A pergunta pode parecer uma provocação. Talvez seja. E válida. Provavelmente, serão mais perguntas que respostas. Comecemos.
Por que questionar a vontade das empresas de assumir uma responsabilidade social que combine o desempenho corporativo e seu impacto positivo na sociedade?
De quais projetos sociais corporativos estamos falando, afinal?
Por que as empresas frequentemente investem no fortalecimento da diversidade de suas forças de trabalho, na defesa dos direitos humanos e, acima de tudo, no enfrentamento dos desafios do planeta?
Qual o motivo leva muitos a considerar estes compromissos das empresas como ações de marketing com foco exclusivo em criar valor a ser convertido em lucro?
O convite para toda esta reflexão é, antes de mais nada, uma proposta de deslocamento. Precisamos ampliar nosso nível de percepção para não correr o risco de criticar com demasiada facilidade a postura de certas empresas, descrevendo-as como hipócritas. Nem ser ingênuos demasiadamente. Pensemos. O que está havendo no mundo?
Historicamente, temos falado sobre o conceito de RSC, Responsabilidade Social Corporativa (Corporate Social Responsibility), durante o século 20 e mais amplamente na segunda metade. Mais recentemente, ESG (Environment, Sustainability, Governantes), Meio Ambiente, Sustentabilidade e Governança, é amplamente referido e até substitui a sigla CSR.
A ESG envolve explicitamente a governança corporativa e o financiamento de projetos ambientais, sociais e societários. Por quê? Se você pensa que as empresas precisam disso para criar boa imagem, está enganado. Os negócios precisam da ESG e ações e programas socioambientais para sobreviver. E isso tem feito o mercado amadurecer.
Hoje, as empresas estão desenvolvendo abordagens mais maduras, incluindo uma redefinição da missão da empresa e novos planos estratégicos que demonstram uma vontade de assumir a responsabilidade social corporativa. O processo frequentemente envolverá mudanças estruturais profundas na cultura, organização e financiamento da empresa.
Muitas corporações compreenderam que sua longevidade está em jogo em um mundo volátil, incerto, complexo e ambíguo. Onde está nosso “norte” para dirigir nossos negócios? Certamente não é mais apenas na busca de lucros a curto prazo que desacreditam que esconderia todos os outros critérios de criação de valor para a sociedade ou, pelo contrário, de destruição. A sociedade está em condições de avaliar os compromissos sociais e seus impactos. As redes sociais tornam possível comunicá-las muito rapidamente.
É provável que as empresas tomem gradualmente consciência de suas responsabilidades sociais dentro de seu ecossistema. A partir de uma nova compreensão das questões da sociedade que as abrange, elas entrarão em um processo de aprendizagem que também envolve sua governança e seus funcionários.
Os críticos da responsabilidade social corporativa apontam para o resultado de um sistema capitalista que busca substituir as políticas públicas. Um estudo recente publicado no The Economist, “What happens when firms have to stump up for good causes” – an Indian experiment in Corporate Social Responsibility”, 7 de janeiro de 2021, mostra que uma contribuição forçada por meio de novos impostos dedicados a projetos de interesse público tem visto uma diminuição nos orçamentos de Responsabilidade Social Corporativa das empresas estudadas. Os autores trazem como principal justificativa a perda da auréola de sinalização pública “um valor da empresa” e não como por meio da tributação, apenas o cumprimento da regulamentação como exigido no novo esquema de tributação na Índia. Em contraste, outros críticos da RSE como Milton Friedman, afirmam que as empresas têm uma responsabilidade social corporativa para aumentar os lucros e garantir a prosperidade econômica das empresas.
Meu convite nestas poucas linhas é defender a urgência de uma mobilização coletiva e geral dos Estados, setores privados e indivíduos. Todas as ações que ajudarão a salvar nosso planeta, a melhorar a vida de seus habitantes e das espécies que nele prosperam devem ser apoiadas. E a solução para os problemas da sociedade são de responsabilidade de todos. Mais do que nunca, a esfera pública deve desempenhar um papel de árbitro e facilitador para apoiar os compromissos.
Portanto, sim, tudo ainda está por fazer. Precisamos identificar ações positivas dentro de empresas e fora delas. Esse é nosso verdadeiro impulso de vida!
Fonte: Diário do Comércio