço da tecnologia, fica cada vez mais fácil trabalhar de qualquer lugar do mundo, desde que tenha acesso à internet. Isso faz muita gente acreditar que esse será o futuro do trabalho: escritórios cada vez menores com mais colaboradores remotos. Ivan Kreimer, especialista em marketing, trabalha remotamente há cinco anos e conta, em artigo publicado no site The Next Web, como tem sido sua experiência.
Isso, para ele, significa conseguir trabalhar do conforto de casa ou de um café sem ter que sofrer com o trânsito ou com o transporte público lotado. “Mas os benefícios vão além. Eu economizei tempo, dinheiro, reduzi meus níveis de estresse e aumentei a satisfação no trabalho”, afirma. Mas será que as empresas vão adotar esse modelo como padrão?
Como os funcionários se sentem sobre o trabalho remoto
Primeiro, Kreimer tentou entender se todos os profissionais querem trabalhar de casa. “Eu não acho que a maioria vai querer deixar a sua casa e viajar pelo mundo, como os nômades digitais”, diz ele. Na verdade, a maioria das pessoas querem ter um horário de trabalho mais flexível e poder alternar entre casa e escritório.
De acordo com uma pesquisa realizada pela empresa de tecnologia Modis, em 2015, mais da metade das pessoas escolhem a possibilidade de horário e localidade flexível como o principal requerimento na hora de encontrar um emprego. Outra pesquisa mostra que o número de profissionais trabalhando de casa aumentou. Mas apesar disso, o trabalho remoto ainda é visto como uma forma de complementar a rotina do escritório. No ano passado, a Sociedade de Gerenciamento de Recursos Humanos mostrou que 77% das empresas não deixam seus funcionários trabalharem de casa todos os dias.
“O trabalho remoto parece ser um assunto controverso: os funcionários se sentem mais engajados quando trabalham remotamente (mesmo que em apenas parte do tempo), mas os empregadores não aceitam completamente a prática”, diz Kreimer.
O que as empresas pensam sobre isso
O trabalho remoto não é um conceito novo no mundo das startups e muitas pequenas empresas o têm como padrão. Mas mesmo grandes empresas de segmentos tradicionais estão o adotando.
Empresas como Automattic, Buffer e Toptal têm centenas de funcionários cada e funcionam completamente de forma remota, o que mostra que é possível trabalhar sem que todos estejam no escritório. “O caso da Automattic é emblemático, no ano passado eles tiveram que fechar o escritório em São Francisco porque poucos de seus cerca de 50 funcionários iam ao escritório”, afirma o autor.
Por enquanto, contudo, parece que o trabalho remoto se restringe a empresas de tecnologia. O problema é que essa indústria representa apenas 12% da força de trabalho nos Estados Unidos e 2% na Europa. Mas apesar disso, o impacto da adoção dessa prática de forma mais ampla pode ser maior. “Por exemplo, quando Henry Ford aumentou o salário de seus funcionários para US$ 5 por hora, essa política mudou a indústria. Eventualmente, mais empresas começaram a aumentar os salários de seus colaboradores”, diz Kreimer.
O que acontece na prática
No ano passado, a IBM disse a dois mil de seus funcionários nos EUA (cerca de 2% da força de trabalho global) que não poderiam mais trabalhar de casa e teriam que voltar ao escritório. Outras empresas fizeram o mesmo, como o Yahoo, que pediu que seus 12 mil profissionais remotos voltassem à sede da empresa em 2013.
Isso significa que o trabalho remoto não funciona? “Não há dúvida de que isso pode diminuir a colaboração entre os funcionários e reduzir o controle da empresa. Algumas pessoas precisam ser supervisionadas, mas extrapolar isso para todos os funcionários pode nos levar de volta ao Taylorismo, quando os trabalhadores agiam mais como engrenagens em uma máquina do que seres humanos pensantes”, afirma Kreimer. Com aplicativos que organizam o trabalho em equipes, diz ele, o home office depende apenas de implementar os processos e ferramentas corretos.
Mas afinal, o trabalho remoto vai se tornar padrão para todas as empresas?
Para o autor, uma das dificuldades em ampliar o trabalho remoto é a diferença entre os millennials e as outras gerações. Dessa forma, é possível que quando os millennials forem maioria na força de trabalho, o trabalho remoto pode vir a se tornar mais disseminado nas companhias.
Kreimer diz que há também uma barreira psicológica em aceitar o trabalho remoto como um procedimento aceito nas empresas. “É difícil ir contra algo que pode parecer tão óbvio e é a cultura predominante há tanto tempo, como o trabalho presencial.”
Fonte: Época