Nos anos 1990, ano em que a internet começou a se profissionalizar no Brasil e os computadores pessoais se tornavam cada vez mais comuns nos escritórios, o gerente de um departamento de desenvolvimento de produtos numa empresa brasileira decidiu que aquelas máquinas não fariam parte do seu cotidiano.
Hoje, a atitude do líder pode parecer insana, mas ainda hoje não são poucos os líderes que adotam esse tipo de postura diante de uma inovação ou nova tecnologia. Não foram poucas as modas tecnológicas daquela década que desapareceram rapidamente.
No entanto, sem um computador, o fluxo de informação entre o departamento de desenvolvimento de produtos e o restante da empresa — que já instalara computadores em outras salas — ficou prejudicado. As mensagens destinadas ao gerente precisavam ser encaminhadas ao computador da sua secretária, que imprimia os e-mails e os entregava para posterior despacho. Com isso, atrasos nas entregas de produtos se tornaram mais comuns, resultando em perda de vantagem competitiva.
“Outra situação, mais recente, foi presenciada em uma indústria onde a liderança não considerava as ideias dos colaboradores para solução de problemas ou melhoria de processos”, conta o especialista em gestão de projetos e consultor do Sebrae/RJ, Sergio Dias. “O resultado foi a desmotivação dos colaboradores e o aumento dos custos de produção”, finaliza.
As duas situações demonstram que líderes com mentalidade conservadora, avessos à inovação e com receio de qualquer ameaça ao status resistem ao tempo. Esse tipo de comportamento é conhecido em empresas de qualquer setor — qualquer profissional poderia resgatar da memória uma situação onde a liderança agiu da maneira mais retrógrada possível diante das opções que estavam à mesa e prejudicaram suas equipes e empresas.
“No Brasil, a cultura da inovação ainda é pouco difundida e a de formação de líderes com viés de inovação menos ainda. Existem esforços de entidades de apoio à empresas para que essa disseminação de cultura seja acelerada e difundida, principalmente entre as empresas de médio e pequeno portes, onde esse problema é mais acentuado”, explica Dias.
Marcelo Egéa, sócio-diretor da consultoria Ser Total, lembra que a maior fatia das empresas brasileiras tem entre um e cinco funcionários. “Somente há alguns anos o empreendedorismo entrou no vocabulário do brasileiro. Esses pequenos negócios, a maioria de subsistência, está bem distante dessa realidade de valorizar a inovação como conceito”, conta.
No entanto, para que essas empresas superem a alta taxa de mortalidade — apenas 37,8% superam a marca dos cinco anos de sobrevivência, de acordo com o último levantamento Demografia das Empresas, do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) — adotar uma postura diferente em relação à inovação é fundamental.
De acordo com o estudo global Best Companies for Leadership, da consultoria Hay Group, as empresas de ponta buscam líderes com foco absoluto no cliente, capacidade de gerenciar situações complexas e habilidade para conduzir processos de inovação.
“É um grande esforço de pensar e fazer diferente, de lutar com questões culturais e comportamentos já arraigados”, afirma Egéa. Ele destaca, como exemplo, as empresas que nascem com “espírito empreendedor”, que colocam a tecnologia no centro da estratégia empresarial.
“Esses empresários, na sua maioria jovens ainda universitários ou recém-graduados, já criam suas empresas olhando inovação como o coração de seus negócios”, diz.
Líderes e inovação
A primeira coisa que empresas decididas a inovar devem fazer é dar atenção à liderança: colocar pessoas, seja de dentro, seja uma contratação externa, para conduzir pessoas e processos de maneira eficaz.
“Eu não diria que o líder é o responsável master pela inovação. Digo que ele é o multiplicador dessa inovação. Ou seja, ele tem papel de incentivar os desdobramentos dessa inovação. Mas inovar é algo cooperativo e que cresce com a união de várias ideias e potenciais reais de aplicação delas”, defende Augusto Jimenez, psicólogo e CEO da Minds Idiomas.
