Ter flexibilidade para ajustar a rota de maneira rápida ajuda a melhorar indicadores internos e impacta na qualidade do produto.
Foi-se o tempo em que o uso das metodologias ágeis era restrito aos departamentos de tecnologia e desenvolvimento de software. De acordo com o 14º Relatório Anual do State of Agile, estudo que todo ano investiga o grau de adoção da agilidade pelas empresas, a tendência é que cada vez mais as organizações adotem esses métodos em setores além do TI.
É o que tem acontecido, por exemplo, na Sambatech, empresa mineira que oferece soluções de tecnologia e infraestrutura de alta qualidade para venda, distribuição, gerenciamento e armazenamento de vídeo. A startup aplica os princípios do ágil em alguns departamentos desde o seu nascimento, mas agora tem ampliado esta forma de trabalho para áreas como marketing, gestão de pessoas e vendas, com o objetivo de aumentar o engajamento do time com o cliente.
“A aplicação dos métodos ágeis na cultura organizacional das empresas tem importância crítica. Nesse sentido, destaco dois pontos de grande relevância, em que é preciso estar atento: o de geração de valor e o de sobrevivência. Se eu não gero valor para o meu cliente, eu coloco em risco a minha sobrevivência”, afirma Everton Silva, CIO da empresa.
Segundo a Sambatech, o objetivo de gerar maior valor para o cliente tem sido alcançado. “Para a revitalização de um de nossos produtos, conseguimos reduzir o tempo de entrega na metade, diminuir em 35% os custos em horas alocadas”, diz Silva. Após este projeto, o NPS (Net Promoter Score, métrica que mede o grau de satisfação dos clientes) da empresa teve um aumento de 40%.
O impacto dos métodos ágeis na qualidade da entrega final para os clientes está ligado de forma direta à natureza deste modelo de trabalho. Essas metodologias permitem aperfeiçoar fluxos de trabalho, reduzir custos, otimizar o tempo e melhorar entregas, desde tarefas operacionais do dia a dia até grandes projetos que envolvem times de diferentes áreas.
Escolha do método
Casos como o da Sambatech são comuns. “Quando bem aplicados, os métodos são capazes de gerar maior valor à entrega, de maneira muito mais rápida. Mas é preciso entender quando, como e qual metodologia utilizar”, diz Felipe Collins, professor do curso Transformação Ágil, recém-lançado na Exame Academy.
Entre os métodos mais comuns estão o Lean (base dos outros sistemas e baseado na premissa cíclica de construir, medir e aprender), o Kanban (um sistema de administração de tarefas por prioridade, que garante visibilidade sobre todas as etapas do processo de desenvolvimento, seus responsáveis e seus status) e o Scrum (uma espécie de estrutura de gerenciamento de projetos, que reúne outros conceitos e técnicas para organizar a trajetória de execução do trabalho, da ideia à entrega de produtos ou serviços complexos).
A combinação ideal entre as metodologias varia caso a caso e deve levar em conta aspectos como o perfil das demandas, características e habilidades do time e até mesmo, quantos empregados e gestores estão abertos a mudar a forma de trabalho. “Existem diferentes níveis de aplicação que podem ser adotados em diferentes situações. É muito raro duas empresas adotarem o ágil seguindo, de ponta a ponta, as mesmas formas e rituais”, diz Collins, do Transformação Ágil. “Essa adaptação é ainda mais necessária quando a metodologia começa a ser desdobrada para outras áreas.”
Redução do impacto
Um dos benefícios mais comentados dos métodos ágeis é o quanto eles ajudam times e empresas a se adaptarem em momentos de alta incerteza. Foi o que aconteceu, por exemplo, com a SGA TI em Nuvem, consultora mineira especializada em soluções em nuvem. Mesmo em meio à pandemia do coronavírus, a empresa melhorou indicadores como ociosidade do time e feedback vindo dos clientes. “O uso dos métodos Scrum e Kanban possibilitaram o aumento de 23% de produtividade em relação ao modelo tradicional”, diz Armindo Sgorlon, CEO da empresa, que adota os métodos ágeis desde 2019.
Para que os efeitos das metodologias sejam sentidos na prática, porém, é preciso ir além dos frameworks puro e simples e abraçar a filosofia muito mais aberta ao teste e ao erro que guia essa cultura. “Mais do que querer ser ágil, é preciso ser ágil, estar propenso a errar e ter a capacidade de resposta rápida para ajustar o caminho e corrigir”, diz Silva, da Sambatech. “Inovação não é inovação se não sai do papel e gera valor”.
Fonte: Exame