“Precisamos dar voz a lideranças que possam abrir os olhos para uma gestão de pessoas mais humana, consciente e inspiradora”.
Registros confirmam o uso do termo employee experience pela primeira vez nos Estados Unidos em 2017. Criado na compreensão de que funcionários mais felizes proporcionam melhores resultados, o termo foi evoluindo com o tempo e ganhando mais dimensões e espaço dentro das empresas. Organizações despendem enormes montantes de recursos em benefícios, escritórios inovadores, ferramentas para promover flexibilidade, entre outros. No entanto, falham em resolver talvez o maior problema na experiência do colaborador: o relacionamento com o chefe.
Segundo pesquisa realizada pela consultoria de recrutamento Michael Page, 8 em cada 10 pessoas pedem demissão por causa do gestor. Ou seja, de nada adiantam salários ou benefícios se uma liderança mal preparada é capaz de afastar até o mais empenhado funcionário. Mas, afinal, o que é uma boa liderança? Aspectos técnicos são mais relevantes que comportamentais? Que medidas que eu, como gestor, posso adotar para gerar maior bem-estar entre meus funcionários?
A verdade é que não há regra. Pessoas funcionam de formas diferentes e seu papel como gestor é identificar essas particularidades e ajustar seu modelo de gestão para apoiar colaboradores de diferentes formas. E, para que isso seja possível, há sim algumas ações que podem ser adotadas para tornar essa difícil tarefa um pouco mais fácil.
A primeira delas é, na verdade, um desafio durante a pandemia: fazer-se presente no dia a dia dos funcionários. A distância geográfica causada pelo home-office mudou as dinâmicas de todas as empresas em escala global. Algumas ainda não acharam um modelo ideal, mesmo quase um ano após o início das restrições, para criar um espaço de interação entre funcionários no ambiente digital. Mesmo com a rotina corrida, é importante reservar alguns minutos da agenda da equipe para uma conversa, seja para rever a agenda do dia, ou simplesmente para promover um bate papo.
Nesses momentos, é importante ouvir atentamente comunicações verbais e não verbais. O bom líder cria espaço de conversa com seus funcionários para que demonstrem, sem restrições, suas opiniões, anseios, contextos, objetivos, levando esses dados para seu desenvolvimento. Com a proximidade da rotina, fica mais fácil também identificar comunicações não-verbais, que se traduzem em feições mais preocupadas, tristes ou desanimadas. Uma conversa a dois pode ajudar na solução de problemas e dar o incentivo que o funcionário precisa.
E não é apenas o funcionário que deve se abrir. Quando o próprio líder se coloca em uma posição mais vulnerável, mostra que também possui falhas e está num processo de aprendizado, o que contribui para o funcionário sentir-se mais confortável em se abrir. O bom líder não é aquele que sabe tudo, mas sim aquele que está disposto a evoluir ao lado de seus funcionários e aprender tanto quanto eles no desenvolvimento da equipe, de forma individual e conjunta.
Por fim, é importante que cada funcionário saiba do seu papel nesse desenvolvimento. Todos queremos nos sentir cuidados, importantes e valorizados. O bom líder mostra de que forma cada membro da equipe agrega, quais skills os tornam diferentes e como seu trabalho é essencial na busca pelos objetivos. Isso constrói não só o tão importante sentimento de dono como os motiva a buscar o desenvolvimento contínuo para seguir colaborando cada vez mais.
A Vitalk, que foi criada com a missão de promover o cuidado do bem-estar emocional no ambiente corporativo, lançou a campanha “Líder que Sabe Lidar”, justamente para destacar a importância de uma liderança que sabe lidar consigo, com os outros e com as emoções. No dia 2 de fevereiro, reunimos num webinar grandes líderes do mercado, como Luiza Helena Trajano, presidente do Conselho da Magazine Luiza e do Grupo Mulheres do Brasil; Pedro Thompson, CEO da Exame; Maite Schneider, cofundadora da Transempregos e da Integra Diversidade; Lisiane Lemos, LinkedIn Top Voice e cofundadora da Conselheira101; e Eduardo Migliano, cofundador da 99 Jobs.
Esse primeiro encontro, que serviu de inspiração para este artigo, deixou claro que o caminho para se tornar um bom líder não é fácil. Não será um simples treinamento que mudará lideranças da noite para o dia. Não só precisamos conversar mais sobre o assunto como também dar voz a lideranças que possam abrir os olhos para uma gestão de pessoas mais humana, consciente e inspiradora. Esse é o caminho que empresas em todo o mundo devem seguir e aquelas que demorarem a enxergar a importância da liderança na promoção do bem-estar terão mais trabalho para correr atrás do prejuízo.
* Michael Kapps
Fonte: Exame