A saúde emocional do RH também merece atenção, pois quem cuida dos outros precisa de apoio para manter seu próprio equilíbrio e bem-estar no trabalho.

Durante muito tempo, idealizamos o RH como a área que acolhe, escuta e conduz. Como se esse setor fosse uma espécie de bússola emocional sempre firme, disponível e preparado.

Mas há um detalhe que, por vezes, esquecemos: atrás de cada escuta, existe alguém que também sente, e a saúde emocional do RH é crucial para o bem-estar de toda a organização.

A grande verdade é que a rotina desses profissionais é marcada por decisões sensíveis, conversas difíceis, escutas emocionais profundas e, não raramente, intervenções em cenários de sofrimento humano.

São eles que recebem os impactos mais imediatos de uma crise, os primeiros a acolher um luto, uma doença, a identificar um colaborador em sofrimento silencioso, a propor soluções diante do caos e os últimos a desabafar.

Ainda assim, o cuidado com quem cuida parece não ter o mesmo valor ou urgência. Segundo o estudo Panorama da Saúde Emocional do RH, produzido pela Flash People, unidade de negócios da Flash, nove entre dez profissionais de Recursos Humanos se sentem sobrecarregados em suas rotinas corporativas.

Além disso, 59% alegam sentir níveis elevados de pressão. A pesquisa mostra que 64% dos profissionais de RH respondentes afirmam ter tido algum problema relacionado à saúde mental no último ano.

A ansiedade foi o sintoma mais citado (41%), seguido por falta de motivação (16%), Burnout (4%) e, por fim, depressão (3%).

Isso precisa nos fazer refletir: como uma organização pode cuidar verdadeiramente de sua cultura, de seu capital humano, se negligencia justamente quem cuida da base afetiva desse ecossistema?

Mais do que uma função, o RH tornou-se o coração emocional das empresas. Mas quem está monitorando o batimento desse coração? Quem percebe quando ele começa a falhar, não por fraqueza, mas por exaustão?

O impacto da saúde emocional do RH na cultura organizacional

Quando o RH começa a adoecer, não é apenas um sinal de que há sobrecarga. É um alarme sistêmico de que há algo na cultura organizacional que precisa ser urgentemente revisto.

Porque quando o espaço que deveria sustentar o bem-estar está implodindo por dentro, é a organização inteira que está em risco e é nesse ponto que precisamos ficar atento.

Há uma crença equivocada de que quem escuta bem não precisa, por sua vez, ser escutado.

Esse processo se consolida no invisível: na falta de suporte psicológico, na ausência de lideranças que ofereçam escuta de volta e no acúmulo de conflitos alheios que nunca encontram descompressão.

Poucas empresas percebem, mas quando o RH está cansado demais para criar, engajar ou transformar, isso se espalha.

Porque é ele quem costura vínculos, traduz conflitos, segura as pontas invisíveis da convivência. Se esse elo adoece, a cultura começa a rachar por onde não se vê: desmotivação, aumento de turnover, conflitos não mediados, líderes despreparados emocionalmente.

A conta chega e ela é bem alta.

Por isso, é preciso parar de esperar que o RH apenas resista. É preciso construir políticas que sustentem emocionalmente essa área.

Supervisão especializada, espaços de escuta estruturada, apoio terapêutico e rituais de cuidado coletivo. É investimento em inteligência relacional, a habilidade mais valiosa para qualquer organização que queira ser longeva.

O RH não é um departamento e sim um campo sensível onde a cultura se manifesta, os conflitos se transformam e o humano encontra espaço para existir dentro da engrenagem corporativa.

Se esse espaço adoece silenciosamente, o que acontece com o restante da empresa?

A maturidade de uma organização se mede também por como ela cuida de quem cuida e se ainda estamos ignorando os alertas do emocional coletivo, talvez não sejamos tão estratégicos quanto acreditamos ser.

Fonte: RH Portal