Setores demandam planejamento e investimentos
Energia também mereceu destaque nos especiais publicados pelo DIÁRIO DO COMÉRCIO. Ao todo, foram cinco publicações neste primeiro ano, seja em relação à importância do fomento a utilização de fontes renováveis ou sobre as mudanças previstas com a implementação do mercado livre para o consumidor, o tema vem sendo tratado de maneira a informar e conscientizar o empresariado mineiro acerca dos obstáculos, desafios e oportunidades que o setor tem a oferecer em suas diversas esferas.
Energia solar em Minas Gerais foi tema de uma série de três reportagens do projeto, com destaque para a matéria “Energia solar é esperança no Norte de Minas”. A reportagem publicada em fevereiro ressaltou que muitos municípios veem na geração desse tipo de energia a grande “oportunidade da vida” para reverter um quadro de pobreza rural agravado pela seca.
A região apresenta grandes extensões de terras pouco favoráveis à agropecuária, sendo bastante desvalorizadas por isso. No entanto, em se tratando de incidência de raios solares, a área é privilegiada em relação ao restante do território mineiro, o que torna a geração de energia em sistemas fotovoltaicos uma esperança para alavancar de vez a economia local.
Para isso, gestores públicos dizem que é preciso um olhar diferenciado para os pequenos empreendimentos para eles, estimular as micro e mini usinas é tão importante quanto incentivar as grandes. E que para que essa transformação se concretize, é preciso que os investimentos da Companhia Energética de Minas Gerais (Cemig) em linhas de alta tensão e na rede de distribuição acompanhem a velocidade de crescimento da geração distribuída na região.
Biogás e hidrogênio verde
A meta de Minas Gerais de zerar as emissões de carbono até 2050, firmada pelo governo ao se tornar signatário da campanha mundial Race to Zero, também esteve entre os assuntos publicados. Neste sentido, a produção de biogás, ainda pouco significativa no Estado, porém, com grande potencial, se destaca. O biogás surge da decomposição da matéria orgânica, uma vez que é produzido a partir do que descartamos. É versátil e pode ser usado na geração de energia elétrica, mecânica e térmica, além de gás natural renovável (biometano) para ser utilizado em veículos e na indústria.
A publicação alertou ainda que, por se tratar de um Estado bastante diversificado no agronegócio e na indústria e com uma modernização da política de saneamento em andamento, as fontes de biogás provenientes dessas atividades são muitas, mas ainda pouco exploradas.
O hidrogênio verde é outra opção, mas ainda tem barreiras a vencer, conforme a reportagem de agosto. É que o potencial de Minas Gerais para produzir esse que é tratado por especialistas como “combustível do futuro” é grande, mas faltam estímulos e arcabouços legal e institucional para de fato acontecer.
O Estado tem se mobilizado para atrair investimentos e a Agência Alemã de Cooperação Internacional (GIZ) anunciou um projeto-piloto para produção de Hidrogênio Verde (H2V) na Universidade Federal de Itajubá (Unifei), no Sul de Minas. A agência estima aportes de 5 milhões de euros para a construção, até o final de 2023, naquele que será o Centro de Produção e Pesquisas em Hidrogênio Verde (CPPHV). A unidade contará inicialmente com uma capacidade de 1 MW de eletrólise, abastecida por energia solar.
A expansão do ambiente de livre contratação de energia para todos os usuários, através de propostas que tramitam no Congresso Nacional, também foi abordada. Empresas e governo defendem a aprovação do projeto, enquanto entidades de consumidores pedem cautela. Recentemente, o Ministério de Minas e Energia publicou uma portaria permitindo que todos os consumidores conectados em alta tensão possam aderir ao modelo, tendo a possibilidade de negociarem livremente preços e condições de contratação de energia diretamente de um supridor e agora abriu consulta pública sobre o plano de liberar para os ligados em baixa tensão como residências, a partir de 2028.
Desafios na infraestrutura
Infraestrutura é um tema caro para Minas Gerais. Ainda são grandes os gargalos que o Estado enfrenta e o #JuntosPorMinas também se propôs a dar luz aos desafios desta área. O imbróglio que envolve a duplicação da BR-381, mais conhecida como Rodovia da Morte, pelo alto índice de acidades com vítimas fatais, e que já perdura por décadas, foi a primeira de uma série de cinco reportagens.
Depois de inúmeros adiamentos e certames desertos, o governo federal separou a concessão da BR do projeto da BR-262, em vistas de aumentar a atratividade da concorrência. Nesta semana, cumprindo agenda em Minas Gerais, o ministro da área, Marcelo Sampaio, garantiu que o leilão vai ocorrer até 24 de dezembro. O novo projeto prevê apenas a concessão da via entre Belo Horizonte, na região Central do Estado, e o município de Governador Valadares, no Vale do Aço. A proposta projeta a destinação de um aporte de R$ 4 bilhões dos R$ 5,5 bilhões como investimento por parte da futura concessionária a partir de disputa em leilão.
