Os setores de comércio e serviços da capital mineira já sentem os efeitos da crise provocada pelo avanço do novo coronavírus (Covid-19) no Brasil. Segundo a Câmara de Dirigentes Lojistas de Belo Horizonte (CDL-BH), o faturamento dos segmentos já será afetado em março.
A receita esperada inicialmente para as atividades caiu de R$ 4,6 bilhões para R$ 2,51 bilhões em função do novo cenário. Isso significa um recuo de 54,5%.
Na avaliação do presidente da entidade, Marcelo de Souza e Silva, a queda somente não será maior pois houve duas semanas de vendas normais em março e atividades essenciais como supermercados e drogarias continuam em funcionamento e não apresentaram grandes perdas.
“Para reduzir os efeitos econômicos da pandemia, estamos trabalhando junto às esferas governamentais, solicitando a concessão de prazos maiores para pagamento de tributos e orientando os empresários que tomem medidas adequadas para o momento adverso”, disse.
O presidente ressaltou que as maiores preocupações dizem respeito aos custos. E que, basicamente, o empresário tem quatro obrigações junto ao seu negócio: as trabalhistas, as tributárias, as sociais e as comerciais. Por isso, conforme ele, para atravessar este período, são necessárias medidas como flexibilização da lei trabalhista, concessão de linhas de crédito de financiamento de fácil acesso, redução e/ou suspensão de tributos, entre outras.
“A CDL-BH já pediu aos governantes tudo o que podia pedir. Agora estamos dando as orientações aos lojistas quanto à renegociação de aluguéis e o fornecimento de matérias-primas. Mas o cenário ainda é bastante nebuloso e deve piorar”, comentou. Na opinião de Silva, a previsão é de retração em todos os segmentos, exceto os da saúde.
Impacto generalizado – Para se ter uma ideia, levantamento realizado pela entidade com 413 empresários apontou que 99% deles serão impactados com a crise do coronavírus. De acordo com 63,4%, o prejuízo nas vendas para os próximos meses será muito alto e para 16,9%, o impacto será alto. Os que consideram que o prejuízo nas vendas será baixo totaliza 8% dos comerciantes. Em seguida, aparecem: prejuízo moderado (6,5%), baixo (4,4%), não sabe avaliar (0,5%) e 0,2% acredita que não terá prejuízo.
Por ramo de atividade, o setor de bares e restaurantes relatou o maior percentual médio de perda nas vendas: 81,6%. Em seguida, vieram vestuário e calçados (76,5%), papelaria e livrarias (63,8%), eletrodomésticos e móveis (60,9%), produtos alimentícios e supermercados (55,3%) e material de construção, elétrico, tinta e vidraçaria (54,2%).
Já as principais preocupações relatadas pelos empresários foram queda no volume de vendas (79,4%), redução no faturamento da empresa (68,8%), redução do fluxo de clientes (67,3%), falta de funcionário (24,7%), aumento no preço dos fornecedores (22,8%), redução de insumos (11,6%), redução de estoque (10,2%) e perda de mercadoria (7,3%).
Além disso, a pesquisa mostrou que, para prevenir a propagação do coronavírus, os lojistas estão adotando medidas como a disponibilização de álcool em gel (77,2%), home office (26,2%), redução da jornada de trabalho (22,5%), restrição do número simultâneo de clientes no estabelecimento (22,0%), flexibilização da jornada de trabalho (16,0%) e férias coletivas (10,2%).
VAREJO EM MG RETRAI 2% EM JANEIRO
A comercialização do varejo em Minas Gerais recuou 2% no primeiro mês deste ano frente a dezembro de 2019, na série com ajuste sazonal, segundo a Pesquisa Mensal do Comércio (PMC), divulgada ontem pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A baixa observada no Estado foi mais intensa que a da média nacional, que registrou queda de 1%.
De acordo com a coordenadora da pesquisa, Isabella Nunes Pereira, o desempenho de Minas foi afetado principalmente pelo forte volume de chuvas observado no Estado no começo de 2020. Já a queda registrada de maneira geral está atribuída à pressão inflacionária de determinados segmentos. “Com o aumento dos preços, o volume de vendas recua, mas a receita se mantém”, explicou.
Nas demais bases comparativas, os números de Minas também ficaram aquém dos nacionais. Em janeiro frente ao mesmo mês do ano passado, por exemplo, o comércio mineiro registrou queda de 1,9% e o do País alta de 1,3%. Já no acumulado dos últimos 12 meses, os desempenhos foram de 1% e 1,8%, respectivamente.
Na análise mensal, dos oito segmentos avaliados, quatro registraram decréscimo nas vendas em Minas. O destaque negativo ocorreu no grupo combustíveis e lubrificantes, que teve baixa de 13,2% no primeiro mês deste ano contra o mesmo período de 2019, seguido por hipermercados, supermercados, produtos alimentícios, bebidas e fumo, com baixa de 4%. Na outra ponta, equipamentos e materiais para escritório, informática e comunicação apresentou a maior alta: 19,8%.
Sobre os próximos meses, Isabella Nunes disse que o setor deverá sofrer os impactos do coronavírus no Brasil e as medidas restritivas para tentar conter a disseminação da doença. Porém, ponderou que ainda é cedo para traçar qualquer projeção.
SHOPPING CENTERS E LOJISTAS TÊM IMPASSE EM ALUGUÉIS
São Paulo – As negociações entre operadores de shopping centers e lojistas sobre pagamento de aluguéis durante o fechamento de empreendimentos determinado por autoridades públicas para frear o coronavírus chegaram a um impasse, enquanto o setor busca corte de impostos e outras medidas de apoio junto aos governos para enfrentar a crise.
“O cenário tem que ser analisado dia a dia, hora a hora. Nossa posição, no momento, é de que, embora por contrato esses aluguéis sejam devidos, é razoável que a cobrança seja feita posteriormente em momento oportuno”, disse Glauco Humai, presidente da Associação Brasileira de Shopping Centers (Abrasce).
Os comentários de Humai vêm na contramão de um comunicado enviado na segunda-feira pela associação de lojistas de shopping centers, a Alshop, que citava acordo para isenção dos aluguéis enquanto os empreendimentos estivessem fechados, além de “flexibilização” e redução nas taxas de condomínio.
Procurada, a Alshop informou que a manutenção do pagamento do aluguel sem as lojas estarem operando é inviável e que a retomada das vendas deve ser lenta e gradual.
“Entendemos que o relacionamento entre o lojista e o dono de shopping é regido por um contrato e propomos o bom senso nesse momento difícil para todo o setor”, disse a Alshop no comunicado de ontem.
Até agora, 550 dos 577 shoppings do Brasil estão fechados por ordem de autoridades que combatem a disseminação da Covid-19, segundo dados da Abrasce.
Humai afirmou que a Abrasce já enviou aos governos federal, estaduais e municipais um documento com 22 medidas necessárias para ajudar o setor a superar a crise sem demissões em massa, mas ainda não houve respostas.
“Não tem essa priorização ou indicação de que nosso segmento será atendido e quais seriam as medidas”, disse Humai, acrescentando que os shoppings brasileiros geram cerca de 3 milhões de empregos diretos.
Enquanto isso, segundo ele, as operadoras de shoppings vêm trabalhando para cortar, em pelo menos 30%, as despesas de condomínio. “Nossa recomendação é que se reduza ao máximo o condomínio, e as empresas já estão renegociando contratos com fornecedores para que isso ocorra nos próximos meses”, afirmou o presidente da Abrasce.
Fonte: Diário do Comércio