As mudanças rápidas e desafiadoras com as quais as organizações estão se deparando nos tempos atuais, muito em razão da mudança do ambiente competitivo e do comportamento dos consumidores, tem levado muitas delas a se reinventar.
E isso requer a agilidade necessária para alcançar todos os objetivos de negócios. Isso passa, invariavelmente, pela adoção maciça de inovação e tecnologia, seja para desenvolver ou aperfeiçoar produtos, seja para oferecer serviços.
Um grande ponto de inflexão, porém, é que, para ser ágil, não basta contar com as ferramentas adequadas. É preciso ir além, modificar processos e adaptar a mentalidade da cultura corporativa.
Esse ponto da mudança cultural já tem sido apontado como a principal lacuna a ser preenchida nas organizações. Uma pesquisa divulgada recentemente pela Robert Half, em parceria com o Núcleo de Estudos de Comportamento Organizacional e Gestão de Pessoas do Insper, indicou que a falta de investimentos em capital humano e a dificuldade de promover mudanças de cultura e modelos de gestão de trabalho são os principais entraves no processo de transformação digital das empresas brasileiras.
O mesmo estudo diz que, para os executivos, mudar a cultura é o desafio organizacional que 37% das empresas de médio porte estão menos preparadas para enfrentar. Adequar o modelo de gestão e trabalho é o desafio que mais preocupa 32% das empresas de pequeno porte e 35% das empresas de grande porte. Percebe-se que é um desafio que independe do porte da companhia, e que precisa ser ampliado como uma nova forma de pensar em agilidade nas companhias.
É justamente esse o papel do método ágil na transformação da cultura das organizações. Deixar de ter a mentalidade de comando e controle, para implementar um ambiente colaborativo, de experimentação e rápidas mudanças, é o que definirá o sucesso nas estratégias de negócios.
Só assim será possível ter entregas rápidas, com melhorias contínuas, sempre alinhadas às necessidades do mercado e dos consumidores. Pois quem define o que é bom para a empresa é o cliente. E ele exige experiências satisfatórias cada vez mais rápido.
O desafio não é fácil. Descentralizar o modelo de gestão, especialmente em empresas que possuem o que chamamos de “silos”, está longe de ser trivial. Muito pelo contrário. Mas o ponto que deve ser ressaltado é que essa transformação deve ser feita com base na mudança do ideal de construção do propósito de negócio para o futuro.
Como exploraram Darrell Rigby, Sarah Elk e Steve Berez, líderes das práticas de Inovação, Ágil, Modelo Operacional e Tecnologia Corporativa da consultoria Bain & Company, no livro Doing Agile Right, é preciso desconstruir a ideia de que as organizações devem remodelar seus modelos de gestão de uma só vez, por exemplo, ou que o ágil deve ser usado de maneira generalizada, em todas as funções e em todos os tipos de trabalho.
Na verdade, os times e as lideranças, que são pontos-chave nas companhias, devem fazer uma leitura precisa das áreas que mais podem se beneficiar de início desse modelo.
A despeito dos desafios, a mudança de mentalidade passa pela clareza das lideranças, em como deve ser estabelecida a organização das áreas, que podem ser intituladas de squads. Na prática, isso significa um ganho de poder, liberdade, autonomia e, acima de tudo, de responsabilidade dos times.
Para produtos ou até mesmo negócios que sejam colaborativos e multidisciplinares, atuando de maneira conjunta e integrada em estratégia, design, engenharia e operação. Isso substitui o modelo de microgerenciamento.
Além disso, gostaria de destacar outros pontos que são muito importantes na implementação de um modelo ágil nos times:
As equipes ágeis usam sprints não para fazer as pessoas trabalharem mais ou mais rápido. Mas, sim, para obter o retorno de seus clientes com mais velocidade.
As empresas precisam mais do apenas mudanças estruturais para quebrar as hierarquias. As empresas devem usar métodos ágeis para determinar quão ágeis devem ser.
Para os times ágeis, os planos são hipóteses testáveis, a ser adaptadas ao longo do tempo.
Os times à frente dos projetos possuem o melhor entendimento das necessidades dos clientes e devem ter autonomia para impulsionar a inovação.
As práticas ágeis podem começar em qualquer nível da organização, porém, as lideranças devem estar comprometidas com a sua criação.
Em suma, para ter uma companhia alinhada com a agilidade, acompanhando o passo das rápidas inovações, é preciso, antes de tudo, uma mudança cultural. O momento atual, durante a crise da covid-19, fez com que o passo da aceleração tecnológica alcançasse um patamar nunca visto antes.
Embora muitas empresas tenham conseguido responder aos desafios ferramentais e de infraestrutura a tempo, ainda há uma longa jornada para transformar o ambiente organizacional. Esse passo é fundamental para a verdadeira transformação digital.
Fonte: Rh pra Você