Copom iniciou no último dia 04, reunião que decidirá possível diminuição na taxa básica de juros. Mercado estima ainda que pode ser o último corte neste ano, apesar de os indicadores sinalizarem uma inflação bem abaixo do piso da meta no final de 2020
O Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central (BC) iniciou o primeiro dia de reunião, no dia 04 de agosto, sob a expectativa do mercado de que fará o último corte no ano na taxa básica de juros (Selic). As apostas são de redução de 0,25 ponto percentual, pela mediana das estimativas do mercado computadas no boletim Focus, do BC, de ontem. Se confirmada, essa redução colocará a Selic em novo piso histórico, 2% ao ano.
Especialistas apostam nesse corte como sendo o último “residual” apontado na ata do Copom, apesar de os indicadores mostrarem uma inflação oficial bem abaixo do piso da meta, de 2,5% ao ano no fim do ano, abrindo espaço para uma política monetária mais expansionista. Contudo, lembram que a diretoria do BC está dividida, principalmente devido ao aumento dos riscos fiscais, o que deverá pressionar para o fim dos cortes nos juros.
Os temores de descontrole fiscal crescem com a guinada do governo na linha ortodoxa, que foi um dos motivos da eleição do presidente Jair Bolsonaro. Essa mudança vem sinalizando que o teto de gastos, principal âncora fiscal, deverá ruir no ano que vem. A emenda constitucional, aprovada em 2016, que não permite o auimento de despesas primárias acima da inflação acumulada em 12 meses até junho, vem sofrendo críticas, e tudo indica que poderá ser flexibilizada em 2021. O presidente e os ministros da ala militar sinalizam que pretendem aumentar os gastos públicos, na contramão da cartilha do ministro da Economia, Paulo Guedes.
Vale lembrar que, na semana passada, o BC divulgou aumento recorde na dívida pública bruta, de 81,9% para 85,5% do Produto Interno Bruto (PIB), ultrapassando a marca histórica de R$ 6 bilhões. As estimativas do mercado apontam para o endividamento do governo superando 100% do PIB até 2022.
Pandemia
A piora dos dados fiscais de junho foi resultado do crescimento exponencial do rombo das contas públicas, devido às medidas de combate aos efeitos negativos da pandemia, que fizeram o rombo consolidado do setor público saltar quase 7.000% no primeiro semestre, para R$ 402,7 bilhões. E diante do aumento da desconfiança do mercado sobre a capacidade do governo em honrar dívidas, o prazo de vencimento dos títulos públicos estão encurtando. Com isso, o governo está ficando pendurado no “overnight”, com a maioria de papéis que representam 19,1% do PIB, ou R$ 1,3 trilhão, vencendo em apenas um dia.
“Os riscos fiscais aumentam todos os dias”, alertou a economista-chefe da ARX Investimentos Solange Srour. Para ela, a piora no cenário fiscal não deve mudar as perspectivas em relação ao Copom. “O BC deve estar mais preocupado com o médio prazo. Fortalece minha visão de que ele deveria sinalizar que este risco fiscal traz risco para manutenção dos juros parados por muito tempo”, avaliou.
Expectativa
“Dada a orientação da reunião anterior, e os recentes desenvolvimentos macrofinanceiros, esperamos que o Copom reduza a taxa em 0,25 ponto percentual, para um piso recorde de 2% ao ano. As impressões recentes de inflação abaixo do esperado, e as projeções de inflação condicional visivelmente abaixo da meta para 2021, apoiam esse último corte adicional”, apontou Alberto Ramos, economista-chefe para a América Latina do Goldman Sachs, que pretende ficar bem atento ao comunicado da autoridade monetária para ver se a divisão na diretoria do BC permanecem.
Jason Vieira, economista-chefe da Infinity Asset Management, também está apostando na queda de 0,25 chama a atenção para os riscos fiscais crescentes. “O prêmio de risco na curva longa está em 6,62% para os contratos de 2029. É mais do que 10 vezes os juros norte-americanos”, comparou. Para ele, a Selic vai voltar a subir em 2021.
Um dos termômetros para o risco país, o Credit Default Swap (CDS) para cinco anos, já está em 215 pontos, mais do que o dobro dos patamares no início do ano, quando chegou a ficar abaixo de 100 pontos.
A Selic, pelas projeções do Top Five (grupo das instituições que mais acertam no Focus), ainda pode cair mais. A mediana das apostas desse grupo para a taxa básica está 1,88% ao ano, pela segunda semana consecutiva. Para 2021, as estimativas do mercado para a Selic estão em 3% anuais, passando para 5% ao ano, em 2022. E, pelas novas projeções do boletim, a estimativa de queda do PIB deste ano teve a quinta redução consecutiva: de 5,77%, na semana passada, para 5,66% nesta semana.
Na avaliação do estrategista da INVX Global, Eduardo Velho, a Selic ainda poderá cair além de 0,25 devido à melhora nas estimativas para o PIB. “O Copom não deve acelerar a queda dos juros devido ao otimismo com a retração menor do PIB e, por conta disso, não quer dizer que necessariamente a queda da Selic vai parar em 2%. Como há muita incerteza, a inflação ainda pode surpreender para baixo e isso pode fazer com que a Selic termine o ano em 1,75%. Mas há espaço para os juros caírem até 1,5%”, afirmou.
Balança tem superavit de US$ 8 bi em julho
A balança comercial registrou superavit de US$ 8,06 bilhões, em julho. Segundo o Ministério da Economia, que divulgou os dados ontem, em relação ao mesmo mês do ano passado houve um aumento de 237% no saldo comercial –– em julho de 2019, foi de US$ 2,391 bilhões. Apesar de a comparação dos resultados ser maior para este ano, houve queda nas exportações e nas importações: na média por dia útil, as vendas caíram 2,9% e as compras, 35,2%. No acumulado do ano, o ministério informou que a balança tem saldo positivo de US$ 30,383 bilhões –– 8,2% a mais do que o registrado em no mesmo período do ano passado.
Fonte: Correio Braziliense