Quais os caminhos possíveis para uma empresa do varejo captar?
Existem dois universos na vida de um empreendedor(a): quando ele demanda só de dinheiro e quando precisa de um sócio profissional para ajudá-lo com seus gargalos de negócio e está em um momento de negócio que precisa de capital como combustível para acelerar o crescimento.
Para captar, é preciso ter um objetivo para usar o dinheiro de forma clara e consistente. Ao optar por acessar capital com um fundo, o empreendedor(a) precisa estar aberto para um novo sócio. Afinal, investidores são sócios. Sócios com prazo de validade, existem cláusulas de separação, no nosso caso.
O mercado brasileiro para investimento privado está abundante. Temos muito a avançar, mas evoluímos muito, tem muito capital disponível. A chave é encontrar os sócios certos, investidores que têm os valores alinhados com os seus.
Qual o momento de captar via dívida e equity?
Quando opta por dívida, o empreendedor(a) consegue um dinheiro para crescer, aumenta a participação societária – pois não abre mão de uma porcentagem – e, em alguns casos, cresce até o valuation.
O fundo faz grandes mudanças dentro de uma empresa. Os empreendedores(as) começam a ter conversas mais profundas sobre o futuro do negócio, sobre governança, sobre possíveis saídas, IPOs, etc. Isso é um valor intangível no valuation da empresa, já que o próximo ciclo do negócio fica mais claro.
Eu gosto de usar a seguinte metáfora: temos que identificar as Ferraris, os pilotos e as pistas. Nós, investidores, sentamos ao lado, preparados para acionar o freio de mão. As pessoas só pilotam uma Ferrari a 300km/h porque tem freio. Nós não temos medo de sugerir pisar no freio na hora certa.
Capital é uma trajetória. É para fomentar como a empresa vai crescer. Crescer mais rápido é com equity, dívida tem a questão de risco de balança, de obter resultados rápido. Por isso, a dívida é a primeira ponte para você buscar caminhos para fazer outras rodadas de equity.
Como empresa do varejo, como nos aproximamos de investidores que focam mais nesta vertical?
Para o empreendedor(a) se aproximar de investidores pessoas físicas ou family offices é preciso de networking, conexões. Hoje, temos uma ferramenta muito poderosa que é o Linkedin, lá é possível se aproximar de pessoas chave para o seu negócio.
Os mentore(as) podem ajudar a mapear os universos de investimentos e ver o que é melhor para cada caso. Alguns investidores de fundos, inclusive, também podem ajudar a encontrar investidores mais voltados para varejo.
É preciso preparar a casa – planejamento, governança, gestão financeira etc – antes de fazer uma captação? O que vocês mais consideram?
No nosso caso, o empreendedor(a) e a equipe que vai entregar o projeto são fundamentais. A gente entra com opção minoritária, por isso eu preciso de um empreendedor(a) excepcional. Também olhamos para o impacto que o empreendedor(a) e a empresa tenham.
Além disso, o modelo precisa estar comprovado e ter um entendimento do setor que atua. Obviamente tem as coisas que são básicas: se a pessoa está disposta a colocar governança, fazer auditoria e, principalmente, se ela vê valor em mim. No final do dia, é um negócio de gente, temos valores e eles precisam estar alinhados.
Do nosso lado, gostamos muito de fazer uma análise do business: qual o jogo que vou jogar e quem são os jogadores. E como esse negócio será desenvolvido ao longo do tempo.
Gostamos de investir em fanáticos, pessoas que acordam e dormem pensando no negócio e que o negócio é a vida dele. O fanatismo é essencial pra gente.
Também gastamos muito tempo olhando como os empreendedores(as) tratam as pessoas e como ele está preparando o futuro da empresa. Entender a lógica de alocação de recursos dos gestores(as).
Por último, a questão do risco de contingência. Tomamos cuidado com pessoas que pegam atalhos e não fazem as coisas corretas.
Como está o momento para captar, considerando 2020, a crise e a pandemia?
O varejo sofre muito em crise, mas tem demonstrado que tem uma capacidade de se recuperar rápido. Vemos muitos negócios tradicionais que se reinventaram. Por isso, do nosso lado, o apetite de investidores aumentou muito em relação ao setor – desde investidores anjo até private equity. Está em franco momento de se fazer investimento no varejo. Estamos apostando em sustentabilidade, economia circular, é uma tendência muito grande.
Estamos vendo uma janela no Brasil para equity. Isso é fundamental para fomentar o empreendedorismo. Capital para empreendedor(a) é muito importante.
Na história, momentos de grandes transformações trazem grandes oportunidades. Como investidores, temos que ser hackers sociais. As cartas se misturam de novo e voltam para a mesa. Nesse momento, sai na frente quem lê as oportunidades e se adapta ao momento. Cabe a cada empreendedor(a) ocupar os espaços.
Qual o melhor momento de vender uma companhia?
Vender uma empresa é uma decisão pessoal: diversificação de patrimônio, segurança pessoal, etc. A questão de valuation é outra coisa. Os resultados futuros podem entrar no valuation. Mas, se tem um horizonte de crescimento, não faz muito sentido vender agora.
Para vender, é preciso ter um bom projeto. Tanto projeto de planos futuros, quanto de venda.
Isso vale também para quando você vai trazer um sócio. Empreender é solitário. A solidão do poder é terrível, às vezes é preciso de alguém para dividir as dores.
Glossário
Equity – os investidores, ao aportarem capital na empresa, compram uma porcentagem do negócio. Divide-se em etapas, de acordo com o estágio anjo, seed, serie A, serie B, growth capital.
Family offices – estruturas montadas para famílias com muitos recursos, normalmente donas de grandes empresas, e que precisam de uma assessoria completa.
IPO – sigla em inglês para Initial Public Offering, ou Oferta Pública Inicial. É o processo pelo qual uma empresa abre seu capital pela primeira vez, por meio de ações que são negociadas na bolsa de valores.
Private equity – investimento para crescimento orgânico, realizar aquisições e expandir geograficamente.
Valuation – é o processo de estimar o valor de uma empresa de forma sistematizada, usando um modelo quantitativo.
Fonte: Endeavor