Com a possibilidade de acessar informações diretas do cérebro, o controle da empresa sobre a vida digital das pessoas pode atingir um novo nível
A Meta deu um passo significativo no desenvolvimento de interfaces cérebro-computador (BCIs, na sigla em inglês), conseguindo decodificar frases não faladas a partir da atividade cerebral sem a necessidade de cirurgia. A pesquisa, conduzida pelo laboratório FAIR (Fundamental Artificial Intelligence Research) da empresa, marca um avanço na criação de dispositivos vestíveis e removíveis, o que pode abrir caminho para futuras aplicações comerciais.
O experimento utilizou magnetoencefalografia (MEG), um método que mede campos magnéticos gerados pelos neurônios, e eletroencefalografia (EEG), que capta sinais elétricos do cérebro. Combinando essas tecnologias com inteligência artificial, os pesquisadores conseguiram interpretar com até 80% de precisão o que os participantes estavam digitando.
Embora ainda esteja restrita ao ambiente laboratorial, a tecnologia sugere que os dispositivos de leitura mental vestíveis podem estar mais próximos da realidade do que se imaginava. No entanto, o avanço levanta preocupações éticas e de privacidade, já que o controle de tais dados por empresas como a Meta pode representar uma ameaça à liberdade cognitiva.
Como funciona a leitura mental da Meta?
Até recentemente, decodificar a fala não pronunciada exigia implantes cerebrais invasivos. Mas a pesquisa da Meta mostrou que é possível realizar essa tarefa de forma não invasiva, utilizando sensores externos.
O estudo envolveu 35 voluntários, que digitavam frases enquanto estavam conectados a scanners de MEG ou a eletrodos de EEG fixados no couro cabeludo. Com essas informações, um modelo de IA foi treinado para correlacionar padrões cerebrais a letras digitadas, permitindo prever frases completas.
O modelo também foi treinado com artigos da Wikipédia, o que ajudou a prever palavras no contexto certo, corrigindo possíveis erros de interpretação.
Os resultados foram promissores:
Apesar das limitações atuais, a tecnologia sugere que, no futuro, capacetes ou faixas vestíveis poderão permitir a digitação apenas com o pensamento.
O desafio ético e o risco da colonização da mente
A Meta, assim como outras gigantes da tecnologia, já coleta grandes volumes de dados sobre os usuários. Com a possibilidade de acessar informações diretas do cérebro, o controle da empresa sobre a vida digital das pessoas pode atingir um novo nível.
A principal preocupação é a falta de regulamentação para proteger os dados neurais. Diferentemente de senhas ou históricos de navegação, a atividade cerebral contém informações sensíveis sobre intenções, emoções e até vulnerabilidades psicológicas.
Se a tecnologia for implementada sem salvaguardas adequadas, é possível que, no futuro, trabalhadores sejam pressionados a usar dispositivos que leem pensamentos para aumentar a produtividade, tornando o uso dessas interfaces um pré-requisito para certas profissões.
Especialistas já alertam para a necessidade de leis específicas para proteger a privacidade cognitiva, garantindo que nenhuma empresa tenha acesso irrestrito aos pensamentos de seus usuários.
O futuro da interação cérebro-máquina
Embora a Meta afirme que seu objetivo é melhorar a comunicação para pessoas com dificuldades motoras ou de fala, é inegável que a tecnologia também pode ser usada para monetizar informações cerebrais.
O que pode acontecer nos próximos anos?
A corrida pela interface cérebro-computador comercial está apenas começando. Enquanto Elon Musk avança com a Neuralink, apostando em chips implantáveis, Zuckerberg pode estar mais perto de lançar uma solução acessível e removível.
A questão agora não é se essa tecnologia chegará ao mercado, mas como ela será usada – e se teremos proteção suficiente contra empresas que querem transformar até nossos pensamentos em dados lucrativos.
Fonte: Administradores