O Brasil registrou em 2021 a maior entrada líquida de moeda estrangeira pelo câmbio contratado em seis anos, no equivalente a pouco mais de US$ 6,1 bilhões, após três anos consecutivos de saldos negativos, mostraram dados do Banco Central ontem.
O fluxo cambial foi superavitário em US$ 6,134 bilhões no acumulado do ano, melhor resultado desde 2015 (+US$ 9,414 bilhões).
A sobra, contudo, representa um volume modesto comparado com os US$ 73,686 bilhões perdidos entre 2018 e 2020. Apenas em 2020, o déficit fora de US$ 27,923 bilhões.
O acumulado do fluxo cambial vinha numa crescente até setembro, quando chegou a superar US$ 22 bilhões, mas a partir de então as saídas de recursos aceleraram, num período em que o mercado se deparou com um combo que incluiu propagação do estresse financeiro no setor de construção chinês, rápida deterioração na expectativa fiscal do Brasil e preocupações com a inflação global.
Sobre o ano cheio, chama atenção a composição do resultado do fluxo.
Enquanto o fluxo financeiro conseguiu ficar menos negativo – saiu de déficits de US$ 62,244 bilhões em 2019 e de US$ 51,173 bilhões em 2020 para rombo de “apenas”US$ 3,669 bilhões em 2021, as operações comerciais minguaram, mostrando saldo positivo de US$ 9,803 bilhões no ano passado, bem abaixo dos superávits de US$ 23,250 bilhões em 2020 e de US$ 17,475 bilhões de 2019.
Isso indica que “os exportadores não estão internalizando parte relevante dos recursos”, comentou em nota Sérgio Goldenstein, chefe da área de estratégia da Renascença.
O fluxo positivo no ano de 2021 foi limitado por uma forte saída de recursos em dezembro, de US$ 9,946 bilhões – a mais expressiva para qualquer mês desde dezembro de 2019 (-US$ 17,612 bilhões).
No acumulado do último bimestre do ano, o País perdeu US$ 13,344 bilhões. Para Goldenstein, isso explica parte da pressão sobre a taxa de câmbio no período, levando o BC a realizar ofertas de liquidez no mercado à vista. Apenas em dezembro o Bacen liquidou a venda de US$ 4,837 bilhões nessa modalidade.
Com a debandada de moeda no mês passado, os bancos tiveram de prover liquidez, o que elevou sua posição vendida na divisa no mercado à vista a US$ 20,668 bilhões, maior valor desde março, quando ficou em US$ 21,081 bilhões.
Ao longo de todo o ano passado o Bacen liquidou a venda de US$ 11,982 bilhões no mercado à vista. Considerando operações de linhas, o BC liquidou a recompra de US$ 4,900 bilhões em 2021.
Fonte: Diário do Comércio