Com o Pacto Global da ONU (Organização das Nações Unidas) e o passar dos anos, o engajamento e apoio às empresas em relação ao movimento sustentável já se faz presente em 160 países em mais de 18 mil organizações, de acordo com Carolina Paci, gerente de ODS e engajamento da Rede Brasil do Pacto Global.
Em workshop sobre “Pacto Global: Agenda 2030 e a estratégia dos negócios”, no II Fórum Capitalismo Consciente, a representante mostrou qual é o objetivo da última agenda organizada pela Organização Mundial: “Agenda 2030 é a nossa Declaração Global de Interdependência e é de todos nós”.
O papel das empresas é cuidar do meio social para todas as frentes, seja governo, sociedade civil ou empresas, por exemplo. “Estamos vivendo um momento fragilizado. As empresas não sobrevivem mais fazendo o tradicional, as empresas precisam enfrentar os desafios da sociedade”, diz Carolina Paci.
Ainda segundo a representante, as empresas precisam desenvolver soluções para os desafios globais, redefinir seu sucesso com base em propósito e promover uma liderança centrada no ser humano. “A agenda com norte para 2030 tem um papel essencial para o alcance dos objetivos. A principal maneira que as empresas podem trabalhar a caminho das ODS é integrando elas na estratégia de negócio, desenvolvendo soluções inovadoras e disruptivas que contribuam para esse alcance, e disseminando a agenda 2030 e os ODS”, complementa.
ODS e princípios – E para falar dos princípios, entre os 10 pilares estão os Direitos Humanos (as empresas devem apoiar e respeitar a proteção de direitos humanos reconhecidos internacionalmente; assegurar-se de sua não participação em violação destes direitos); Trabalho (as empresas devem apoiar a liberdade de associação e o reconhecimento efetivo do direito à negociação coletiva; a eliminação de todas as formas de trabalho forçado ou compulsório; a abolição efetiva do trabalho infantil; eliminar a discriminação no emprego); Meio Ambiente (as empresas devem apoiar uma abordagem preventiva aos desafios ambientais; desenvolver iniciativas para promover maior responsabilidade ambiental; incentivar o desenvolvimento e difusão de tecnologias ambientalmente amigáveis); Anticorrupção (as empresas devem combater a corrupção em todas as suas formas, inclusive extorsão e propina).
Entre os cinco passos da integração das ODS estão: 1 – Entender os ODS (a familiarização com os ODS); 2 – Definir prioridades (avaliar os impactos atuais e potenciais, positivos e negativos do negócio para enxergar e aproveitar oportunidades e reduzir os riscos); 3 – Estabelecer metas (alinhadas ao maior nível hierárquico da organização, considerar as metas do ambição pelos ODS como referências), 4 – Integrar à estratégia de negócios (integrar a sustentabilidade na governança e nas atividades desdobrando as metas dentro da organização); e 5 – Comunicar o progresso (relatar as informações aos stakeholders).
Atualmente, as ODS planejadas em 2015 para a Agenda 2030 contam com 17 objetivos, 169 metas e 231 indicadores. Para a implementação de cada passo e objetivo, Carolina Paci afirma “é olhar para as metas e saber quais têm sinergia com seu negócio”.
É importante também considerar a magnitude, gravidade e probabilidade de impactos negativos atuais e potenciais; as probabilidades como uma nova regulamentação, escassez de recursos ou mercado, interrupções na cadeia de abastecimento; e também as oportunidades de crescimento a partir de seus atuais ou potenciais impactos positivos em todos os ODS.
Carolina Paci explica também no workshop que a ODS é uma ferramenta de médio a longo prazo com foco em sustentabilidade (econômico, social e ambiental) e que este tripé é um braço do ESG (governança, social e ambiental). E que para avaliar a empresa a partir delas, é preciso levar em conta o contexto (setor, localidade, diretriz sede, desafios globais), o público interno (engaje áreas chave para entender a realidade diária e ter acesso às informações), e o público externo (consulte stakeholders relevantes, como especialistas, formadores de opinião, redes).
Sustentabilidade já é um tema ultrapassado
Pensar em saúde mental inclui pensar no ambiente em que vivemos. Em painel sobre “Cuidado emocional a serviço da liderança do futuro”, no II Fórum Capitalismo Consciente, Natália Maria Rapassi Dias Melo, CEO do Standard Bank Brasil falou sobre as mudanças de consumo e desafios que temos no meio em que vivemos junto de Viviane Sales, vice-presidente da BU de benefícios corporativos Creditas At Work e Rui Brandão, cofundador e CEO do Zenklub, com mediação de Cassia Messias, Chief Operating Officer do Zenklub.