Da mesma forma, a ampliação e modernização do metrô da capital mineira também se arrasta por anos e, entra governo, sai governo, vira alvo de anúncios e projetos que nunca saíram do papel. Agora, finalmente, podem estar próximas de acontecer. O edital para a concessão do metrô de BH foi publicado pelo governo de Minas Gerais e o leilão está previsto para ocorrer no dia 22 de dezembro, na B3, em São Paulo. Esta é a primeira vez que a concessão do metrô da Capital tem data marcada.
Especialistas alertaram que não dá para escapar: o metrô de Belo Horizonte terá que ser ampliado para um melhor atendimento à região metropolitana. Sobrecarregado, o sistema de ônibus não consegue mais atender com qualidade à crescente demanda da população, mesmo com as recentes intervenções.
“Para que a expansão do metrô tenha sucesso e real impacto na mobilidade, é preciso pensá-la com integração. As conexões com os outros sistemas de mobilidade urbana são fundamentais para a efetividade do sistema e para que valha a pena financeiramente para a iniciativa privada”, alertou na época o coordenador do núcleo de infraestrutura e logística da Fundação Dom Cabral (FDC), Paulo Resende.
Veículos elétricos
Por falar nisso, mobilidade foi outro tema abordado. Em processo de popularização na Europa, Estados Unidos e China, o mercado de veículos elétricos inevitavelmente vai crescer no Brasil nos próximos anos, segundo especialistas, seja pelas questões ambientais e mudanças de comportamento do consumidor, seja motivado por questões econômicas.
Com um “delay tecnológico” em relação às grandes potências mundiais, a previsão é que, em cinco anos, os carros elétricos devem começar a se popularizar no País, num movimento semelhante ao que acontece hoje na Europa, segundo estima a Associação Brasileira de Veículos Elétricos (ABVE).
Mas, para que o carro elétrico realmente seja acessível às massas e fazer seu papel ambiental, muito ainda precisa ser feito. Isso passa por mais incentivos à pesquisa, à cadeia produtiva e ao consumidor. São necessárias ainda mais políticas públicas locais e nacionais. A ampliação da geração de energia elétrica nas diferentes fontes renováveis também é apontada como importante pelos especialistas.
“Não podemos ampliar a geração de energia elétrica com outra fonte emissora de CO2, como petróleo, diesel e gás nas termelétricas. Seria trocar seis por meia dúzia. Adicionar mais energia de hidrelétrica, que não temos hoje, não dá. Nossa eólica ainda é mínima e a solar é insuficiente. É preciso buscar soluções em ampliação da geração”, explicou o doutor em economia e professor da Faculdade de Ciências Econômicas da UFMG, Ricardo Machado Ruiz.
Inovação é imprescindível para o avanço em todas as áreas
Para que ocorram os avanços abordados e esperados em cada área, inovação é fundamental. Aliás, o “Brasil precisa estruturar e priorizar um grande projeto de inovação para crescer” e esta foi a abordagem de uma das reportagens especiais sobre o tema. Sob a mesma ótica, o DIÁRIO DO COMÉRCIO também falou da importância de se reter profissionais da área, da falta diálogo entre empresas e academia e o quanto isso pode ser prejudicial ao setor, por exemplo.
E diante tantas mudanças em inovações, como não tratar do comportamento do consumidor? Neste cenário, lojistas mineiros buscam se adaptar à inevitável forma híbrida de vendas, mas ainda enfrentam alguns obstáculos. Trata-se de um “Novo comércio para um novo consumidor”.
É que a pandemia do coronavírus acelerou a transição do varejo clássico para o modelo híbrido. O consumidor comum, antes acostumado a ir diretamente às lojas físicas, tomou gosto pelo e-commerce e pelas variadas formas de pagamento e exige um atendimento diferenciado. Já os comerciantes precisaram se virar com a tecnologia e a criatividade para não baixar as portas. Baseados no comportamento desse novo consumidor comum, especialistas afirmam que o futuro do comércio em todo o mundo é uma loja conectada, que funcione como ponto de conveniência, conduzida por empreendedores experts em comércio híbrido, onde o cliente está no centro do negócio.
O grande desafio do setor, dizem, ainda é vencer a resistência à mudança de mentalidade por parte de uma parcela dos comerciantes. A ausência de linhas de crédito compatíveis com a realidade dos negócios se soma ao conjunto de obstáculos à adaptação dos lojistas à nova realidade.
“Essa obrigação por uma experimentação tecnológica mudou definitivamente o comportamento do consumidor e exigiu que os comerciantes se movessem ainda mais para vender. Isso porque os caminhos conhecidos no varejo clássico não eram mais viáveis. E o que foi de certa medida caótico e faliu vários negócios também se converteu em oportunidade para aqueles que conseguiram compreender rapidamente as necessidades dos mercados e inovaram em cima delas”, avaliou o vice-presidente da CDL/BH, Geovanne Telles.
Fonte: Diário do Comércio