Um levantamento feito pela WGSN, consultoria global em análises e previsões de tendências, revela que o principal fator que acelera as mudanças no varejo não é a tecnologia, mas os próprios consumidores. São eles que estão impulsionando a transformação na sociedade e desafiando os antigos modelos econômicos.
“Precisamos entender que os consumidores estão mapeando, estudando as marcas. Eles querem, inclusive, saber se as empresas mudaram seu modelo de negócio, principalmente quando este impacta a sociedade. O intuito dos consumidores é saber se as marcas estão alinhadas às suas novas demandas e a um propósito – além, claro, como se relacionam com suas necessidades. Ou seja, consumidores estão impulsionando o mercado em outro nível”, afirma Luiz Arruda, Head da WGSN Mindset.
Partindo dessa premissa, a consultoria identificou seis grandes tendências que vão impactar o mercado a partir de 2020 e deu dicas de ações fundamentais para acompanhar esse processo e não perder oportunidades de vendas.
1 – Revolução do m-commerce
O que é? A nova sociedade já é norteada pelos smartphones e as pessoas querem consumir via dispositivos móveis. Sem interação e sem processos.
Uma pesquisa realizada pela agência YouGov, mostrou que 44% dos entrevistados entre 18 e 24 anos se sentem mais confortáveis ao conversar com novas pessoas por meio de redes sociais, do que ao vivo. Outro estudo feito pelo instituto Pew afirma que 26% dos adultos americanos estão “quase sempre” online.
Neste âmbito, é possível perceber que a tomada de decisão pelos usuários é feita antes da visita física. Por isso, é tão relevante colocar o consumidor no controle da compra, desde que haja auxílio humano, caso necessário
O que fazer? Aumentar o uso do celular dentro da loja; criar interações mais naturais pelos dispositivos móveis; redefinir o papel do funcionário da loja física e desenvolver mecanismos que aumentem o nível de confiança.
2 – A importância dos sentimentos (Feel factor)
O que é? As conexões humanas são valorizadas à medida em que as pessoas se sentem mais sozinhas. Por isso, consumidores estão em busca de conexões que ajudem a se sentirem mais completos. Além disso, uma vez que os varejistas investem em tecnologia de inteligência artificial e experiências digitais, a importância da conexão humana será um diferencial fundamental paras as marcas.
“O consumo passa a ser consequência da experiência. Invista em experiência, use a tecnologia como ponte. Não se trata mais de personalização, como recomendar coisas que o consumidor gosta, mas de uma relação pessoal.”, comentou Luiz.
O que fazer? Invista nas pessoas, no aspecto humano. “Enquanto outras pessoas investem em drones apenas, nós investimos em nossos funcionários”, comentou Paula Nicholds, diretora da rede de varejo John Lewis & Partners, loja que vendeu 30% ao oferecer um serviço de styling. Invista em tecnologias que aprofundem as relações. Desenvolva estratégias que reúnam o humano e o tecnológico para criar uma experiência inesquecível e, por fim, vá além do que o cliente diz que está procurando. Crie estratégias que explorem como ele quer se sentir.
3 – A economia da confiança (Trustenomics)
O que é? As pessoas nunca foram tão desconfiadas. Todas as instituições estão em descrédito: governos, imprensa, marcas e empresas. Por isso, a confiança virou moeda de troca. “Empresas que inspiram confiança, geram conversão, pois hoje a confiança é rara”, disse Luiz. Nos EUA, a última pesquisa Edelman Trust Barometer apontou que a confiança da população norte-americana caiu nove pontos. Esse colapso é estimulado pelo baixo nível de confiança no governo, que caiu 14 pontos.
Para se ter ideia do tamanho do problema, um estudo do MIT revelou que 89% das crianças entre os 6 e 10 anos de idade acreditam que a Alexa sempre diz a verdade. Ou seja, o problema de confiança deve se agravar com o tempo.
