Segundo a pesquisa State of Create, realizada pela Adobe, 75% das pessoas sentem que não estão utilizando todo o seu potencial criativo
Em paralelo, um estudo da IBM com mais de 1.500 líderes globais apontou que a criatividade é a habilidade mais importante para o futuro do trabalho — à frente da organização e do conhecimento técnico.
Como despertar a criatividade, então, tornou-se uma das perguntas mais estratégicas para quem deseja se manter relevante no mercado.
Apesar disso, ainda colocamos a criatividade em caixinhas. Muitos acreditam que ela é exclusividade de artistas ou que depende de um “momento certo” para surgir.
Mas a verdade é que criatividade é um processo. Ela nasce do repertório, da escuta, da pausa, da curiosidade e da coragem de olhar para o mesmo problema com uma nova lente.
É uma habilidade que requer presença, intenção e movimento.
O que estimula a criatividade?
A base da criatividade está no repertório. Quanto maior a variedade de experiências, conhecimentos e referências, maiores as chances de conexões originais entre ideias conhecidas.
O neurocientista Sidarta Ribeiro afirma que “uma ideia nova é sempre uma mistura de ideias velhas”, e esse processo tem nome: reestruturação de memória. O cérebro reorganiza informações já armazenadas para formar algo inédito.
Além do repertório, a escuta ativa, a empatia e o questionamento são combustíveis criativos. A capacidade de fazer perguntas certas, mesmo que simples, amplia as possibilidades de entendimento e de soluções. Crianças fazem isso com naturalidade. Adultos, nem tanto. Resgatar esse hábito pode ser um diferencial.
Também é preciso se permitir o ócio criativo. A pressão por produtividade constante pode bloquear a criatividade, como apontou a própria pesquisa da Adobe: 75% dos entrevistados disseram sentir-se pressionados a entregar resultados, não ideias.
No entanto, é justamente na pausa que o cérebro acessa memórias e combinações inusitadas. Estar presente e atento ao ambiente, ao corpo e às emoções também favorece o surgimento de insights.
Como despertar a criatividade no dia a dia
A criatividade pode ser treinada, como um músculo. E isso começa com autoconhecimento. Entender quais situações despertam sua curiosidade, quais ambientes favorecem seu foco e como você reage ao erro são pontos de partida para se desenvolver nessa competência.
Um bom primeiro passo é criar variações na rotina. Trocar o caminho para o trabalho, consumir conteúdo fora da sua bolha, mudar a forma como você organiza suas tarefas. Pequenas mudanças ativam o cérebro e aumentam o potencial criativo.
Outra estratégia é experimentar formatos diferentes para tarefas comuns. Ao invés de escrever uma lista de atividades, que tal desenhá-la?
Se você costuma digitar, tente escrever à mão. Esses deslocamentos de linguagem mexem com a forma como o cérebro codifica e processa as informações.
Ferramentas estruturadas também podem ajudar. O método dos Seis Chapéus para Pensar, de Edward de Bono, propõe analisar uma questão sob diferentes perspectivas: emocional, fática, otimista, pessimista, criativa e sistêmica.
Esse tipo de abordagem amplia a visão sobre problemas complexos e facilita a geração de soluções.
Criatividade no trabalho: entre mitos e mercado
Ainda hoje, existe o mito de que criatividade é um dom reservado a poucos. Histórias como as de Mozart, Einstein e Kandinsky são frequentemente usadas para ilustrar genialidade instantânea.
Mas, como mostra Kevin Ashton no livro A História Secreta da Criatividade, todos esses gênios enfrentaram bloqueios, erraram muito e se dedicaram intensamente aos seus processos criativos.
Entender isso é essencial para romper com a ideia de que a criatividade é inalcançável. Ela é, na verdade, uma competência-chave para o trabalho do futuro.
Em 2015, o Fórum Econômico Mundial apontava a criatividade como a décima habilidade mais importante para os profissionais.
Três anos depois, em 2018, ela já aparecia em terceiro lugar, atrás apenas da resolução de problemas complexos e do pensamento crítico.
A tendência de valorização dessa soft skill se confirma em outros levantamentos. Um estudo do LinkedIn mostrou que, em 2019, a criatividade foi a competência mais procurada pelos recrutadores.
Em um mundo veloz, incerto e competitivo, pensar fora da caixa deixa de ser diferencial e passa a ser uma exigência.
A pressão por produtividade bloqueia a inovação
O paradoxo da criatividade no ambiente profissional é que, embora cada vez mais valorizada, ela é frequentemente sufocada pela cultura da produtividade.
A mesma pesquisa da Adobe revelou que apenas 25% das pessoas acreditam usar todo o seu potencial criativo no trabalho. A maioria sente-se pressionada a produzir, não a inovar.
Essa pressão acaba desestimulando a exploração de ideias novas. E, segundo o levantamento, profissionais que se consideram criativos chegam a ganhar 13% mais do que os colegas.
Ou seja, incentivar a criatividade pode ser bom para os indivíduos e para as empresas.
Mesmo em ambientes mais engessados, há formas de estimular esse potencial. Pequenas mudanças na rotina, abertura para sugestões e o incentivo a projetos paralelos são algumas das estratégias que gerentes e líderes podem adotar.
A criatividade também se alimenta de confiança: quanto mais as pessoas se sentem seguras para testar ideias, maior a chance de inovação.
Criatividade se aprende
Um estudo do professor George Land revelou que 98% das crianças eram altamente criativas aos 5 anos. Aos 10, esse número caiu para 30%.
Aos 30 anos, despencou para 2%. Isso mostra que nascemos criativos, mas perdemos a confiança e o hábito de criar com o tempo.
Para reverter esse cenário, é preciso praticar. A criatividade se fortalece com a repetição de pequenas tentativas, com o relaxamento diante do erro e com o desenvolvimento de um olhar mais generoso sobre o próprio processo. Criar não exige perfeição: exige disposição.
Conclusão: você dá espaço para a sua criatividade aparecer?
Participar de eventos como o Dia Mundial da Criatividade — presente em mais de 60 cidades ao redor do mundo — é uma forma poderosa de reconectar-se com essa habilidade.
A proposta é simples, mas transformadora: valorizar a criatividade como ferramenta de mudança social, profissional e pessoal.
No fim, todo mundo é criativo. A diferença está em quem pratica, em quem se permite explorar e em quem cria espaço para a curiosidade florescer.
Seja no trabalho, nos estudos ou na vida cotidiana, despertar a criatividade é também despertar o seu potencial humano.
Como despertar a criatividade? Comece olhando para o mundo com outros olhos. E para si mesmo, com mais generosidade.
Fonte: RH Portal