É hora de refletir quais têm sido os impactos nos negócios, o quão longe chegamos, o que aprendemos e como devemos continuar a navegar neste cenário de recuperação e reconstrução
Há um ano, a Organização Mundial da Saúde decretava a pandemia do novo coronavírus. Lá no início de 2020, pouco se sabia sobre o que estava por vir: um ano de oscilações, desafios, novos aprendizados de negócios e turbulência econômica. Tudo permeado por uma incômoda sensação de incerteza compartilhada, enquanto o mundo ficava ansioso com o surgimento da COVID-19.
O ano passado abalou a maioria dos setores de alguma forma, alguns para pior, outros para melhor. E embora a pandemia ainda não tenha acabado, a COVID-19 continua sendo – acredito que em alta escala – a responsável por grandes quebras de paradigmas, na nossa vida pessoal e profissional. Sozinha, ela alterou a nossa forma de viver e trabalhar, além de promover transformações na economia ao redor do mundo.
Sem deixar de ser realista, estou confiante com relação aos próximos meses, por percepção própria, dados de um recente estudo que fizemos – Demanda Por Talentos no Cenário Atual – e conversas diárias com profissionais de diferentes níveis hierárquicos. Por isso, decidi compartilhar com vocês um pouco mais do que tenho refletido:
Pandemia: quatro aprendizados dos últimos 12 meses
1) Estamos mais resilientes
A pandemia afetou rapidamente a confiança dos líderes e as perspectivas de crescimento das organizações. Em todos os lugares, literalmente da noite para o dia, muitas empresas precisaram paralisar ou readequar suas operações de uma forma brusca, sem precedentes. A resiliência das pessoas e dos negócios se tornou uma missão crítica. Neste contexto, líderes e liderados entenderam na prática a importância da agilidade, adaptabilidade e inovação ao direcionar a rotina e os planos.
Felizmente, a confiança nos negócios está voltando. Embora a incerteza ainda persista, um ano após o início da pandemia, 88% dos 300 líderes entrevistados pela Robert Half afirmam terem algum nível de confiança com relação ao crescimento das empresas na qual atuam, no primeiro semestre de 2021.
2) O trabalho remoto e híbrido deixou de ser apenas tendência
Quase todos os líderes brasileiros entrevistados pela Robert Half (95%) acreditam que as equipes híbridas, composta por colaboradores que trabalham remotamente e no escritório, se tornarão cada vez mais comuns no cenário de emprego. Para esses líderes, o novo modelo de trabalho beneficia o negócio com a oportunidade de oferecer mais flexibilidade e qualidade de vida ao colaborador, redução de custos com a estrutura física do escritório, produtividade e agilidade, além de acelerar a transformação digital.
Aos que pensam em implementar o home office de maneira definitiva, sugiro, antes, refletirem sobre os prós e os contras desse novo modelo de operação. No levantamento que fizemos, por exemplo, os líderes destacaram que gerir equipes híbridas envolve cinco desafios prioritários: controlar a jornada de trabalho; manter a atualização do time quanto às novas soluções de tecnologia, avaliar o bem-estar e a saúde mental dos funcionários, garantir a contratação de candidatos com novos conjuntos de habilidades e testar a própria capacidade de gestão à distância.
3) As práticas de recrutamento evoluíram
As práticas de recrutamento, que sempre dependeram muito de interações pessoais, se adaptaram rapidamente. Só assim pode-se atender às demandas de contratação e integração de empresas ansiosas por garantir os candidatos certos em um mercado tão competitivo. Após o final da pandemia, 92% dos 387 líderes entrevistados acreditam que os processos seletivos permanecerão híbridos, conforme aponta a 14ª edição do Índice de Confiança da Robert Half. Neste quesito, o ponto de atenção é manter boas práticas para vencer a frieza das etapas remotas.
Mesmo durante a pandemia, muitas empresas continuam contratando devido ao aumento das atividades consideradas essenciais para a sobrevivência das pessoas e dos negócios. As equipes de tecnologia, por exemplo, cresceram de maneira acelerada, impulsionadas pela digitalização das operações; enquanto as equipes financeiras, orientadas por dados, também foram essenciais para o planejamento e a preparação de estratégias de negócios. As equipes de RH, por sua vez, precisaram lidar com excesso de carga de trabalho, seja por contratações, demissões, suporte ao bem-estar dos colaboradores, mudanças nas políticas internas ou protocolos de saúde.
4) Habilidades comportamentais tornaram-se vitais
O ano de 2020 nos mostrou que mudança é a única constante real. Essa realidade evidenciou ainda mais a importância de valorizar as habilidades comportamentais dos colaboradores tanto quanto as qualificações técnicas. Noto que muitas empresas encontraram novas maneiras de apoiar e encorajar valores essenciais no time, como colaboração, engajamento, produtividade e inovação. Sem dúvida, essas características não foram apenas cruciais para sobreviver à pandemia, mas também estão ajudando a preparar os funcionários para o futuro do trabalho, que provavelmente será baseado em ambientes mais solidários, empáticos e inclusivos.
