O barco “Endurance”, do explorador Ernest Shackleton, foi encontrado após cem anos perdido no gelo.
Após cem anos de um dos naufrágios mais famosos da história, o barco “Endurance”, do explorador Ernest Shackleton, foi encontrado no Mar de Wedell, na Antártica, nesta semana.
O explorador anglo-irlandês tentava fazer a travessia de 2.900 quilômetros do continente da Antártica quando, em janeiro de 1915, o barco ficou preso no gelo no Mar de Weddell. Ali ele ficou por meses, até que afundou em novembro daquele ano – e ressurgiu agora.
A expedição que localizou o “Endurance” usou tecnologia de última geração, como drones submarinos, para explorar a região, descrita pelo próprio Shackleton como a “pior parte do pior mar do mundo”.
Muito além da história da embarcação, o que realmente fez a fama do naufrágio foi a jornada heroica de Shackleton com sua tripulação para sobreviver no terreno inóspito.
Segundo Boris Groysberg, professor da escola de negócios da Universidade Harvard, o explorador é referência em seu curso sobre liderança em crises. Tudo deu errado, mas ele levou toda a equipe de volta para casa.
Com Shackleton, o professor reforçou a importância do foco, de unir as pessoas certas, do planejamento e da liderança.
Para a professora Nancy Koehn, também da escola de negócios da Universidade Harvard, o explorador pode nunca ter chego ao seu destino, mas até hoje é estudado como um sucesso de liderança em um contexto de mudanças constantes.
Três lições de liderança com Shackleton
Liderança flexível
O que fazer quando o norte da sua missão muda completamente? Para a professora de Harvard, a habilidade de ser flexível e mudar de rumo de acordo com as circunstâncias é uma habilidade dos empreendedores de sucesso.
Quando o “Endurance’ ficou preso do gelo, Shackleton logo abandonou seu sonho da travessia e focou totalmente na sobrevivência da tripulação. Saber abandonar planos e mudar metas é essencial para lidar com situações inesperadas.
Com a pandemia, diversas empresas tiveram que parar e reestruturar totalmente o planejamento. E as lideranças precisaram se adaptar junto.
Múltiplas perspectivas
Mesmo que o grande objetivo fosse sobreviver, Shackleton ainda manteve em sua mente as dificuldades que existiriam ao longo da jornada. Em seu estudo, a professora de Harvard destaca que microscópios e outras ferramentas de trabalho foram abandonadas, mas o explorador pediu para um tripulante levar seu banjo.
“Acho que é isso verdadeiro para muitos grandes líderes públicos e de negócios de diferentes áreas. Ele é muito bom em executar uma tela dupla em sua cabeça”, escreve a pesquisadora.
A ideia é que ele consegue manter a equipe unida e com foco no objetivo final, mas não deixou de vislumbrar as dificuldades no caminho e se planejar para a necessidade de criar momentos de descompressão.
Aprenda também com seus erros
A professora não deixa de lado os erros do explorador. Entre eles, a arrogância ao ignorar avisos sobre a condição do gelo no sul e a falta de treinamento da equipe.
Para ela, esses erros também devem ser tão ilustrativos e importantes quanto seus acertos. É impossível prever se a história teria sido diferente se o explorador ouvisse conselhos de quem tinha mais experiência sobre o terreno ou se tivesse se dedicado ao treinamento.
No entanto, os pontos ainda servem de lição para líderes em cenários incertos: da mesma forma que é papel da liderança resolver conflitos e guiar sua equipe para um objetivo, também é necessário se manter aberta para opiniões diversas e desenvolver os membros do time.
Fonte: Exame