A valorização das commodities agrícolas e a tendência de uma demanda cada vez maior por alimentos devem manter a produção de grãos em alta. Com os preços rentáveis e em busca de processos mais eficientes e competitivos, os produtores de Minas Gerais estão investindo, e uma das alternativas que vem sendo adotada é o aporte na energia solar.
Além de linhas de financiamento disponíveis, o que facilita os aportes, a economia pode chegar até 99% nos custos com a energia elétrica, dependendo do sistema do produtor. Um dos setores que mais investe é o de grãos, no qual a energia é fundamental para a secagem da produção e também um dos maiores custos.
De acordo com o sócio e diretor da SolarVolt Energia, empresa com sede em Nova Lima, Gabriel Guimarães, o setor agropecuário, principalmente os segmentos envolvidos com a exportação, em função do câmbio desvalorizado, está cada vez mais aquecido e com patamares de preços de vários commodities em níveis recordes.
“Os produtores estão bem estruturados e estão investindo. O segmento de grãos, por exemplo, demanda muita energia na parte de secagem. O processo é necessário para os grãos não mofarem e ficarem bem conservados. Isso permite que os produtores tenham tempo e maior segurança para armazenar e negociar a produção no mercado no melhor momento”, explicou.
Ainda segundo Guimarães, no setor de grãos, os produtores estão sempre buscando formas de fazer melhorias para promover o aumento da produtividade e também para reduzir os custos. A energia solar fotovoltaica encaixa muito bem nesta demanda do produtor já que a energia elétrica usada na secagem dos grãos tem um custo relevante dentro da operação e o aporte na energia solar é uma oportunidade para a redução de custo.
“Em alguns sistemas, a redução dos gastos pode chegar até 99%, dependendo do produtor. Ele, em muitos casos, paga somente a tarifa mínima da distribuidora de energia”.
A tendência é de que os aportes do setor agropecuário em energia solar cresçam significativamente nos próximos anos. Dentre as vantagens estão a produção de uma energia limpa, de menor custo e também a grande durabilidade do sistema.
“Os aportes são interessantes. Além da economia gerada com a conta de luz, que pode variar entre 80% até 99% do valor pago antes da instalação do sistema, as placas solares têm vida útil em torno de 25 anos, o que faz com que o retorno do investimento seja rápido, cerca de 3 a 5 anos, e os benefícios podem ser explorados por um longo período”.
Outra vantagem é que produtores de pequeno porte também podem investir, já que existem linhas de financiamento com condições diferenciadas. “O momento de juros baixos é bem favorável para os produtores acessarem as linhas de crédito exclusivas para investimentos em energia solar. Em função disso, as parcelas são muito menores que a conta de energia. Então, o retorno do aporte acontece desde o momento zero. O produtor não precisa desembolsar”, disse.
Em Minas Gerais, segundo Guimarães, os produtores estão atentos e investindo na energia fotovoltaica. Ele explica que entidades ligadas ao setor fizeram campanhas de conscientização e divulgaram os benefícios da energia solar, como a redução dos custos. Com a pulverização dos sistemas e a geração de resultados positivos, os produtores estão perdendo o receio e fazendo o investimento.
Além da produção de grãos, em Minas Gerais, outros setores também têm apostado mais na energia solar, como as fazendas de leite e laticínios, café, tanto para secagem do grão como para a torrefação, hortifrútis e gado de corte.
A produção de energia solar também pode ser fonte de renda. Uma das modalidades que vem sendo adotada, em Minas Gerais, é o arrendamento de terras para a instalação dos sistemas de produção.
“Os produtores têm olhado bastante a opção de arrendamento da terra durante 25 anos. O valor de arrendamento é compatível com o que ele arrendaria para outro produtor. Por ser um contrato de longo prazo, ele tem segurança de renda, sabe o que vai receber e tem fluxo de caixa por 25 anos”, explicou Guimarães.
Minas Gerais é líder na produção de energia elétrica solar distribuída. A radiação direta da luz do sol em diversas regiões confere ao Estado o título de “Califórnia brasileira”. Mas você sabia que é possível otimizar o uso do solo de modo a integrar a sombra feita por placas de geração de energia à produção de alimentos?
Essa é a proposta tecnológica que a Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig), a partir de iniciativas conjuntas com a Secretaria de Agricultura do Estado (Seapa), desenvolve em parceria com a Cemig. O objetivo da proposta, ainda em fase inicial, é integrar a geração de energia elétrica (por meio de placas solares) à produção de alimentos, em projetos-piloto nos Campos Experimentais da Epamig.
De acordo com estudos realizados em países como Alemanha, China, França, Estados Unidos, Holanda e Japão, a combinação de painéis de energia solar com sistemas de produção agrícola gera ótimos resultados. Minas Gerais coloca o Brasil na lista de países em potencial. Contudo, o desafio da pesquisa é identificar quais culturas agrícolas podem ser consorciadas com os painéis de energia e quais arranjos de painéis são mais eficientes para as condições brasileiras.
As implantações dos projetos-pilotos iniciais vão ocorrer em seis Campos Experimentais da Epamig. No Norte de Minas, experimentos deverão ser realizados nos municípios de Jaíba, Nova Porteirinha e Leme do Prado. No Centro-Oeste estão previstos projetos-pilotos no município de Prudente de Morais. Já na região Oeste, sistemas com módulos de geração fotovoltaica deverão ser instalados em Patrocínio. Por fim, o município de São João del-Rei, no Sul de Minas, também está na lista para receber os experimentos iniciais.
Segundo o diretor de Operações Técnicas da Epamig, Trazilbo de Paula, a empresa de pesquisa agropecuária mineira terá o papel de instalar unidades-piloto para testar diferentes culturas em diversos arranjos e, em seguida, transferir para os agricultores mineiros tecnologias adaptadas às condições de clima e solo do Estado. A dinâmica tende a elevar ainda mais o valor agregado do agronegócio em Minas Gerais.
“O projeto de implantação de energia agrovoltaica oferece uma oportunidade muito interessante para o aproveitamento de áreas mineiras. Produzir alimentos e energia elétrica em um mesmo local é algo realmente inovador que a Epamig traz junto à Cemig, contando com a grande experiência da Fraunhofer-Gesellschaft, da Alemanha. Vamos usar as estruturas dos nossos Campos Experimentais para apresentar aos produtores possibilidades adaptadas a cada microrregião”, destaca Trazilbo.
Energia agrovoltaica – Diferente da energia solar convencional, a energia agrovoltaica conta com placas de captação da luz solar posicionadas em alturas maiores, de forma a permitir a realização de atividades agropecuárias sob elas. A altura varia de acordo com a cultura ou criação que se pretende realizar.
Segundo o pesquisador da Cemig Carlos Alberto de Sousa, o projeto prevê, ainda, utilização de módulos monofaciais e bifaciais, o que inclui novos materiais à medida que a pesquisa avança. Para ele, se confirmados, os investimentos em sistemas agrovoltaicos trarão impactos positivos para a vida e o bolso dos produtores.
“A Epamig é uma referência no Estado de Minas no que diz respeito à pesquisa agropecuária e uma das estratégias da Cemig é desenvolver a inovação. Em um projeto sobre energia agrovoltaica, é natural que a Cemig, dentro da sua competência em energia, queira se unir a uma entidade com muita competência em agricultura e agropecuária. Nossa ideia é desenvolver modelos de negócios interessantes e viáveis que possam ser replicados em diferentes regiões do Estado”, destaca Carlos Alberto.
(Com Epamig)
Fonte: Diário do Comércio