O que podemos esperar de 2021?
Este ano continuará sendo de recuperação e reconstrução. Vejo que algumas prioridades estratégicas começam a se traduzir em novos projetos e novas iniciativas. Noto claros sinais de que existem oportunidades tanto para empresas quanto para profissionais de talento, apesar dos desafios e turbulências relacionados à pandemia.
Embora a redução de custos e o equilíbrio de orçamentos continuem sendo prioridades para muitos líderes de negócios, as empresas também estão vendo oportunidades de crescimento ao implementar iniciativas para aumentar a eficiência e impulsionar a competitividade. Na pesquisa que fizemos, 33% dos líderes pretendem contratar e apenas 1% planeja reduzir o quadro.
De acordo com nossa pesquisa, os CIOs estão priorizando iniciativas de segurança cibernética, Big Data, transformação digital, inovação e novas tecnologias, prioritariamente na nuvem. Já os CFOs estão focados em automatizar processos, atendendo aos padrões de relatórios financeiros e contábeis, análise de dados e requisitos regulamentares.
A tendência é que haja também o aumento da demanda por especialistas em segurança cibernética, engenheiros de sistemas e de nuvem, além de desenvolvedores, à medida que aceleram a transformação digital. Da mesma forma, os profissionais de finanças, que atuam como business partner, serão essenciais para ajudar os líderes das empresas a prever e aumentar a eficiência do negócio, enquanto desenvolvem estratégias ágeis. Planejadores financeiros, gerentes de análise, analistas de negócios e gerentes de projeto também serão muito procurados na área de Finanças.
Períodos de crise: seis maneiras de apoiar a equipe
O surgimento da Covid-19 no início de 2020 marcou o início de muito aprendizado dentro das organizações, acompanhada da união de líderes e força de trabalho para superar os muitos e variados obstáculos. Como o desafio ainda não terminou, sugiro algumas boas práticas para que os gestores continuem contando com o apoio da equipe nos próximos meses:
Ofereça treinamentos e aprendizagens virtuais
Ainda que o orçamento da organização esteja limitado, busque alternativas para oferecer aos colaboradores cursos on-line, que permitam a eles desenvolver ou aperfeiçoar habilidades técnicas e comportamentais. Existem ótimas opções no mercado. Algumas com preços mais acessíveis.
Estimule o equilíbrio entre vida pessoal e profissional
Incentive os colaboradores – principalmente os que atuam em home office – a ter uma rotina de trabalho saudável, com hora para iniciar e terminar o expediente. Ressalte a importância da pausa para o almoço e do descanso aos finais de semana. Afinal, colaborador que tem pausas de qualidade, tende a voltar para o trabalho mais criativo.
Mantenha atenção à sobrecargas de trabalho
Caso note sobrecarga na equipe, veja se há má administração do tempo ou se é necessário aumentar a equipe. Se a questão for falta de mão de obra por uma demanda pontual ou emergencial, um profissional temporário costuma ser uma excelente opção para aumentar a equipe sem inflar o quadro de colaboradores permanentes.
Mapeie o bem-estar e a saúde mental da equipe
Nem todas as pessoas estão lidando bem com os reflexos da pandemia. Algumas estão passando por questões pessoais delicadas. Outras, por preferirem trabalhar no ambiente formal, estão atuando forçadamente no home office. Considerando tudo isso, ainda que virtualmente, aproxime-se mais da sua equipe. Com sensibilidade, avalie os sentimentos de cada um e identifique quando é hora de prestar algum apoio extra, nem que seja um simples bate-papo.
Demonstre interesse pelas metas de carreira dos colaboradores
Não deixe de promover as tradicionais reuniões de feedback. Nessa conversa, além de apresentar os pontos fortes e de melhoria da jornada do colaborador, abra espaço para conversas sobre plano de carreira, além de desejos e necessidades profissionais do funcionário. Conversas realistas, gentis e acolhedoras tendem a aumentar o engajamento, a produtividade e a lealdade do colaborador.
Cuide de si mesmo para poder ajudar os outros
Tenho visto muitos líderes com sobrecarga de trabalho e pressões, o que é natural em momentos como o que estamos vivendo. Então, não descuide do seu bem-estar físico, mental e emocional. Assim, você terá melhores condições para cuidar do seu time.
A incerteza, as recessões e as mudanças nas metas de 2020 exigiram níveis sem precedentes de agilidade, resiliência e perspicácia de planejamento em empresas e nos profissionais. Aqueles que seguirem atentos aos movimentos do mundo corporativo, com disposição para fazer ajustes em seus perfis, provavelmente estarão mais bem posicionados para abraçar as novas oportunidades e os desafios que vêm pela frente.
*Por Fernando Mantovani
Fonte: Exame