Toda empresa precisa de resultados diferenciados e de profissionais engajados para se destacar em um ambiente competitivo como o mercado atual. A cobrança por metas, resultados, entregas e produtividade tem sido uma constante em muitas empresas, mas até que ponto o excesso de demandas pode ser um tiro no pé? O trabalho excessivo pode acabar trazendo mais problemas do que soluções, por isso, nesse artigo te convido a refletir sobre como evitar que isso aconteça na empresa. Vamos lá?
O legado da pandemia
Com a pandemia todos sofremos diversas dificuldades e muita coisa mudou. Aprendemos a nos adaptar rapidamente a novos formatos de trabalho e a lidar com situações inusitadas e adversas quase que diariamente. Trabalhamos a resiliência, flexibilidade e inovação em uma velocidade nunca vista antes.
Isso foi um desafio gigantesco, mas também um momento de aprendizado intenso, embora não intencional. Com o advento do formato home office em larga escala, de um lado haviam as lideranças receosas quanto à produtividade e do outro profissionais preocupados em apresentar entregas 24 horas por dia, incluindo finais de semana, no intuito de não perderem seus empregos no caso do gestor entender que ele não “produzia tão bem” nesse novo formato.
Algumas empresas adotaram a prática de reuniões diárias, intensas e até mesmo improdutivas, às vezes só para ter a sensação de que não estavam distantes fisicamente ou para poder acompanhar bem de perto as atividades de suas equipes, exercendo de certa forma um estilo de gestão bastante desmotivador: o do microgerenciamento.
Acontece que isso gerou problemas, inclusive algo que ficou conhecido como “a fadiga do zoom”, um cansaço mental proveniente de reuniões imensas, com pouco ou nenhum intervalo, um termo que surgiu a partir de estudos da Universidade de Stanford nos Estados Unidos.
Essa sensação de mal-estar é sinal de um esgotamento por trabalho excessivo e pode levar a quadros ainda mais sérios como a síndrome de burnout, que segundo a OMS se trata de uma “síndrome resultante de um estresse crônico no trabalho que não foi administrado com êxito”.
Portanto, tornar o trabalho excessivo algo aceitável na empresa pode influenciar negativamente o bem-estar e a saúde mental das equipes.
Quais os aspectos negativos do trabalho excessivo na prática?
Além da questão da saúde mental, que é a mais grave do ponto de vista humano, temos outras situações em que o trabalho excessivo pode ser desfavorável:
Criatividade e inovação são competências essenciais no modelo de mercado atual. Ambas estão separando as empresas que decolam daquelas que morrem. Todavia, para que inovação possa surgir e a criatividade possa fluir é essencial um ambiente favorável, com autonomia e tempo para amadurecer ideias.
Um ambiente de cobrança excessivo, extremamente focado em metas e com prazos apertados certamente não permite que a inovação seja uma prioridade.
Talentos são disputados e quando percebem seu real valor tendem a escolher muito bem aonde querem seguir carreira. Costumam considerar vários aspectos ao decidir permanecer em uma determinada empresa. Portanto, qualidade de vida passou a ser um diferencial competitivo.
As empresas que apoiam, ainda que de forma sutil, uma postura de produtividade tóxica a partir do trabalho excessivo, certamente vão perder vantagem competitiva e sofrer danos em sua marca empregadora. A produtividade tóxica se caracteriza pela sensação de culpa quando não se está produzindo o tempo todo, como se fôssemos uma máquina, portanto isso não é saudável.
É importante estabelecer limites e também perceber quando a liderança está valorizando esse comportamento, que na verdade é totalmente desalinhado com bem-estar e produtividade, uma vez que com o passar do tempo a consequência pode ser a necessidade de afastamento desse colaborador por depressão, ansiedade, crise do pânico ou até o pedido de demissão dessa pessoa.
Excesso de demandas e trabalho excessivo pode significar que tudo que aparece é urgente, ou seja, o foco fica sempre no agora, em apagar incêndios. Isso deixa de lado planejamento e direcionamento futuro, o que pode prejudicar muito uma empresa.
Obviamente, em um ambiente onde a pressão é constante e o trabalho excessivo é algo valorizado e as relações tendem a sofrer impactos negativos. As pessoas ficam mais irritadas, agressivas e o clima organizacional pode ficar abalado.
Como lidar com o trabalho excessivo?
Na minha percepção, o “segredo” está no EQUILÍBRIO. Manter a entrega de resultados, mas de forma sensata, sem valorizar o trabalho excessivo. Está também no desenvolvimento de autoconhecimento que nos permite perceber até que ponto conseguimos atender as demandas e pressões e como reagimos a elas.
E está, certamente, no desenvolvimento de algumas competências, especialmente por parte da liderança, entre elas a inteligência emocional que nos ajuda a gerenciar as nossas emoções e as dos demais de forma mais produtiva, exercendo empatia e priorizando um estilo de gestão mais inspirador, o da liderança humanizada.
Também é sábio fazer uma boa gestão do tempo na sua equipe, perceber os gaps nesse aspecto, redirecionar demandas, estabelecer prioridades, automatizar o que for possível, delegar tarefas, evitar reuniões intermináveis e improdutivas e valorizar o bem-estar que não é alcançado quando se tem demandas exageradas e trabalho excessivo, mal distribuído e mal gerenciado.
Outras estratégias positivas são: propor ações de bem-estar com o sessões de shiatsu, por exemplo, criar um ambiente mais harmônico onde as pessoas possam interagir e falar sobre coisas não relacionadas ao trabalho, ouvir as necessidades das pessoas, melhorar a comunicação interna, ter algum tipo de canal aberto na empresa para as pessoas poderem trocar sobre ansiedade, estresse, saúde mental, incentivar a prática de exercícios ou técnicas de relaxamento e realmente tentar respeitar ao máximo a jornada de trabalho acordada entre empresa e colaborador.
Entendendo que esse equilíbrio entre vida pessoal e profissional é a forma mais saudável e assertiva de buscar resultados para a empresa, sem prejudicar sua maior vantagem competitiva: os seres humanos.
Fonte: RH Portal