A geração millenial, que um dia “abalou as estruturas”, agora tem alguns de seus hábitos questionados. É o ciclo da vida.
Quem já estava no mercado de trabalho em meados da década de 2010, deve se lembrar da longa e extensa discussão sobre os novos talentos que vinham por aí. Na agenda dos eventos de recursos humanos, sempre tinha algum conteúdo sobre a Geração Y e as mudanças que ela representava.
Qual era a mentalidade dos millennials? Qual era a nova relação deles com o trabalho? O que eles esperavam da liderança das empresas? Por que eles mudavam de emprego em vez de ficar no mesmo lugar quase a vida toda como as outras gerações?
Enfim, uma série de dúvidas em torno dos jovens que, aos poucos, chegavam no mercado de trabalho. Perguntas que revelavam uma curiosidade, sim, mas também uma estranheza. Afinal, por que aquela “moçada” se comportava daquele jeito?
Do outro lado, os millennials também tinham seus questionamentos e achavam que muitas coisas poderiam ser diferentes, precisavam mudar, estavam ultrapassadas.
Toda essa memória foi resgatada nos últimos dias enquanto observava o burburinho em torno do termo, adivinhe, “cringe”. A geração que um dia “abalou as estruturas”, agora tem alguns de seus hábitos, gostos, estilos questionados e, veja só, rotulados como “vergonha alheia”. É o ciclo da vida, um dia você é pauta por representar o novo, no outro você virou notícia por ser cringe.
Nascida nos anos 60, ou seja, fora do centro desse debate atual, eu apenas observava toda a conversa que rendeu de memes a ações de marketing digital, de boas risadas a algumas torcidas de nariz de quem não gostou de ter o seu café ou boletos considerados démodé, de bate-papos descontraídos ao resgate de um velho assunto que tanto escutei lá em 2010: o conflito geracional.
Particularmente, nunca fui fã do termo. Não porque é cringe, mas por entender que ele leva o debate para uma discussão um tanto quanto contraproducente.
Falar em conflito pressupõe sempre a lógica de um contra o outro e, inconscientemente, fica aquela ideia de que haverá um vencedor no final. São debates para discutir quem tem mais razão, quem deve se “render” ao outro, quem está certo e quem está errado — e nada disso contribui para avançarmos na pauta.
Claro, entendo que existem, sim, conflitos que permeiam as relações entre as pessoas e, portanto, entre as gerações, mas olhar a questão somente por esse prisma tira o foco do essencial, que é tentar entender o outro, ter empatia e aprender a caminhar junto. Por isso, prefiro falar em “encontro de gerações”.
Pode parecer um detalhe, mas acredito que essa perspectiva traz uma diferença importante para o debate. Todos nós, invariavelmente, teremos que lidar com profissionais de idades diferentes, de épocas diferentes, de vivências diferentes; sendo assim, por que não pensarmos em uma forma de unir essas bagagens em vez de ficar em um duelo sem fim?
Diferenças podem trazer conflito? Podem, mas entendê-las somente como fonte de disputa e briga empobrece uma questão que precisamos lidar cotidianamente, seja no ambiente profissional seja nos relacionamentos pessoais. Então, se, quer queira quer não, vamos conviver com gerações variadas, que seja de forma harmônica!
E é nesse sentido que o encontro de gerações nos ajuda, promovendo:
A conversa sobre ser ou não cringe faz parte de uma brincadeira e longe de mim polemizar algo que é para ser divertido. Mas sempre me parece interessante ver como, de tempos em tempos, alguns debates nos remetem a discussões passadas no mundo do trabalho.
E, no caso desse bate-papo rumar para uma discussão mais acalorada, já sabe: substitua o conflito de gerações pelo encontro — de preferência, um encontro com opções variadas de bebidas, porque o café, ao que tudo indica, é cringe.
Fonte: Exame