O que fazer? Represente o consumidor. Se posicione e tenha uma voz, apoie causas. Procure entender os temores dos clientes. Crie estratégias que diminuam esse problema por meio da transparência. Assuma um papel de liderança nas questões que são importantes ao seu consumidor. Atue como membro da comunidade, assim como a Coca-Cola e Unilever fizeram durante a crise de água na Cidade do Cabo, na África do Sul. Ambas reduziram a quantidade de água usada em seus produtos. Embora não sejam atitudes filantrópicas, as marcas se posicionaram ao lado dos clientes.
4 – Preocupações climáticas
O que é? O mundo precisa de ajuda e seus moradores estão em busca de soluções e ações para torná-lo melhor. O número de desastres naturais provocados por eventos climáticos extremos – inundações, secas e incêndios – mais do que dobrou desde 1980. No mesmo período, o número de tempestades dobrou, enquanto inundações, avalanches e deslizamentos quadruplicaram desde 1980 e dobraram desde 2004. A ansiedade em relação ao clima já é uma realidade, assim como o desejo de limitar ou reverter os danos causados ao ecossistema do planeta.
Essa nova reação emocional do consumidor vai exigir que os varejistas criem novas estratégias. A discussão pública em torno dos materiais plásticos que são usados uma única vez, e a demanda do público consumidor por soluções como garrafas de água, copos de café e canudos reutilizáveis é apenas uma entre as muitas mudanças comportamentais que exigirão novas estratégias das empresas.
Além disso, já começou a corrida para que a economia circular funcione na indústria da moda. Muitas lojas do setor fast-fashion, como Zara e H&M, têm estimulado os clientes a devolverem roupas danificadas ou que não usam mais, já antes mesmo que a reciclagem de fibras se torne uma realidade comercial.
O que fazer? Crie novas estratégias para não ficar fora da indústria de revendas. Abrace a economia circular. Entenda a cadeia completa dos seus produtos e saiba o que fazer com os resíduos. Reaprimore a qualidade dos produtos para que durem mais e crie estratégias para provocar mudanças em torno do uso do plástico.
5 – A geração longeva
O que é? As pessoas estão vivendo mais e melhor. E as marcas precisam estar atentas a essa demanda crescente. Os países desenvolvidos – dos EUA ao Japão – reconhecem que é difícil lidar com o envelhecimento da população e com as grandes mudanças que acontecem na distribuição de renda. De acordo com a ONU, essa questão causará a transformação social mais significativa do século 21, com implicações em todos os setores da sociedade. Nestes países, os consumidores mais velhos, apesar de se sentirem ignorados ou negligenciados, têm um poder de compra muito maior do que o dos consumidores jovens.
“Não podemos ignorar essas pessoas. O Japão, por exemplo, já entendeu a importância e hoje é líder em estratégias voltadas a engajar consumidores idosos”, comentou Luiz.
O que fazer? Desenvolva estratégias para a inclusão no mundo digital com tecnologias que se adequem ao público mais velho. Redefina os modelos de varejo, assim como fez a AEON, que passou a abrir o shopping mais cedo promovendo serviços e atividades aos idosos. Também é preciso desenvolver estratégias para a inclusão desse público no mundo mobile.
6 – Fim da posse
O que é? Não é sobre ter é sobre viver. A economia compartilhada ganha forças em um cenário que os consumidores estão mais abertos a experimentarem e as marcas precisam entender a dinâmica deste novo mercado.
As pessoas estão deixando de gastar em coisas para investir em experiências. E isso tem sido notado. O processo de descoberta de produtos também parece ter mudado para sempre: os consumidores de hoje deixam de “ir às compras”, mas ao mesmo tempo, nunca deixam de fazer compras, já que estão sempre conectados a aplicativos móveis e ao Instagram.
O que fazer? Procure enxergar além do seu produto principal ao tentar ver quais tipos de serviços poderiam motivar as pessoas a querer pagar para ter acesso. “A experiência será produtificada e provavelmente será uma fonte de dinheiro. Os modelos de negócios serão revisitados”, finaliza Luiz.
Sendo assim, é preciso criar estratégias que motivem o consumidor a pagar por experiências ligadas à sua marca. Pense como reunir pessoas com perspectivas parecidas e melhorar a vida delas.
Fonte: Canal Tech