O Brasil cresceu mais do que o esperado no segundo trimestre diante da recuperação do consumo das famílias em meio ao cenário de inflação e juros em queda, mas os investimentos produtivos continuaram caindo, evidenciando que a recuperação da atividade será gradual.
O Produto Interno Bruto (PIB) do País cresceu 0,2% no segundo trimestre sobre os três meses anteriores, informou o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) na sexta-feira.
A boa surpresa também veio na comparação com o segundo trimestre de 2016, com o PIB crescendo 0,3%, o primeiro resultado anual positivo desde o primeiro trimestre de 2014 (+3,5%).
“Acho que não dá para chamar de recuperação do PIB, mas claramente estamos num ciclo ascendente da economia”, afirmou a coordenadora de Contas Nacionais do IBGE, Rebeca Palis.
No primeiro trimestre deste ano, o Brasil havia crescido 1% sobre o período imediatamente anterior, interrompendo dois anos seguidos de recessão devido à forte expansão do setor agropecuário, mas com os investimentos produtivos ainda em queda.
Entre abril e junho passado, o consumo das famílias mostrou expansão de 1,4% sobre o trimestre anterior, primeiro crescimento após nove trimestres e movimento que pode sugerir que a recuperação econômica continua nos trilhos. Sobre o mesmo período de 2016, o consumo cresceu 0,7%, ainda segundo o IBGE.
Inflação em queda livre, juros básicos cada vez menores, maior massa salarial e liberação de recursos do Fundo de Garantia do Tempo de Serviço (FGTS) explicam essa recuperação, movimento que ainda deve continuar nos próximos meses. O Banco Central, desde outubro passado, já reduziu a Selic em 5 pontos percentuais, a 9,25%, e já há expectativas de que a taxa vá abaixo de 6%.
Beneficiado por esse consumo mais forte, o setor de serviços também foi destaque positivo, com expansão de 0,6% na comparação com o trimestre imediatamente anterior, mas na variação anual, mostrou queda de 0,3%.
“Quem mais puxou o setor de serviços foi o comércio graças ao melhor consumo das famílias, com queda na inflação e algum avanço na renda”, acrescentou Rebeca. Só o comércio mostrou expansão de 1,9% na margem.
O IBGE informou ainda que, no trimestre passado, o consumo do governo recuou 0,9%, em meio à crise fiscal.
Investimentos – O investimento continuou em contração no trimestre passado, sinal de que o crescimento deve ser gradual daqui para frente diante do forte endividamento e excesso de capacidade das empresas.
Segundo o IBGE, a Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF) recuou 0,7% na comparação com janeiro a março e despencou 6,5% sobre um ano antes. O segmento da construção civil foi o mais afetado, com contração de 2% sobre o primeiro trimestre.
Com isso, a taxa de investimento no trimestre passado ficou em 15,5% do PIB, abaixo do observado no mesmo período do ano anterior (16,7%), segundo o IBGE.
“O cenário de incerteza e desconfiança na economia também explica a queda na FBCF. Tem ainda o efeito negativo do investimento público que está contingenciado por conta da crise fiscal”, afirmou a coordenadora do IBGE.
A indústria continuou sofrendo, com queda de 0,5% na margem, enquanto a agropecuária ficou estagnada após crescer fortemente no primeiro trimestre.
“Houve certa frustração com o ritmo de melhora dos investimentos, o impulso mais significativo deve ocorrer apenas em meados de 2018”, afirmou o economista do banco Santander, Rodolfo Margato, para quem o PIB crescerá 0,5 % neste ano e 2,5% em 2018.
“A nosso ver é justamente o desempenho dos investimentos em 2018 que vai dizer se a gente vai crescer 1,5% ou 3% no ano que vem”, acrescentou.
Fonte: Diário do Comércio