As empresas de publicidade se vangloriam de poder ouvir as conversas pelas smart TVs e smartphones. Se isso for verdade, como é possível evitar ser espionado?
Rumores de espionagem de dispositivos inteligentes já circulam há muitos anos. Sem dúvida, você já ouviu uma ou duas histórias sobre alguém que estava conversando, digamos, sobre a nova máquina de café no trabalho, e depois foi bombardeado com anúncios on-line de (é isso mesmo!) máquinas de café. Já testamos essa hipótese e concluímos que os anunciantes não estão espionando. Eles têm muitas outras formas menos dramáticas, mas muito mais eficazes, de segmentar anúncios. Mas talvez os tempos estejam mudando? Foram divulgadas notícias recentemente (aqui e aqui) sobre duas empresas de marketing supostamente se vangloriando de oferecer anúncios direcionados de acordo com essa espionagem. É verdade que as duas empresas retiraram posteriormente o que disseram e removeram as declarações relevantes dos seus sites. Mesmo assim, decidimos analisar a situação de uma nova forma.
O que as empresas alegaram
Em ligações com clientes, podcasts e blogs, a CMG e a Mindshift contaram praticamente a mesma história, embora sem detalhes técnicos: smartphones e smart TVs supostamente as ajudam a reconhecer predeterminados palavras-chave nas conversas das pessoas, que são, então, usadas para criar públicos personalizados. Esses públicos, na forma de listas de números de telefone, endereços de e-mail e IDs de publicidade anônima, podem ser carregados em várias plataformas (desde o YouTube e Facebook, passando pelo Google AdWords, até o Microsoft Advertising) e são aproveitados para direcionar anúncios aos usuários.
Se a segunda parte sobre o carregamento de públicos-alvo personalizados parece bastante plausível, a primeira é mais do que nebulosa. Não está claro nas declarações das empresas quais aplicativos e quais tecnologias elas usam para coletar informações. Mas na longa (agora excluída) postagem do blog, a seguinte passagem não técnica se destacou acima de tudo: “Sabemos o que você está pensando. Isso é legal? É legal que telefones e dispositivos escutem você. Quando o download ou atualização de um aplicativo solicita aos consumidores um contrato de termo de uso de várias páginas, em algum lugar nas letras miúdas, a Escuta Ativa geralmente está incluída.”
Depois de ser incomodada por jornalistas, a CMG removeu a postagem de seu blog e emitiu um pedido de desculpas/esclarecimento, acrescentando que não há espionagem envolvida e que os dados de segmentação são “originados por mídias sociais e outros aplicativos.”
A segunda empresa, a Mindshift, apagou silenciosamente todas as mensagens de marketing sobre essa forma de publicidade de seu site.
Quando elas mentiram?
Claramente, os profissionais de marketing “não souberam se comunicar” com os seus clientes em anúncios promissores ativados por voz ou para a mídia. Muito provavelmente, o caso já havia acontecido anteriormente; aqui está o porquê:
Ao contrário da crença popular, a receita anual das plataformas de publicidade por usuário é bem pequena: menos de 4 dólares na África, cerca de 10 dólares em média em todo o mundo e até 60 dólares nos EUA. Como esses números se referem à renda, e não ao lucro, simplesmente não existe dinheiro sobrando para espionagem. Os que duvidam são convidados a estudar, por exemplo, os preços do reconhecimento de fala do Google Cloud: mesmo com a taxa de atacado mais reduzida (mais de dois milhões de minutos de gravações de áudio por mês), a conversão de fala em texto custa 0,3 centavos de dólar por minuto. Assumindo um mínimo de três horas de reconhecimento de fala por dia, o cliente teria que gastar cerca de 200 dólares por ano em cada usuário individual, o que é muito, mesmo para as empresas de publicidade dos EUA.
E quanto aos assistentes de voz?
Dito isso, o raciocínio acima pode não ser verdadeiro para dispositivos que já ouvem comandos de voz devido à natureza de sua finalidade principal. Em primeiro lugar estão os alto-falantes inteligentes e os smartphones com assistentes de voz permanentemente ativados. Dispositivos menos óbvios incluem smart TVs que também respondem a comandos de voz.
De acordo com a Amazon, a Alexa está sempre ouvindo a palavra de ativação, entretanto, apenas depois de ouvi-la é que grava e envia os dados de voz para a nuvem. Quando a interação com o usuário termina, ela para de enviar os dados. A empresa não nega que os dados da Alexa sejam usados para a segmentação de anúncios, e estudos independentes confirmam isso. Alguns usuários consideram essa prática ilegal, mas o processo movido contra a Amazon ainda está em andamento. Enquanto isso, outra ação movida contra a Amazon pela Comissão Federal de Comunicações dos EUA resultou em um acordo modesto de 30 milhões de dólares. A gigante do comércio eletrônico foi condenada a pagar por não excluir os dados infantis coletados pela Alexa, em violação direta da Lei de Proteção à Privacidade Online das Crianças dos EUA (COPPA). A empresa também está impedida de usar esses dados coletados ilegalmente para fins comerciais, particularmente os algoritmos de treinamento.
E há muito tempo é um segredo aberto que outros fornecedores de assistentes de voz também coletam dados de interação do usuário: aqui estão os detalhes da Apple e do Google. De vez em quando, essas gravações são ouvidas por pessoas vivas para resolver problemas técnicos, treinar novos algoritmos e assim por diante. Mas elas são usadas para segmentar anúncios? Alguns estudos confirmam essas práticas por parte do Google e da Amazon, embora seja mais um caso de uso de pesquisa por voz ou histórico de compras, em vez de espionagem constante. Quanto à Apple, não houve ligação entre os anúncios e a Siri em nenhum estudo.
Não encontramos um estudo dedicado aos comandos de voz das smart TVs, mas sabemos há muito tempo que esses aparelhos coletam informações detalhadas sobre o que os usuários assistem, incluindo dados de vídeo de fontes externas (reprodutor de discos Blue-ray, computador e assim por diante). Não se pode descartar que as interações de voz com o assistente integrado também sejam usadas mais extensivamente do que se gostaria.
Como ficar protegido contra phishing
Fonte: Blog Kaspersky