A tomada de decisão, ainda que demande um trabalho estratégico e lógico, não é um processo puramente racional. Ao contrário do que se possa supor, esse processo envolve mais a emoção do que a razão. Estudos centrados na neurociência revelam que as emoções desempenham um papel fundamental, despertando sentimentos de bem-estar, autoconfiança e também de insegurança, estresse ou ansiedade. Essas sensações, apesar de bastante particulares, influenciam diretamente o desenvolvimento dos próximos passos de um plano que, às vezes, pode envolver indiretamente outras pessoas e gerar impactos em grande escala.
Dos processos cerebrais, o de tomada de decisão, sem dúvida, é um dos mais presentes no cotidiano. Toda ação é consequência do processamento de informações pelo cérebro, o que envolve reações físicas, como impulsos nervosos e liberação de hormônios. A maneira que esses processos ocorrem é bastante pessoal e variável, já que recebem interferências de personalidade, humor e carga genética de cada pessoa, além de fatores externos nem sempre previsíveis.
“Apesar de todo o conhecimento disponível, ainda hoje seguimos com a expectativa de que o ser humano é um animal majoritariamente racional, e que seríamos de alguma forma capazes de tomar decisões ‘neutras’, isentas das respostas emocionais”, destaca Thaís Gameiro, neurocientista e sócia da Nêmesis. “Esse conceito ainda se perpetua, reforçando ideias de que ambiente de trabalho não é lugar para emoções e de que bons profissionais são aqueles que conseguem agir sempre de forma racional”, acrescenta.
Entretanto, a neurocientista frisa que a sociedade passa por um período de transição. Cada vez mais empresas estão se conscientizando e investindo no equilíbrio entre aspectos emocionais e racionais no ambiente de trabalho. “As emoções só atrapalham a tomada de decisão quando fogem do controle. Quando estamos muito empolgados ou irritados, por exemplo, é difícil parar para avaliar nossas atitudes, sendo comum tomarmos uma decisão de maneira mais impulsiva”, explica Thaís.
As emoções no processo de tomada de decisão
Quando uma decisão leva a uma ação impulsiva, significa que a amígdala, região do cérebro associada ao processamento de emoções, torna-se mais ativa que o córtex pré-frontal, responsável por regular as emoções. “Nesta dinâmica de ativação cerebral, as emoções acabam sobrepondo nossa capacidade de autocontrole, o que, por sua vez, reduz a nossa capacidade de tomar boas decisões. Quando estamos tranquilos, o córtex pré-frontal se torna mais ativo, fazendo com que ambas as regiões ajam de forma coordenada, contribuindo de maneira mais eficiente para o processo de tomada de decisão”, explica Thaís.
O estresse é um dos fatores que favorecem atitudes mais impulsivas. Ele estimula a ativação de regiões do cérebro associadas à resposta defensiva, dentre elas a amígdala. Thaís destaca que a resposta decorrente do estresse gera impactos negativos, tanto a nível pessoal quanto coletivo, prejudicando a capacidade de comunicação, concentração, planejamento e reduzindo a velocidade de processamento das informações.
Além de tornar o processo de tomada de decisão menos eficiente, a resposta do cérebro ao estresse ativa o Sistema Motivacional Defensivo, relacionado a comportamentos de autopreservação, o que estimula posturas individualistas e de resistência. “Não é à toa que percebemos um número cada vez maior de organizações investindo em treinamentos e estratégias capazes de favorecer o autoconhecimento e o autocontrole dos seus colaboradores. Este tipo de investimento tem diversas vantagens para as organizações, dentre elas a melhora no processo de tomada de decisão”, reforça a neurocientista.
Atitudes para melhorar a tomada de decisão
A qualidade do processo de tomada de decisão depende da capacidade do cérebro de antecipar cenários. Exercitar o autocontrole e interromper situações que inflam os níveis de estresse são fatores importantes para a busca do equilíbrio, como destaca Thaís, que pontua mais três práticas determinantes para decisões assertivas. “Tornar os desfechos das nossas decisões mais tangíveis; ter o máximo de informação a respeito do assunto, de preferência com diferentes perspectivas; e, sempre que possível, restringir o número de caminhos ou opções disponíveis”, acrescenta.
Além disso, a busca constante pelo autoconhecimento, tanto da mente quanto do corpo, é uma prática que ajuda a aprimorar um olhar mais analítico sobre o estado emocional e lidar melhor com diferentes sentimentos. A Inteligência Emocional, capacidade de reconhecer diferentes emoções e usá-las a seu favor, é uma competência que deve ser priorizada por profissionais que queiram se destacar.
Fonte: Administradores
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