“O líder deve ser referência em alguma situação. E em relação a inovação não pode ser diferente. Ele pode não ter o expertise, mas deve demonstrar que o futuro da organização depende de inovar constantemente”, pontua Marcelo Lico, Especialista em Governança Corporativa e Sócio-Fundador da consultoria Crowe Horwath. “Temos percebido uma evolução no pensamento dos empresários e líderes empresariais no sentido de inovar. Inovação é um caminho sem volta”, afirma.
William L. McKnight foi um dos mais importantes líderes da indústria norte-americana 3M, tendo sido responsável por consolidar a cultura de inovação da companhia e implementar revoluções na gestão de negócios na primeira metade do século XX. Foi contratado como guarda-livros em 1.907 e assumiu responsabilidades crescentes até se tornar presidente da companhia em 1.929 e finalmente, “chairman of the board” de 1949 até 1966. Alguns princípios de William McKnight norteiam a 3M e muitos dos seus líderes até hoje:
– Conforme florescem os negócios, é necessário que se delegue responsabilidade e que se encoraje os funcionários a exercitar suas próprias iniciativas.
– Contrate bons funcionários e deixe-os trabalhar com liberdade, desde que sigam as políticas da companhia.
– Erros serão cometidos e devem ser tolerados, pois se o gerenciamento age de forma intolerante e ditatorial, estará matando a iniciativa dos funcionários.
Se você é um líder ou pretende ser, precisa evitar certas atitudes em relação à inovação, sob pena de ser destituído por falta de resultados e por abrir espaço para a concorrência.
As atitudes prejudiciais do líder:
1. Ter medo, desconfiança ou hesitação diante da inovação ou do desconhecido
Adotar uma postura cética ou agressiva diante de uma proposta para inovar em produtos ou processos, ao contrário do que parece, pode ser confortável para alguns líderes. Mas esse conforto tem seu preço. Para Sergio Dias, o líder deve “saber lidar com o nível de volatilidade e incerteza que o mundo está vivendo, em função das mudanças trazidas pela globalização e pela tecnologia”. Não há espaço para hesitações.
“No bestseller A Lógica do Cisne Negro, Nassim Nicholas Taleb descreve de forma brilhante a cegueira que embaça a nossa visão criativa: o passado. O passado parece trazer lições imutáveis, mas é uma ilusão. Quando algo inesperado acontece, nossa reação natural e humana é buscar um sentido, justificar e tentar provar que os indícios já estavam presentes e poderiam ter sido vistos por alguém mais atento. É apenas uma ilusão, um artifício racional que nos faz sentir mais seguros”, explica Egéa.
2. Impedir que a equipe proponha mudanças
“Todos têm algo a agregar para o desenvolvimento da inovação empresarial”, assegura Jimenez. Erguer uma barreira entre a liderança e a equipe é a receita certa para o fracasso, especialmente em uma época em que a inteligência emocional tem papel central no desempenho dos profissionais. “O líder precisa ter o equilíbrio das duas coisas: conhecimento e saber lidar com pessoas”, diz.
“Em qualquer posição em que você esteja, é possível ter uma atitude que facilite a inovação. A mais importante delas é abrir intencionalmente um espaço na sua agenda diárias para ouvir pessoas que estejam completamente fora do seu universo de trabalho, sem barreiras ou críticas”, explica Egéa.
Para Sérgio Dias, além de manter uma boa comunicação com a equipe, o líder deve “ter habilidades para liderar e estimular os colaboradores para a inovação. Ter capacidade de agregar pessoas e saber criar condições para a interação entre elas independente da hierarquia”.
3. Não estudar nem se atualizar constantemente
Estudos e leitura nunca são excessivos. É certo que não somos capazes de absorver todo o conhecimento produzido diariamente — seja como profissional ou como líder. Mas não existe outro caminho para ser melhor no que faz. “Parece clichê, mas o mundo digital se atualiza diariamente. Logo, a primeira ação que esse líder tem que ter é continuar estudando as atualizações desse mundo digital”, enfatiza Jimenez.
Fonte: Administradores