“Sustentabilidade já é um tema ultrapassado, a gente deveria estar discutindo regeneração. A boa notícia é que o ESG virou um assunto debatido aqui no Brasil. A gente fez muito como os países já desenvolvidos e focamos no E de ambiente. Como podemos ter um impacto maior no S que é o social?”, questiona Natália Melo. “Isso tudo que vem acontecendo tem impactado na saúde mental das pessoas, está tudo conectado.”
De acordo com Viviane Sales, o brasileiro não está só endividado, mas mal endividado. “Por exemplo, entrar em um cartão rotativo, são mais de 200% de juros ao ano. A maioria das pessoas não sabe no que estão entrando, elas entram em uma bola de neve e não sabem mais como sair, ela fica negativa e não tem crédito em lugar algum. Isso gera um estresse e o colaborador gasta em média 1h30 no dia a mais por conta desse estresse, ele dorme menos, e a maioria desses trabalhadores está procurando emprego para ganharem mais. A empresa estar ciente disso é benéfico para tentar reter esse colaborador e ajudar para o bem-estar desse funcionário”, diz a VP da BU, além do impacto que a pandemia trouxe para grande parte dos brasileiros
Dessas pessoas endividadas, cerca de 81% tiveram impacto físico, como ansiedade e depressão. “Quando você pensa no papel da empresa, a empresa está em um papel favorável, ela tem um papel de referência para o colaborador”, afirma Viviane Sales. “A empresa consegue oferecer empréstimo consignado para o colaborador, coisa que o funcionário sozinho não consegue já estando endividado.”
Outro ponto abordado na palestra é a falta de acesso para o funcionário comprar um fogão, por exemplo, para fazer comida, se preocupando com a alimentação. Isso influencia no âmbito familiar e começa a pesar junto no ambiente de trabalho.
O mundo da diversidade também precisa de um olhar. “A gente precisa permitir que as mulheres e filhos delas saiam desses círculos limitadores. Falar de igualdade de gênero já é algo mais comum, mas também precisamos falar de igualdade racial. Não é só uma questão ética e moral da sociedade, é uma questão econômica também”, afirma Natália Melo.
Para o CEO do Zenklub, Rui Brandão, nós temos que olhar para a comunidade onde estamos inseridos. “Ansiedade e depressão continuam afetando milhões de brasileiros, o que nos dá otimismo é que estamos falando sobre o tema, quando falamos tomamos consciência e começamos a sentir”, afirma o representante. “Por exemplo, tivemos atletas, Naomi, Simone. Isso mostra um caminho a ser sinalizado. Ouvimos sobre burnout, as pessoas estão mais abertas a falar sobre o tema. De acordo com o DataFolha, 86% das pessoas gostariam que a empresa desse um auxílio para saúde mental”, complementa.
Por outro lado, cada vez mais como indivíduos vivemos em situações de poder, organizações onde as pessoas se doam. “Como a Viviane Sales falou, as pessoas confiam nas empresas, não só para questões financeiras, mas em que podemos começar a falar sobre saúde mental”, diz Brandão. “Se tivéssemos aprendido na escola empatia, sensibilidade e transparência, não teríamos tantas crises de ansiedade e depressão”, para o médico especialista em saúde mental e CEO, os transtornos vividos hoje vão para além da saúde mental, mas que deveriam ter como base a educação para prevenção.
A pandemia também foi um fator que pegou para muitas pessoas em relação à saúde mental, o que trouxe uma grande preocupação para as empresas.
ESG, entra ou fica fora, diz Luiza Trajano
As transformações, Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) e mudanças que vêm acontecendo com o mundo ESG foram abordadas em todos os âmbitos no II Fórum Capitalismo Consciente. Para fechar com chave de ouro, Luiza Helena Trajano, presidente do conselho de Administração do Magazine Luiza, liderou junto com Hugo Behtlem, chairman do Instituto Capitalismo Consciente Brasil (ICCB) o último bate-papo do evento sobre o papel das empresas na transformação do Brasil.
“O problema é que o capitalismo foi muitas vezes questionado, porque quando não é bom para si não é bom para ninguém. Isso é o que a gente precisa entender: que o ganha x ganha é bom para a sociedade”, diz Luiza Helena Trajano. Segundo a empreendedora, quando o mercado financeiro abraça, a coisa tem que ir rápida, é porque dá lucro. A presidente da gigante Magalu afirmou, ainda, que é necessário ter diversidade no ambiente de trabalho
Apoio aos colaboradores – Falando sobre vender bem e não dar chá de cadeira, Luiza Helena Trajano conta sobre a atenção que é preciso ter tanto com os funcionários, quanto com os clientes. “É fundamental as empresas darem apoio para os colaboradores e criarem uma rede consistente para que ele possa trabalhar com qualidade. Até anos atrás ninguém me escutava, não davam nada para aquilo que eu falava, agora escutam”, relatou.
