Antigamente, a contabilidade tinha a fama de ser uma profissão tradicional, pouco (ou nada despojada) e de ter tarefas repetitivas e manuais recheadas de cálculos, volume de papéis e muitos, muitos números. Mas a tecnologia automatizou processos e proporcionou que ela saltasse de um processo burocrático e manual, para se tornar uma área que entrega ainda mais valor para as empresas, além de ser o “anjo da guarda” da saúde financeira de qualquer negócio.
A contabilidade foi e é revolucionária ao longo da história, principalmente, quando se trata de impulsionar o uso de novas tecnologias e se adaptar a elas. Afinal, provavelmente, foi esta profissão que primeiro utilizou calculadoras para somar e fazer cálculos de impostos, e também deve ter sido uma das áreas precursoras dentro das empresas a usarem computadores. Na atualidade, a contabilidade impulsionou a utilização dos sistemas ERP, que transformaram os processos de negócios.
Ela se posiciona em um local de vanguarda, muitas vezes por necessidade e outras por mérito próprio. A contabilidade precisou se adaptar rapidamente para proporcionar que vários setores das empresas soubessem o que estava acontecendo, além de garantir um sistema financeiro confiável e sustentável.
Ou seja, os profissionais da contabilidade precisavam aprender tecnologias avançadas para poder desempenhar suas funções, cada vez mais complexas.
A chegada da tecnologia transformou ciclos. Os sistemas de contabilidade super avançados fazem interface com as empresas em tempo real. Os auditores, que antigamente aguardavam balanços trimestrais, hoje têm acesso a números e relatórios a todo instante, permitindo que informações financeiras sejam entregues de forma rápida, confiável, consistente e precisa, proporcionando uma mudança na velocidade com que as tomadas de decisão precisam ser feitas.
Essa mesma tecnologia possibilitou aos contadores buscar insights, acompanhar tendências, se inteirar das mudanças tributárias que acontecem diariamente, fazer um planejamento eficaz, agregando ainda mais valor à área e aos profissionais que a integram.
Nasce assim o cargo de CFO. O time de contabilidade mudou de patamar e conquistou uma posição central dentro dos negócios, ganhando voz e vez nas reuniões, se tornando o principal parceiro do CEO.
Longe de substituir o contador, a tecnologia o capacita para que ele conquiste níveis mais elevados, o que se traduz em um futuro positivo para a profissão. Os que estão chegando agora, já estarão inseridos na profissão assumindo funções estratégicas, resultado de tanta inovação. É um adeus para as atividades repetitivas e entediantes. Para aqueles que já estão há anos na carreira, vão se tornando cada dia mais consultores indispensáveis, os quais proporcionam análises essenciais para a manutenção da saúde financeira do negócio.
Ao refletirmos o passado e o presente da contabilidade, o sistema financeiro se beneficia como um todo. Trata-se de um momento marcante para todos os envolvidos, afinal, se uma micro, pequena, média ou grande empresa deixar de investir em profissionais talentosos e tecnologia para alavancar os negócios, ela, com certeza, enfrentará grandes problemas.
Edesio Martins de Castro é contador há 40 anos, e destes, são 29 anos na IOB, um dos principais players do setor. Hoje atuando como Consultor Tributário, ele afirma que foi ele mesmo quem escolheu a profissão, pois nos anos 80, quando começou a trabalhar no cargo de auxiliar de escritório, na área de contabilidade, Edesio era cercado por inúmeros contadores diariamente. Ele admirava a profissão. Logo, prestou vestibular e deu início ao curso de Ciências Contábeis, na FIG-UNIMESP, em Guarulhos.
Nessas quatro décadas de trabalho, ele presenciou todas as mudanças na profissão e relembra como era o início.
“Os lançamentos eram feitos à mão. Eu era o responsável em levantar os documentos, subir as caixas do arquivo morto (documentos não utilizados) para as conciliações serem feitas. Já na faculdade, fui promovido para um cargo responsável em localizar as divergências contábeis, quando os digitadores erravam algo nas planilhas de lançamento. Era preciso refazer todo o lançamento, digitar novamente e, às vezes, ficávamos a noite inteira envolvidos nisso. O nome do cargo era Auxiliar das Inconsistências Contábeis, que nem existe mais”, lembra Edesio.
