Em setembro de 1994, os pais e os amigos de Mike Hemme, jovem norte-americano de apenas 17 anos que acabara de cometer suicídio, decidiram distribuir cartões amarrados em fitas amarelas com frases de apoio para pessoas que pudessem estar enfrentando problemas emocionais. Desde então, o Setembro Amarelo tornou-se mundialmente um importante marco para conscientização, prevenção e educação à saúde mental.
No Brasil, a campanha foi idealizada pela Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) em conjunto com o Conselho Federal de Medicina (CFM) e Centro de Valorização da Vida (CVV) e todos os anos traz diversas reflexões e ações voltadas ao tema.
Em um cenário em que a depressão aumentou mais de 25% desde o início da pandemia, somando-se aos quase um bilhão de pessoas que já viviam com um transtorno mental no mundo, de acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), a data se transformou em uma importante aliada das empresas no que diz respeito ao bem-estar das equipes.
Por aqui, onde os transtornos mentais representam 96,8% dos casos de morte por suicídio, segundo a Sociedade Brasileira de Psiquiatria (SBP), o Setembro Amarelo ganhou ainda mais força dentro das organizações sendo um momento fundamental de conscientização sobre a importância da saúde mental dos colaboradores.
De acordo com Carolina Dassie, CEO da IVI, aplicativo que utiliza inteligência artificial para fazer a prevenção ativa a doenças mentais e promoção à saúde em ambientes corporativos, o tema nem sempre recebe a atenção que merece dentro das empresas e o número de pessoas afetadas por transtornos mentais cresce cada vez mais.
“As organizações precisam olhar com mais cuidado para a saúde emocional dos seus colaboradores, identificando aqueles que estão vulneráveis ou passando por alguma questão específica. O mais importante é ter empatia e acolher aqueles que estão precisando de apoio. É acima de tudo pegar na mão de quem sabe que precisa e de quem não percebe que precisa”, explica Dassie.
Abaixo, a especialista traz três reflexões sobre a importância do acolhimento dos colaboradores que precisam de suporte e apoio à saúde emocional.
Diferenciar o sentimento de tristeza e depressão
Muitas vezes nos questionamos sobre os nossos sentimentos, e, por vezes, diferenciar um sentimento de tristeza de um estado depressivo pode gerar muitas dúvidas. A tristeza é um sentimento que faz parte dos seres humanos, causado por uma condição situacional e passageira, como decepções, perdas e frustrações rotineiras.
A depressão, por sua vez, é um transtorno psiquiátrico, de caráter crônico, recorrente e prolongado, que pode durar meses ou anos e resultar em interferências e prejuízos na capacidade de realizar atividades cotidianas, vida social, relações profissionais e, principalmente, na produtividade.
A doença geralmente vem acompanhada de sintomas físicos e psicológicos como fadiga e cansaço, alterações no apetite e no peso, baixa autoestima, isolamento, angústia, perda de interesse por coisas rotineiras, pensamentos negativos, sentimento de culpa e dores físicas.
Por isso é fundamental que as empresas identifiquem aqueles que precisam de suporte, mas principalmente entender e saber diferenciar os transtornos.
Acolher é sobre empatia
O suicídio ainda é visto como um tabu na sociedade, não sendo amplamente discutido e, consequentemente, incompreendido. Assim, muitas vezes, acaba parecendo difícil saber identificar e acolher quem esteja precisando de ajuda. Existem inúmeros fatores que podem aumentar os riscos de uma pessoa decidir tirar a própria vida, transtornos mentais que, muitas vezes, não são diagnosticados ou tratados adequadamente, alcoolismo e abuso de outras drogas são apenas alguns. Por isso, falar sobre suicídio e saber escutar, é trabalhar com a prevenção.
Para poder ajudar alguém, uma atitude simples e essencial basta: olhar para o outro com empatia. Saber diferenciar uma tristeza comum de depressão, demonstrar interesse, estar aberto ao diálogo, permitir que o outro fique vulnerável e, sobretudo, manter sempre o contato próximo.
Não julgar
É preciso ter cuidado com o julgamento na hora da escuta, porque se você crítica e julga, você pode deixar a pessoa mais introspectiva. Assim, ela cada vez menos tende a pedir ajuda, e isso pode agravar o caso ao invés de prevenir uma possível situação.
A sociedade está acostumada com a cultura de trabalhar no curativo, e não no preventivo. Por isso, aprender e falar sobre prevenção é fundamental.
Quando estamos nos colocando à disposição para ajudar alguém, a primeira coisa a fazer é ouvir a pessoa. Não julgue a dor dela, escute. Pergunte como ela está, e não fale pelos próximos quinze minutos, deixe que ela fale o que está passando. Se você não sabe o que dizer, não diga nada. Apenas segure na mão da pessoa e dê carinho, pois é o que ela está precisando naquele momento.
Por Redação
Fonte: RH Pra Você