A fundadora do JotForm, Aytekin Tank, apresentou táticas para reformular a ideia de que fazer muitas coisas ao mesmo tempo, ainda mais no momento que estamos passando, possa ser a melhor opção
Na última década, a humanidade criou uma relação um tanto quanto complicada com a produtividade. Especialistas, psicólogos e até executivos incentivam as pessoas a otimizar e maximizar nosso tempo ao ponto de atingirmos um “choque” de produtividade. E aí veio a pandemia.
Mesmo que para o Brasil o fim da pandemia da covid-19 não pareça tão próximo, alguns países já caminham em direção à normalidade. Vamos, aos poucos, nos perguntando: como deve ser a produtividade? Vamos tentar compensar o que parece ter sido um período “perdido”? Ou vamos, finalmente, descobrir como atingir uma vida com mais respiros, incluindo tudo o que perdemos durante mais de um ano de isolamento?
Segundo Aytekin Tank, fundadora do JotForm, agora é o momento perfeito para redefinir nossa visão de produtividade. “Costumo voltar à excelente definição do autor James Clear: ‘muitas vezes presumimos que produtividade significa fazer mais coisas a cada dia. Errado. Produtividade é fazer coisas importantes de forma consistente. E não importa no que você esteja trabalhando, existem apenas algumas coisas que são realmente importantes’.”
Segundo Tank, em vez de atingir metas intermináveis ou empurrar o objetivo cada vez mais alto, devemos querer um progresso consistente. De acordo com os especialistas Teresa M. Amabile e Steven J. Kramer da Harvard Business Review, de todas as coisas que podem aumentar as emoções, motivações e as percepções durante um dia de trabalho, a mais importante é fazer progresso em um trabalho significativo. “E quanto mais frequentemente as pessoas experimentam essa sensação de progresso, maior a probabilidade de serem verdadeiramente produtivas a longo prazo.”
1. Dê quebras reais ao seu cérebro
Talvez você tenha tentado um detox digital, como evitar olhar o WhatsApp e o Instagram no sábado. É uma ideia inteligente, mas Tank acredita que precisamos reduzir drasticamente o que apresentamos para nossas cabeças durante toda a semana. Na década de 1990, a psiquiatra Nancy C. Andreasen denominou a sigla REST (pensamento silencioso episódico aleatório) para descrever a associação livre em que nosso cérebro se envolve durante o relaxamento silencioso.
Atualmente, Andreasen está estudando um pequeno grupo de artistas, cientistas, matemáticos e outros que trabalham com áreas que exigem do cérebro. Para muitos dos participantes, “deixar sua mente funcionar livremente é um grande recurso para a criatividade”, disse Andreasen ao The Washington Post. Em outras palavras, a produtividade requer um suprimento constante de pensamentos novos que surgem apenas durante o descanso. Precisamos reabastecer nossas estantes mentais se quisermos fazer um trabalho significativo.
2. Adote a “niksen”
Para reabastecer a mente ao longo do dia, Tank considera a mais recente filosofia de estilo de vida para seguir Hygge, Ikigai e Friluftsliv. Chama-se niksen: a arte holandesa de não fazer nada. Embora seja desconcertante pensar que precisamos de incentivo para ver o café ferver ou olhar pela janela, niksen é uma experiência rara para muitos de nós.
Ao terminar uma tarefa, pare por um momento antes de iniciar a próxima. Feche os olhos e sinta o sol no rosto. Escove os dentes sem rolar o Instagram. Faça o seu almoço em silêncio, se possível, sem ligações ou a companhia de um podcast. Há uma razão para tantas pessoas terem ideias brilhantes no chuveiro: sua mente tem alguns minutos preciosos para voar livremente.
Para Tank, é essencial recuperar pequenos períodos de tempo que podem ajudar a recalibrar a produtividade. “Observe as pessoas esperando em uma fila e fica claro que não fazer nada é quase um ato radical. Mas observar os pássaros ou relaxar em um banco de parque torna mais fácil lembrar que você não é uma máquina projetada para bater metas e produzir.”
3. Descubra o que importa para você
Observe que o nome deste tópico não é “siga sua paixão”. Quando ficamos obcecados com a produtividade, perdemos oportunidades diárias de sentir alegria, mesmo em pequenas doses. A pandemia nos lembrou o quanto a vida é passageira. Não podemos ignorar os prazeres simples, como tomar café com um amigo. O trabalho pode ser mais uma chance de explorar o que nos faz felizes. “É um privilégio, claro, mas quando você segue sua curiosidade, amplia suas habilidades e assume riscos criativos, o estresse diminui e você tem mais probabilidade de entrar em um estado de constância”, afirma Tank.
Por fim, Tank aponta que a meditação é outra ótima maneira de explorar o que realmente importa. A esta altura, provavelmente é algo que deveria — ou já está — na sua lista, mas há uma razão para todos sugerirem: a prática de mindfulness ajuda. “Passar alguns minutos acompanhando sua respiração ou observando seus pensamentos se agitando na brisa acalma o cérebro. O que geralmente surge é um pouco de perspectiva. Talvez até um vislumbre de clareza sobre como e por que você está trabalhando, e o que poderia torná-lo melhor”, conclui.
Fonte: Exame