Conheça a controversa tendência adotada para seleções em grandes empresas.
Em meio à pandemia da Covid-19, que manteve várias equipes em home office e distanciamento social, uma nova tendência observada nos processos de recrutamento profissional tem ganhado cada vez mais espaço no mundo empresarial: o uso de softwares de inteligência artificial (IA) para análise e seleção de candidatos a vagas de emprego.
De acordo com a BBC News, o movimento já vinha crescendo nos últimos dez anos, com o aperfeiçoamento das tecnologias de IA, mas a demanda aumentou expressivamente desde a eclosão da crise sanitária internacional em 2020, graças à praticidade e celeridade do método, conforme o qual, em vez de avaliadores humanos, programas de computador promovem questionários e dinâmicas interativas online para examinar as personalidades e capacidades dos candidatos, decidindo por sua aprovação ou rejeição com base nos resultados obtidos.
“Todo mundo quer o emprego certo e quer contratar a pessoa certa. Usar esses sistemas de inteligência artificial de forma inteligente é uma vantagem para todos”, argumenta Frida Polli, fundadora da Pymetrics, empresa norte-americana cujo software de recrutamento já é utilizado nas primeiras etapas de processos seletivos de diversos grandes grupos, como McDonald’s e JP Morgan. Os aprovados nessa fase automatizada seguem para entrevistas com recrutadores humanos.
“Trata-se de ajudar as empresas a processar um grupo muito maior (de candidatos) e obter sinais de que alguém terá sucesso em um trabalho”, destaca a empresária, segundo a qual a ferramenta mede “de forma justa e precisa os atributos cognitivos e emocionais em apenas 25 minutos”.
Para Polli, o método também é superior à mera leitura de currículos. “Um currículo só pode fornecer informações sobre as habilidades técnicas de alguém (competências que podem ser adquiridas por meio de treinamento e experiência profissional), mas as pesquisas e o bom senso nos dizem que as habilidades pessoais (sociais, de comunicação e outras) também contribuem para o sucesso no trabalho”, acrescenta.
Mas segundo James Meachin, especialista em recrutamento da consultoria britânica de psicologia empresarial Pearn Kandola, as tecnologias de seleção via IA ainda têm desafios a superar, especialmente na análise correta do que os candidatos dizem ou escrevem. “Se um sistema de inteligência artificial puder transcrever com precisão o que está sendo dito, o segundo e maior desafio é detectar o significado embutido nessas palavras: a semântica, as nuances e o contexto. Isso é algo que os sistemas de inteligência artificial podem não entender. Por outro lado, um ser humano que escute a conversa compreenderá intuitivamente o que se quer dizer”, observa Meachin à BBC News.
Já Sandra Wachter, pesquisadora de IA na Universidade de Oxford (Reino Unido), atenta para a possibilidade dessas ferramentas favorecerem certos perfis com base nos históricos de seleções anteriores. “Todo aprendizado automático (machine learning) funciona da mesma maneira básica: revisa uma grande quantidade de dados e encontra padrões e semelhanças”, diz. “O risco é que, se não houver testes rigorosos, as mulheres e negros serão negligenciados”, completa a pesquisadora, cujas propostas de combate a vieses em sistemas de IA, tanto nas contratações quanto nas operações cotidianas das empresas, foram adotadas pela Amazon, que em 2018 decidiu abandonar sua própria ferramenta após se descobrir que esta favorecia homens que disputavam cargos na companhia.
(com informações da BBC News)
Fonte: Administradores.com