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Como driblar o tabu e falar sobre saúde mental com o seu chefe

Como driblar o tabu e falar sobre saúde mental com o seu chefe

12 de novembro de 2020 / Carreira / por Comunicação Krypton BPO

Especialistas dão dicas para profissionais que sentem a necessidade de falar sobre o assunto e para empresas que querem ser psicologicamente seguras

Se você juntar o ambiente competitivo nas empresas, a alta da taxa de desemprego no Brasil e o crescimento de problemas psicológicos na pandemia, o resultado é o trabalho ganhando peso nas discussões centrais sobre saúde mental.

Seja em empresas com políticas ativas de acompanhamento da saúde mental ou em outras que ainda engatinham na questão, o trabalhador se pergunta: é inteligente abordar a chefia e ser transparente sobre sua saúde mental e problemas psicológicos? Como fazer isso?

Dados de uma pesquisa realizada pela Vittude, empresa que reúne psicólogos online e oferece serviços a empresas, mostram que 47% das pessoas não se sentem à vontade para falar de saúde mental com o RH e 45% não se sentem à vontade para falar sobre o assunto com o chefe. Em seguida, estão os colegas de trabalho. 35% das pessoas não se sentem à vontade para conversar com eles.

Para a psicanalista Glaucia Leal, é importante que o funcionário perceba quem é seu chefe, quem está na posição de liderança, antes de decidir ser transparente. Às vezes, segundo Glaucia, o caminho de buscar ajuda psicológica independentemente de comunicar a chefia pode ser o melhor.

“Muitas vezes os chefes também têm problemas emocionais. A pessoa pode não estar habilitada para perceber questões emocionais nem em si mesmas, quem dirá no outro. A gente tem que perceber quem está na nossa frente. Ele vai entender que eu não estou bem? Apesar disso, é necessário buscar algum tipo de escuta, um atendimento psicológico”.

A CEO e fundadora da Vittude, Tatiana Pimenta, defende que a liderança dê o exemplo, abrindo espaço que se fale de saúde mental e os canais para isso sejam criados.

“As pessoas precisam falar, quebrar o tabu. Elas falam que vão ao dentista, mas não à terapia. Falta ambiente de segurança psicológica, onde possam falar abertamente sobre saúde mental, mas as pessoas não se sentem à vontade. Cuidar na nossa saúde é nossa responsabilidade, mas a gente não pode deixar de pensar que a empresa tem responsabilidade”.

A psicanalista destaca que no ambiente de trabalho as pessoas nem sempre estão em posição de acolhimento e que é importante para a pessoa não depender disso. Apesar da necessidade de se fazer escutar, é necessário se responsabilizar.

Quebrar o preconceito em si mesmo é o primeiro passo para conseguir falar sobre saúde mental, na visão de Susanne Andrade, escritora na área de carreira e coach.

“O primeiro ponto para o colaborar é se olhar como ser humano e não se sentir culpado por estar passando uma situação de transtorno mental. Isso é um movimento interno. O que faz com que as pessoas deixem de verbalizar é o medo de ser julgado”, argumenta.

A especialista também defende que as pessoas procurem colegas no trabalho com quem tem relação de confiança. Depois desse acolhimento, a abordagem no líder pode ser menos assustadora.

Abordar a chefia com soluções mais práticas é um dos conselhos de Susanne. Ajustes na rotina do trabalho e mudanças de área são exemplos. E isso só pode ser conquistado com comunicação clara.

“O colaborador vai precisar negociar, de uma forma que ele consiga produzir e ter um bem estar maior. Então, tem um movimento que começa internamente e tem o movimento de negociar estratégias para ele produzir melhor. Isso faz bem para a empresa e para o trabalhador”.

Apesar de reconhecer os benefícios da transparência, Susanne ressalta que os funcionários não precisam necessariamente abordar essas questões de sua saúde mental. Se a pessoa não se sente bem, não existe problema em não revelar.

