A demissão não precisa ser um trauma: ela pode ser a chave para novos horizontes.
A demissão é o momento de luto na vida de qualquer pessoa. A notícia cai feito uma bomba e automaticamente passa um filme na cabeça do demitido com a seguinte pergunta: E agora, o que vou fazer?
Ainda, há dois elementos importantes: a forma e a circunstância em que a notícia é comunicada. Alguns gestores se preparam para comunicar a demissão de forma humanizada, com empatia e, especialmente, com a certeza de que tomou todas as ações e chances necessárias que o funcionário poderia ter na companhia.
Outros gestores não se preparam para realizar a demissão, e, infelizmente, em alguns casos, faz o processo na frente de outros colaboradores. A falta de preparação, combinada com o momento do isolamento social e falta de perspectivas sobre o futuro enquanto perdura a pandemia mundial, gera inúmeras demissões sem os cuidados necessários, gerando na pessoa demitida uma grande dor, além dos eventuais problemas com a saúde mental.
A demissão humanizada não tira a dor do processo, mas minimiza essa dor. Para quem é demitido, observa-se o cuidado que a empresa teve com seu processo e com sua vida; o reflexo na família do demitido também chega.
Eu ouvi vários casos de pessoas demitidas e suas famílias, que passaram a odiar a empresa, ou até mesmo a pessoa do gestor. Isso acaba reverberando na comunidade ou até na marca empregadora.
Por isso, muitas empresas estão aderindo à demissão humanizada. Um processo de desligamento do funcionário bem menos traumático e mais suave, com explicações diretas sobre seus direitos e valores, com oportunidade de expressão e perguntas dos mais variados tipos do ex-funcionário para seu ex-empregador.
Esse tipo de desligamento já é praticado desde os anos 80 para os altos executivos, mas somente agora chega para o grande público. É uma maneira que as empresas encontraram de tornar a experiência dos seus colaboradores mais interessante, além de gerar um melhor clima organizacional e fazer com que seu ex-funcionário não tenha nenhuma questão pendente, evitando ações trabalhistas e exposições desnecessárias, tanto para a empresa, quanto para o agora ex-funcionário.
Para se ter uma ideia, apenas no mês de abril deste ano, houve um aumento de 451,3% na quantidade de ações trabalhistas ingressadas, em relação a março do mesmo ano e 40% das ações trabalhistas são relativas às discussões de verbas rescisórias. São números muito grandes para serem ignorados, e eles podem ser revistos se as empresas compreenderem que o ex-funcionário demanda um tratamento mais humano, calmo e descomplicado quando for desligado, diminuindo muito a necessidade de procurar um advogado para entender todos aqueles textos contábeis e jurídicos dos documentos que precisam ser assinados.
Para o ex-colaborador, os benefícios são muitos, pois é uma saída menos traumatizante. O tempo de luto pela perda do emprego é menor e, por isso, ele pode se reinventar ou se atualizar mais facilmente, uma vez que o processo foi muito mais fácil. E para a empresa, sua imagem no mercado e entre seus funcionários, fica muito mais fortalecida, gerando um clima organizacional muito mais ameno e otimista, e ainda diminui a possibilidade de processos trabalhistas.
A demissão humanizada é o tipo de ação que ainda está se estabelecendo no País, mas que tem vantagens consistentes para os dois lados da mesa. A contratação pode ser um momento de empolgação e de deslumbramento, mas a demissão pode ser um momento de reflexão e compreensão. Não precisa ser um trauma, pode ser só a chave para novos horizontes.
Fernanda Medei é advogada com especialização em direito tributário pela PUC- SP, e fundadora da Medei, plataforma especializada em promover demissões mais humanas e transparentes.
Fonte: Administradores