A indústria mineira teve uma queda de 9,8% no faturamento em janeiro na comparação com dezembro. É a maior retração observada para o mês desde o início da série histórica, em 2004, segundo a pesquisa Indicadores Industriais (Index) da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg).
O resultado é consequência direta das chuvas intensas que atingiram o Estado no primeiro mês do ano, causando o aumento dos níveis de rios e de barragens, provocando a destruição de rodovias e interrompendo as operações de ferrovias, o que comprometeu a logística de transporte de empresas do setor industrial.
“O destaque desta edição do Index é a influência das chuvas na produção industrial de Minas. O impacto está claro em indicadores de atividade, como faturamento e horas trabalhadas, que caíram 9,8% e 0,3%, respectivamente”, aponta a analista de Estudos Econômicos da Fiemg, Júlia Silper. “Foi uma retração mais intensa, bem robusta mesmo, e a chuva foi o principal motor desta redução”, reforça.
No que se refere a índices do mercado de trabalho, o emprego praticamente não variou. Ainda segundo o Index, a massa salarial aumentou 0,2% em janeiro frente a dezembro, puxada pela indústria de transformação (1,3%). Já o rendimento médio da indústria geral registrou elevação de 0,4% em janeiro, também impulsionado pelo segmento de transformação (1,5%).
Os temporais, além de interditar rodovias e ferrovias e ameaçar a segurança de barragens, acenaram com algo próximo de um apagão logístico, quando a falência das vias de escoamento impede que insumos e mercadorias cheguem ao seu destino, afetando concretamente a cadeia de suprimentos.
Duas interdições em estradas federais, provocadas pelos temporais, responderam por grande parte dos problemas de logística do setor produtivo em Minas. A pista da BR-381, no KM 321, em Nova Era, teve o asfalto rompido por deslizamentos de terra, o que impediu completamente a passagem de automóveis, ônibus e caminhões. Além disso, a BR-262 foi interditada na altura de Abre Campo, afetando diretamente a movimentação entre Belo Horizonte e o Espírito Santo.
Levantamento feito pela Fiemg apontou um prejuízo diário para a economia do Vale do Aço de R$ 2 milhões, “só com relação a fretes”, ressalta o coordenador do Movimento Nova 381 e vice-presidente da Fiemg Vale do Aço, Luciano Araújo.
“Os produtos ficaram mais caros na região e os produtos regionais perderam competitividade; o desvio que foi feito na estrada amenizou a situação, mas, sem dúvida nenhuma, este prejuízo contribuiu para um desempenho negativo da economia regional em janeiro”, completa Araújo.
Segundo a pesquisa Index, a maior queda de faturamento se deu na indústria de transformação (-9,5%), enquanto a indústria extrativa recuou 5,9%. No caso das mineradoras, as chuvas impactaram tanto a logística quanto a segurança, o que refletiu diretamente na produção e no faturamento.
Paralisação de atividades
As chuvas intensas paralisaram operações da Vale, Usiminas, CSN, além da mina de minério de ferro Pau Branco, da Vallourec, onde um dique de contenção transbordou e interditou a BR-040 durante dois dias. A paralisação incluiu a circulação de trens na Estrada de Ferro Vitória a Minas (EFVM), mais um gargalo para o escoamento dos produtos industriais mineiros.
“Durante todo o ano de 2021, o faturamento das mineradoras aumentou 124,9%. De dezembro para janeiro, ele caiu 5,9%. A mineração começou mal em 2022, justamente por causa das chuvas e suas consequências para a produção e o escoamento”, observa Júlia Silper.
“Imagino que esta seja uma questão pontual, inclusive porque a cotação do minério está em alta”, completa a analista. Uma tendência que se estabelece ante cotações que oscilaram entre US$ 240 e US$ 90 em 2021, depois de uma série de medidas tomadas pela China. Hoje, a tonelada de minério está cotada no mercado internacional a cerca de US$ 150.
Desaceleração no mundo deve impactar atividade
O relatório da Fiemg que acompanha o Index prevê, para os próximos meses, uma desaceleração da economia mundial, diante da escalada militar na Europa e a persistência da restrição da oferta de insumos e matérias-primas para a produção industrial.
Internamente, o aumento das incertezas devido à maior proximidade das eleições, o elevado nível de desemprego e de endividamento das famílias e o crescimento das taxas de juros também devem impactar negativamente a atividade industrial em 2022
Na comparação com janeiro de 2021, o faturamento das indústrias mostrou recuo de 6,1%, justificado pelas retrações nos dois segmentos da indústria: extrativo (-17,2%) e de transformação (-4,6%). Nos últimos 12 meses, o índice geral aumentou 10,3%.
As horas trabalhadas da indústria geral aumentaram 1,3%, na comparação com janeiro de 2021, graças às expansões nas indústrias extrativa (8,7%) e de transformação (0,4%). Nos últimos 12 meses, as horas trabalhadas avançaram 7,9%, em decorrência dos crescimentos de 10% no segmento extrativo e de 7,7% no segmento de transformação.
No último ano, o índice de emprego aumentou 4,4%, reflexo das elevações nos segmentos extrativo (7,2%) e de transformação (4%). Nos últimos 12 meses, o emprego cresceu 5,7%, em razão dos incrementos nas indústrias extrativa (8,6%) e de transformação (5,3%).
A massa salarial cresceu 0,7%, quando comparada a janeiro de 2021, em decorrência da expansão de 1% na indústria de transformação. Nos últimos 12 meses, o indicador da indústria geral apresentou elevação de 0,4%, devido ao avanço de 10,5% na indústria extrativa.
A utilização da capacidade instalada da indústria geral marcou 82,5% em janeiro, aumento de 5,1 pontos percentuais frente a dezembro (77,4%). O índice ficou próximo de sua média histórica, de 82,6%.
Fonte: Diário do Comércio