Em um mundo onde o sucesso é tão celebrado, poucos profissionais percebem como o fracasso é, paradoxalmente, uma parte essencial do processo de inovação e crescimento. Mas nem todos os fracassos são iguais – alguns são mais instrutivos e “inteligentes” do que outros.
No início dos anos 1990, a farmacêutica Eli Lilly investiu mais de uma década e milhões de dólares no desenvolvimento do medicamento Alimta para tratar o câncer de pulmão. No entanto, após ser submetido a uma bateria de testes clínicos rigorosos, o remédio experimental não atendeu às expectativas.
O fracasso da Alimta é, segundo Amy Edmondson, um exemplo de “fracasso inteligente”, conceito explorado pela renomada professora da Harvard Business School (EUA) em seu novo livro, Right Kind of Wrong: The Science of Failing Well (“O tipo certo de errado: a ciência de falhar bem”, em tradução livre). No caso de Lilly e sua equipe de pesquisadores, afinal, não havia outra alternativa senão experimentar e aprender com os resultados.
Em entrevista recente ao portal da Harvard Business School, Edmondson define fracasso inteligente como “um resultado indesejado em um novo território”: não há como saber com certeza se algo funcionará sem testá-lo, mas a tentativa falha ajuda a identificar uma direção para o eventual sucesso.
Lembrando uma famosa declaração de Thomas Edison enquanto tentava criar um novo tipo de bateria (“Eu não falhei, apenas descobri 10.000 maneiras que não funcionam”), Edmondson defende que, no meio empresarial, um funcionário que experimenta algo novo com o objetivo de aprimorar algum aspecto do negócio, apesar dos riscos de uma avaliação negativa ou até mesmo demissão, deveria, na verdade, ser aplaudido pelos gestores como um exemplo encorajador à equipe – o sucesso de amanhã depende, de acordo com a expert, da inovação de hoje, o que significa necessariamente vivenciar fracassos ao longo do caminho.
Tendo estudado a psicologia por trás do fracasso por mais de 30 anos, Edmonson lista quatro fatores que caracterizam os fracassos inteligentes. Confira:
1) Território desconhecido
Para chegar ao seu objetivo, o experimento inovador não é feito apenas com base no que já foi realizado antes, mas exige que se desbravem caminhos inexplorados. “Não há conhecimento novo disponível para você produzir os resultados que deseja. Você não pode simplesmente procurar a ‘receita’”, frisa a pesquisadora.
2) Oportunidade crível de se aproximar da meta
Segundo Edmondson, o plano inovador deve ser cuidadoso e intencional, oferecendo uma recompensa significativa caso seja bem-sucedido. “Se corro o risco de fracassar e isso não serve para nada, por que fazê-lo? Você estaria apenas desperdiçando tempo e recursos”, questiona.
3) Base em conhecimento atual
O teste de inovação é, conforme a expert, orientado por hipóteses, o que significa que parte de pesquisas prévias sobre dados já conhecidos para sustentar uma expectativa razoável de sucesso. “Você tem razões para acreditar que pode funcionar, não está apenas agindo aleatoriamente”, frisa Edmondson.
4) Danos mínimos para geração dos insights desejados
Ainda de acordo com a especialista, deve-se buscar minimizar ao máximo os eventuais prejuízos do projeto inovador, para que se produzam os insights desejados diante do menor impacto negativo possível.
“Ninguém quer um fracasso maior que o necessário. Você quer obter o novo conhecimento pelo menor preço que conseguir”, destaca a especialista.
Assim, Edmondson argumenta que, apesar de não poder garantir que seu experimento será bem-sucedido, você pode aumentar a probabilidade de que o possível fracasso será gerenciável e gerar novos dados, que aumentarão suas chances de sucesso no futuro.
Fonte: Administradores