Investimento em tecnologia – “Que risco eu vou pagar? Mas o que eu vou ganhar? Eu foco naquilo que pode dar certo, mas não deixo de arriscar”, conta sobre quando investiu em tecnologia em suas lojas, no meio digital, e que todos duvidaram que daria certo. “O digital é uma cultura, foi assim que fizeram grandes empresas e as empresas que não entraram nisso acabaram, um exemplo disso é a própria Kodak que era referência em fotografia”, complementa Luiza Helena Trajano.
Mudança de comportamento – Quando questionada por Bethlem se mudaremos a forma de pensar, Luiza Helena Trajano é categórica ao afirmar que não tenho dúvida que sim. “Sabe por que vai mudar? Porque o consumidor final mudou. Ainda tem quem entre nas lojas e diga que não vai comprar de negro ou homossexual, mas a maioria não, filma e logo está em todas as redes sociais.
A pandemia nos colocou dentro de casa e ficamos sem o externo. A fome também bateu forte e foi tudo escancarado, um país pobre como o nosso vende hoje para comprar amanhã. Isso foi pesado, para nós, para as crianças, o emocional, com o emprego, idosos com alzheimer, a doença da Covid veio para nos emocionar”, afirma a empresária.
Para Luiza Helena Trajano, dar dinheiro é importante, mas ter um plano estratégico para a desigualdade mercadológica é tão importante quanto. Sobre o Grupo Mulheres do Brasil, a CEO fala sobre seus pilares de defesa, que é ser uma mulher apartidária, mas sempre política, se posicionando sobre o que apoia, o que acha certo ou errado em meio a tantos acontecimentos nacionais e internacionais.
Geração de empregos -Entre os temas importantes para a CEO estão a geração de empregos e a recolocação profissional. “Eu quero dizer para o jovem que é commodity o que ele estudou, a pergunta é como ele lida com estresse, como ele lidou com a pandemia, é isso que os headhunters estão olhando no mercado de trabalho. As empresas descobriram que elas contratam pela qualidade técnica e mandam embora pelo comportamento”, afirma. Luiza Helena Trajano alerta que cada escolha que fazemos também gera perdas e temos que saber lidar com essas consequências.
“Ou entra ou fica fora, entra de dentro, entra verdadeiro”, fala Luiza Helena Trajano sobre a necessidade de todas as empresas estarem engajadas com a causa ESG, começando com os pequenos passos e implementando na calma. Bethlem reforça a fala da convidada, afirmando que é necessário sair da competição para a cooperação.
Escuta requer profundidade
Quais são os pilares de organizações evolutivas (teal)? E como traduzi-los na prática para uma cultura organizacional mais saudável e humanizada? Essas são algumas perguntas feitas por Henry Goldsmid, cofundador dos movimentos Reinventando as Organizações e Teal Brasil e Nara Nishitani, consultora em autogestão e culturas organizacionais regenerativas, para os participantes do workshop “As práticas das organizações evolutivas”. O treinamento aconteceu durante o II Fórum Capitalismo Consciente, do Instituto Capitalismo Consciente Brasil (ICCB), que aconteceu na semana passada.
Existem três elementos presentes em organizações com um estágio de consciência evolutiva, conhecidas como organização teal: integralidade, autogestão e propósito evolutivo. “Organizações tradicionais costumam deixar de lado esse lado espiritual e emocional, fazendo uma separação muito clara do “eu pessoal” para o “eu profissional”, e a integralidade das organizações teal incentiva compartilhamento de inseguranças e sentimento, sem receio de ser penalizado”, explica Goldsmid.
Ainda segundo o especialista, nas organizações teal a empresa é vista como um organismo vivo, em contraponto com as tradicionais que se enxergam como máquinas; e as organizações evolutivas apresentam uma ruptura da ideia de que a gestão é responsabilidade apenas do líder. “A possibilidade de compreensão abre mundos para termos uma comunicação mais assertiva e apontar para desafios e soluções em comum. Costumo dizer que é impossível aprender a nadar sem entrar na piscina, porque a mudança efetiva precisa ser prática e sair do campo conceitual”, reforça.
Neste contexto, o design organizacional é uma habilidade essencial para qualquer colaborador que quer vivenciar esse tipo de cultura. “A abordagem centrada no ser humano que permite melhorar a forma como as pessoas trabalham juntas e dão pequenos passos em sua jornada e evolução. É preciso ter a habilidade de ler o sistema e desenvolver uma escuta profunda”, finaliza o cofundador dos movimentos Reinventando as Organizações e Teal Brasil.
Fonte: Diário do Comércio