Especialistas mostram como desenvolver as habilidades de carreira que serão mais valorizadas pelas empresas no pós-pandemia.
Os efeitos da pandemia no mercado de trabalho foram severos. A taxa de desemprego chegou a bater 14,6%, recorde da série histórica, e cerca de 14 milhões de pessoas seguem desempregadas, conforme os dados mais recentes da Pnad, a pesquisa de emprego do IBGE. E as perspectivas não são otimistas: a preocupação de economistas gira em torno da retomada do emprego em 2021.
Eles entendem que a taxa de desemprego deve subir nos próximos meses em função do fim do auxílio emergencial, do orçamento apertado das famílias devido à crise e do possível afrouxamento das restrições de circulação – que levará milhões de brasileiros, que hoje não integram as estatísticas de emprego, a procurar trabalho, pressionando a taxa para cima.
Com o cenário ainda incerto, Rebeca Toyama, especialista em estratégia de carreira, acredita que quem vai buscar emprego ou uma recolocação precisará ser resiliente e se requalificar. “Seja tecnicamente ou no desenvolvimento de soft skills [habilidades comportamentais], atualizar os conhecimentos para estar alinhado ao momento será crucial”, diz.
Se a partir desse contexto, a primeira pergunta que vem à mente é onde estão essas vagas, uma reportagem do InfoMoney já mostrou quais áreas e profissões vão estar em alta em 2021 e os respectivos salários. Porém, outra questão também surge: como conquistar as vagas? Aprender as habilidades que estão sendo demandadas pelos empregadores pode fazer toda a diferença.
O InfoMoney conversou com especialistas em carreira e destacou insights do relatório do Fórum Econômico Mundial sobre o futuro do trabalho e as competências mais demandadas nos próximos cinco anos – considerando a nova fase do mercado de trabalho, no mundo pós-pandemia, e a consolidação da tecnologia no espaço profissional. Confira a seguir.
Gap de habilidades
Tiago Salomão, sócio da consultoria de carreira Korn Ferry, afirma que apesar de o desemprego estar alto, faltam profissionais que se adequem às demandas exigidas. “Temos uma fila gigante de pessoas buscando emprego, e uma fila também enorme de empresas procurando profissionais. Mas não há um encontro entre essa oferta e demanda. As empresas não encontram quem precisam porque faltam profissionais com as habilidades chaves”, afirma.
O Fórum Econômico Mundial [FEM] publicou no fim de 2020 “O relatório do futuro do trabalho”, que destaca essa dificuldade, principalmente na área de tecnologia. “A capacidade das empresas globais de aproveitar o potencial de crescimento da nova adoção tecnológica é dificultada pela escassez de habilidades”.
Segundo o relatório, 55,4% das empresas entrevistadas afirmaram que encontram lacunas de competências nos profissionais em seus respectivos mercados e isso dificulta a adoção de novas tecnologias. O relatório entrevistou 291 empresas ao redor do mundo que, juntas, representam cerca de 7,7 milhões de funcionários.
“O isolamento social mudou o comportamento do consumidor. De casa, todo mundo queria entrega rápida, delivery, serviços digitais. Embora esse processo tenha começado antes da crise, foi acelerado pela pandemia, se consolidou e não tem volta. A digitalização foi generalizada: no varejo, no mercado financeiro, nos serviços. A tecnologia se destaca porque transita por todos os setores”, lembra Marco Santana, também sócio da Korn Ferry.
Porém, antes de buscar novas competências, Salomão diz que os profissionais precisam desenvolver a capacidade de aprender novas habilidades. “Com a velocidade com a qual o mercado está se transformando, esse é um passo crucial na jornada profissional. Além disso, hoje as soft skills e as hard skills [habilidade técnicas] estão no mesmo nível”, diz.
Na ausência de talentos prontos, os empregadores ouvidos pelo relatório do FEM relatam que, em média, fornecem cursos de requalificação e qualificação para 62% de sua força de trabalho. No entanto, o engajamento dos empregados nesses cursos não é alto: na média, apenas 42% dos funcionários efetivamente fazem os cursos oferecidos pelas suas empresas.
“Embora uma correspondência exata das habilidades não seja um pré-requisito para conquistar uma vaga de trabalho, a produtividade e o desenvolvimento em longo prazo dos funcionários no emprego são determinados pelo domínio das competências em suas respectivas áreas”, diz o relatório do FEM. Por isso, entender quais são as habilidades mais demandadas para os próximos anos pode ajudar a direcionar melhor a carreira.
Como desenvolver novas habilidades?
São muitas as habilidades em alta, e não necessariamente os profissionais precisam desenvolver todas em alto nível. “Para saber qual habilidade você deve priorizar é necessário considerar dois aspectos: primeiro, entender o que a sua função atual ou a função para a qual você quer se candidatar demanda mais; e segundo, entender quais habilidades você já possui e que, portanto, seriam mais facilmente aprimoradas”, explica Rebeca.
Naturalmente, se a sua função demanda habilidades que você já tem ou começou a desenvolver é mais simples se adequar. Porém, se não é esse o caso, os especialistas compartilharam algumas dicas que podem auxiliar no desenvolvimento de competências novas.
“Primeiro, é preciso desmitificar o aprendizado. Aprender precisa ser um valor em vez de uma regra ou um dever. Essa perspectiva vai facilitar qualquer novo conhecimento”, diz Salomão. “Ter aprendizagem ativa é expandir sua capacidade de assimilação e compreensão para além dos livros e cursos. Inclusive, erros são excelentes formas de aprendizagem”, complementa Rebeca.
Além disso, de maneira geral, há algumas dicas que podem ajudar em todos os casos. “Ser curioso e procurar fazer as coisas de maneira diferente sempre estimula a criatividade, o raciocínio e a inovação. Não precisa ser sempre algo grande, mas sair do piloto automático no dia a dia, trabalhando ou não, pode trazer diversos insights. Além disso, um mentor, pessoa que tem experiência na habilidade ou assunto que você queira aprender é sempre muito bem-vindo”, afirma Salomão.
Segundo ele, é importante também ser um bom ouvinte e observador. “Saber escutar e observar o seu líder, quem você admira, seu cliente, pode ajudar muito a trazer novas ideias e coletar exemplos de coisas boas e ruins”, diz.
Rebeca acrescenta que os pensamentos analítico e crítico podem ser desenvolvidos no dia a dia. “Em meio à tanta informação, a todo segundo, é preciso treinar para diferenciar os fatos das opiniões, buscar dados e informações antes de se posicionar sobre um assunto e prestar atenção nas fakenews. Trabalhar com a veracidade de informações e saber interpretá-las é um diferencial”, afirma Rebeca.
Por fim, ela destaca a resiliência. “Nesse caso, o foco do profissional precisa estar em um propósito central, só assim é possível ser resiliente em meio às adversidades. Quando você acredita em algo maior ou tem um objetivo fica mais fácil se adaptar às mudanças e superar alguns obstáculos”, diz Rebeca. “A flexibilidade, inclusive, foi crucial durante a pandemia. Tudo mudou muito rapidamente e quem se adaptou mais rápido saiu na frente. Estar disposto a mudar a direção quando necessário e manter a autoatualização ajudam a descartar tudo o que não funciona mais em determinada situação, abrindo espaço para a mudança”, complementa.
Fonte: Infomoney