Trabalho híbrido segue sendo a aposta do mundo corporativo, exigindo mais adaptações por parte de empresas e profissionais.
A Covid-19 gerou diversos impactos nos negócios. Pessoalmente, a grande lição que extraí nestes intensos meses de pandemia – como profissional e líder de uma organização – foi a necessidade de quebrar paradigmas para evoluir e se destacar. No meu entender, depois de tudo o que passamos e das mudanças que fomos obrigados a fazer, não há mais espaço no universo corporativo para rejeitar ideias ou resistir à inovações sem um justo argumento. Reinvenção, sem dúvida, é uma das palavras de ordem na atualidade.
Quando imaginaríamos, por exemplo, que áreas administrativas inteiras de uma companhia seriam colocadas em home office da noite para o dia, com seus desafios e benefícios? De onde veio a coragem para desburocratizar processos delicados, propor reuniões à distância para clientes mais conservadores ou firmar acordos importantes de maneira digital, sem a assinatura de contratos em papel que muitos julgavam tão indispensáveis? E, o que dizer do sucesso das contratações 100% remotas? Repentinamente, ganharam força ferramentas e tecnologias para resolver grande parte das nossas necessidades pessoais e profissionais.
Trabalho híbrido: o novo desafio de líderes e liderados
Em muitas empresas, sem dúvida, um dos principais desafios de 2020 para líderes e liderados foi o trabalho remoto, com muitas adaptações relacionadas à gestão remota, integração da equipe e pessoas ingressando na empresa já em home office. Agora, o olhar deve ser para uma nova realidade que deve cair no gosto dos profissionais em pouco tempo: o trabalho híbrido, com parte da equipe atuando nas instalações da empresa, enquanto um outro grupo trabalha de onde for mais conveniente, em escala fixa ou rotativa.
Três cuidados para adotar o trabalho híbrido
Quando o trabalho remoto virou realidade em massa, as organizações promoveram diversos ajustes, de métodos, processos, tecnologias e cultura. Agora, com o modelo híbrido, novos desafios surgem. E, nesse momento, sugiro que as organizações se atentem a três pontos sensíveis para garantir a eficiência da operação:
1) As necessidades da empresa
A ideia é fazer um mapeamento para entender a realidade da empresa. Quais cargos são elegíveis ao trabalho remoto? Destes quais precisam comparecer à empresa em algum período da semana ou do mês? Como será essa escala? Dentro desse formato, quais otimizações de espaço podem ser feitas no escritório? Há necessidade de ter todas as posições de trabalho ativas ou apenas uma parte delas já é suficiente? Há algo que precisa ou pode melhorar nas condições de trabalho dos profissionais que estiverem atuando remotamente? Considerando esse novo momento, quais são as estratégias da empresa para que a cultura organizacional não se perca?
2) O perfil da equipe
Para manter ou aumentar a produtividade e o nível das entregas em formato híbrido, a empresa precisa ser formada por profissionais organizados, independentes, dinâmicos, criativos, com grande habilidade para se comunicar – por fala e escrita – e lidar com processos e ferramentas digitais. Autogerenciamento também é uma habilidade muito importante, já que o líder e a equipe estarão fora do campo de visão. Habilidades técnicas também devem ser avaliadas de perto.
3) Os gaps na liderança
A gestão remota pede mais empatia e menos clima sufocante. A questão é que nem todos os líderes estão preparados para não trabalhar ao lado da equipe. Alguns, por exemplo, ainda não conseguem abrir mão do microgerenciamento, um dos erros mais comuns dos gestores. Por isso, recomendo que as equipes de RH das companhias façam dois mapeamentos: um para entender se os líderes precisam de algum apoio para adequar o seu estilo de liderança ao novo momento; e outro para apurar como está o nível de satisfação do time em relação a esse comando.
Acredito que nós, como profissionais e seres humanos, sempre podemos evoluir muito. O segredo é ter sempre atenção aos paradigmas que criamos, incentivamos ou resistimos a quebrar. Ter pensamentos e atitudes ágeis e flexíveis é muito do que o mercado de trabalho espera ver em um profissional hoje e daqui para frente.
Por Fernando Mantovani
Fonte: Exame