Captar investimentos é uma das tarefas mais importantes para fundadores de startups, e uma das mais difíceis também, pois exige preparação, resiliência e, principalmente, disciplina.
Segundo o “Mapeamento do Ecossistema Brasileiro de Startups 2022”, realizado pela Associação Brasileira de Startups (Abstartups) entre agosto e outubro do ano passado, 71,4% das startups que não receberam investimento disseram estar em busca deste.
Para ajudar empreendedores à procura da primeira ou segunda rodada de investimento, Filipe Garcia, Head de Aceleração e Portfólio da aceleradora WOW, lista abaixo as principais etapas para que as startups early stage conquistem capital. Confira:
O primeiro passo a ser dado pelos empreendedores é refletir por que alguém investiria dinheiro na startup que fundaram e, por isso, é essencial que tenham de forma clara como vão entregar resultados, o que envolve um plano: o roadmap do negócio.
“Na prática, captar investimento possibilita que startups cheguem a um novo estágio, ou seja, mudar o negócio de patamar em termos de receita, participação de mercado (market share) ou outro indicador. Portanto, é essencial refletir sobre a estratégia e escolher um objetivo para alcançar nos próximos 12 meses. Como exemplo, chegar a um valor de MRR (monthly recurring revenue ou ‘receita recorrente mensal’) ou atingir um determinado valor de GMV (gross merchandise volume ou ‘volume total de transações’), se o modelo de negócio é um marketplace. Uma boa estratégia também deve apresentar uma visão do que os fundadores querem construir, ou seja, o que a startup será no futuro e por que se tornará um negócio relevante no mercado”, explica o Head de Aceleração e Portfólio da WOW.
De acordo com Garcia, o próximo passo é destrinchar a estratégia. A dica é abrir uma planilha pensando nos próximos 12 meses e colocar a previsão de receitas e dos custos relacionados à operação, como contratações, investimento em marketing e vendas, compra de materiais, serviços terceirizados, entre outros. Além disso, é necessário construir um pitch deck, uma versão mais completa do pitch convencional (que serve para o fundador apresentar o negócio em cerca de cinco minutos).
“A construção do plano em uma perspectiva financeira dará uma noção mais clara do tamanho da rodada que uma startup precisa. Essa planilha também servirá como o modelo financeiro, ou seja, o material deve ser usado quando o investidor potencial quiser aprofundar os números para entender melhor o plano de crescimento. Já o pitch deck deverá conter todas as informações relevantes do pitch, como o tamanho da oportunidade de mercado, apresentação do produto, modelo de negócios e também contemplar o plano de crescimento, com referência ao modelo financeiro. O pitch deck é um material mais denso e, por isso, deve ser autoexplicativo, ou seja, o potencial investidor deve ser capaz de entender o negócio de forma clara”, informa.
Os empreendedores precisam estudar o mercado de venture capital e o ecossistema de startups para entenderem as teses de investimento e, assim, buscarem as conexões que mais fazem sentido. Como exemplo, se há um fundo com tese de série A (investimento a partir de R$ 20 milhões), um empreendedor não precisa conversar com este se está captando uma rodada seed (até R$ 5 milhões), assim como uma fintech não necessita abrir conexões com um fundo da área da saúde. Por isso, é importante levantar todas as informações.
“Uma boa dica é estudar os portfólios. Se o fundo em questão já investiu em diversas startups de um determinado segmento, pode ser um sinal positivo. Agora, se este já investiu em uma concorrente, provavelmente não vai adiantar se apresentar. Se um fundo nunca investiu em um negócio relacionado a um mercado específico, pode ser que não acredite ou que não tenha interesse no segmento, ou que será a primeira vez que vai poder contribuir com uma startup da área. Também é importante conversar com os fundadores que já foram investidos – os fundos consideram isso uma ótima prática, pois transmite interesse do fundador. Outra dica é buscar uma pessoa em comum que possa fazer a apresentação do empreendedor para o investidor”, diz o Head de Aceleração e Portfólio da WOW.
Para Garcia, a quarta etapa é a gestão de relacionamento, em que, depois do primeiro contato com o potencial investidor, vem o agendamento de uma reunião. Após essa primeira conversa, o pitch deck deve ser enviado.
“A primeira reunião é importante, mas não é neste momento que o jogo é ganho. A palavra-chave é consistência, o que envolve o envio de reports mensais destacando conquistas, desafios e, principalmente, os números alcançados. Porém, é importante não apressar o investidor na hora de levantar capital. Captar investimento mistura ciência e arte. A primeira ajuda na construção do plano, em apurar os números e em executar o processo. Já a arte é tudo aquilo que é mais intangível, como a paixão do fundador em apresentar o negócio, o timing de mercado e o humor do investidor naquela reunião. Por isso, em um processo tão complexo, a ajuda de uma aceleradora é de grande valor”, finaliza.
Fonte: Administradores