Passados alguns anos, chegaram os primeiros computadores, afinal, desde aquela época as empresas de contabilidade, segundo ele, sempre foram as que mais investiram em tecnologia.
Outra responsabilidade de Edesio era cuidar dos livros contábeis diários, mandar para a encadernação e deixar tudo organizado para que outro colega, já graduado, levasse até a Junta Comercial para serem carimbados, que eram os registros na época. “Era preciso pegar um táxi, pois os volumes eram muito pesados e grandes”, relembra o contador.
Hoje, tudo é diferente. “Com a chegada da tecnologia há um ganho de tempo incalculável. Afinal, todos os departamentos inserem as informações direto no sistema para serem processados pela contabilidade. Depois, é só colher os resultados e fazer as análises. Não precisa gastar tempo para ir até a Junta registrar os livros. O envio é direto para a Receita Federal, que gera o número da autenticação do registro e tudo já está validado”, comemora Castro.
Além disso, ele destaca que tudo fica salvo em sistemas na nuvem, driblando o antigo problema de queimar o arquivo, o disquete, o HD, o CD ou o pendrive. “Se for preciso resgatar qualquer arquivo, está tudo no sistema BX que a Receita possui por meio do Sped. Temos acesso, a todo instante, aos dados da contabilidade e os livros diários”, diz o consultor tributário.
Segundo ele, o desafio hoje, sendo um contador que atua há 40 anos, é melhorar continuamente a tecnologia para ter um ganho ainda melhor do que já é realizado. “Seremos cada vez mais consultores, proporcionando informações para que empresários façam as escolhas certeiras que desenvolvam o empreendimento”, pontua.
“Não tive problema com a chegada da tecnologia, pois estava presente a cada um dos avanços e fui acompanhando automaticamente. O contador precisou e precisa estar conectado com as mudanças, afinal, no futuro da contabilidade não vamos preencher mais nada. Analisaremos a liquidez da empresa para passar informações aos diretores, se tornando uma profissão cada vez mais importante. Enfim, o aprendizado tecnológico sempre deve estar em primeiro lugar”, conclui Edesio.
Olívia Cardoso Scriboni atua como Consultora Pleno de Imposto de Renda. Há 18 anos na IOB, ingressou na empresa com o primeiro emprego no cargo de digitadora. Passou para a área administrativa de consultoria e ficou lá por dez anos. Em seguida, iniciou a faculdade de Ciências Contábeis, se formou em 2017 e se tornou trainee desta mesma área que está até hoje.
Ao longo da carreira, ela diz que conhecia bem os desafios que estavam pela frente ao atuar como contadora, realizando pesquisas de satisfação e consultorias constantes e, a cada dia mais, tomando gosto e se interessando pela contabilidade.
Sobre a importância da tecnologia na profissão, ela diz que “é fundamental, pois se perdia muito tempo com o operacional. A tecnologia proporciona um dia a dia mais fácil, a partir da automação de processos de declarações e sistemas. O contador passa a ter tempo para focar em análises e atuar de modo consultivo na rotina do cliente”, afirma a contadora.
Sobre o futuro da profissão, ela vê que seguirá no trilho da consultoria. “Por conta dos processos de automação e tecnologia, o contador consegue trabalhar outros pontos para o cliente, trazendo informações, realizando inúmeras pesquisas e análises, para participar do que é mais importante. Além de propor ações, fazer apuração de tributo, lançamento contábil e ter tempo para estudar mais a fundo o negócio do cliente”, enfatiza.
Para finalizar, Olívia diz que, ao mesmo tempo que a tecnologia auxilia na automação, também é um desafio. “Precisamos estar constantemente atualizados. As mudanças tributárias e fiscais são inúmeras e buscar conhecimento tecnológico para poder administrar tudo é fundamental. Não tem um dia que saio do trabalho sem aprender algo novo”, finaliza.
Fonte: Jornal Contábil