CEO da startup BeeTouch, que oferece soluções em saúde e bem-estar para organizações, Ana Carolina Peuker reforça o coro de que é necessário criar um ambiente com segurança psicológica e que isso é um investimento para as empresas, que têm bons retornos em produtividade e redução de gastos com saúde. Ana Carolina lembra, porém, a importância do funcionário se responsabilizar.

“Quando não há canais, os funcionários devem ter uma postura ativa, procurar a ouvidoria, que é algo que as empresas têm. Também há uma responsabilidade do trabalhador pela sua saúde mental. O que você faz com sua vida depois do trabalho também importa.”

O trabalho é visto na psicologia como organizador psíquico. Para Glaucia Leal, é compreensível que as pessoas tenham dificuldade de falar sobre saúde mental nele porque não querem afetá-lo.  

A psicanalista também defende que uma de se proteger de episódios de burnout, manter a saúde equilibrada e não deixar que aspectos do trabalho atinjam outras áreas da vida é dar a cada aspecto da vida um valor correto.

Assim, quando há projetos pessoais e profissionais, um problema em algum deles “não toma conta do todo”.

Saúde mental, pandemia e trabalho

No Brasil, 9,3% das pessoas têm algum transtorno de ansiedade, segundo dados de 2019 da Organização Mundial da Saúde. E o trabalho está diretamente ligado a isto.

Mesmo que as pessoas reconheçam os benefícios do home office, 43,7% das pessoas que fazem o trabalho remoto relataram aumentos nos problemas psicológicos como depressão, ansiedade e de concentração, de acordo com uma pesquisa da Workana, startup que reúne freelancers.

Já uma pesquisa da consultoria Falconi aponta o crescimento de casos de depressão, burnout e distúrbios emocionais por aqui durante a pandemia, com 37% das empresas registrando aumento de doenças psiquiátricas.

Além da pressão e competição, a psicanalista Glaucia Leal destaca que o trabalho é um espaço propício para que questões emocionais aflorem porque ali existem pessoas que você não escolheu para conviver, além das cobranças e competição.

Glaucia Leal também destaca como no mercado de trabalho o transtorno mental pode ser mal interpretado.

“A doença mental está associada a uma desvalorização da própria imagem. De forma preconceituosa, as pessoas enxergam assim: se uma pessoa não tem controle das emoções, ela é não é boa.”

O papel das empresas

Apesar de reconhecer a necessidade de autoconhecimento, cuidado consigo mesmo e de se responsabilizar pela saúde mental, todos os especialistas ouvidos pela EXAME ressaltam a necessidade de as empresas criarem um ambiente que favoreça a saúde mental, sem tabus.

Chefes que expõem suas vulnerabilidades são, inclusive, boas formas de estimular uma comunicação melhor sobre os problemas dentro das equipes.

A Vittude e a Bee Touch são exemplos de negócios que oferecem soluções para empresas que estão sensibilizadas em melhorar a saúde mental dos funcionários.

Na Vittude, o foco está em oferecer oferecer planos de psicoterapia para que os funcionários da empresa possam utilizar. Já a Bee Touch oferece soluções para rastrear riscos psicológicos na equipe, com estratificação desses riscos.

Na visão da CEO Ana Carolina Peuker, da Bee Touch, ações de saúde mental nas empresas devem ser sistêmicas, baseadas em diagnósticos das equipes e alinhadas com o que os colaboradores querem.

A executiva, que também é psicóloga com carreira acadêmica, explica que falta “alfabetização emocional” na sociedade e isso é refletido no ambiente de trabalho.

No rastreamento de riscos da Bee Touch, todo o trabalho é ligado KPIS (Indicadores de performance, na sigla em inglês) da empresa.

“No mundo pós-pandemia, a empresa que se preocupar com a segurança psicológica vai estar blindada. defende.

Para criar essa segurança psicológica, o caminho vai além de oferecer psicoterapia como benefício. É diagnosticar os riscos do ambiente inseguros psicologicamente e trabalhar a prevenção. Riscos invisíveis, como preconceito contra minorias, não podem deixar de estar na mira desse acompanhamento.

Fonte: Exame

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