O início de carreira traz grandes desafios, principalmente pela insegurança que você sente no primeiro emprego. Tudo é novo, você acha que não conhece nada e tem a impressão de que está entrando em uma batalha de tanques usando uma espingarda de chumbo.
Em cima disso, o sentimento de pressão de sua chefia por bons resultados e a altíssima cobrança sobre você mesmo”…. Não posso falhar!…”. O mundo parece desabar sobre seus ombros e no meio dos grandes “sabichões” à sua volta, você começa a sentir que é incapaz… que é o “patinho feio”!
Comigo isto já começou na faculdade. Vários de meus colegas começaram a trabalhar em áreas que para mim eram “sofisticadas”, como finanças, marketing, produção, recursos humanos, entre outras. Por outro lado, eu já entrei na faculdade empregado em uma função menos valorizada naquela época, que era a de ser um vendedor.
Enquanto eles discutiam grandes projetos de seus respectivos e confortáveis escritórios, eu evitava comentar que passava o dia inteiro no carro (naquela época o ar-condicionado era um luxo), chegando na faculdade cansado, muitas vezes visivelmente suado, depois de passar o dia visitando clientes. Era o “patinho feio”.
Mal sabia eu que estes anos iniciais me trariam um “DNA” de vendas com um valor inestimável para a minha carreira. Mesmo nos anos como CEO este “viés” comercial me ajudou a gerar muitos negócios e ter facilidade no relacionamento com clientes.
A grande lição aqui é que você não deve ficar se comparando com os outros e sim olhar para seu próprio progresso. Não caia no erro de se concentrar nas suas fraquezas (embora você sempre precisará trabalhar para melhorá-las, até o final de sua carreira), mas foque em seus pontos fortes. Cada pessoa é única e traz características únicas, com pontos fortes únicos que a diferenciam de todas as outras. É isto que você deve explorar com toda a sua energia.
Às vezes você sentirá que se esforça ao máximo e que ninguém nota absolutamente nada. Lembro-me de outra experiência enquanto presidia uma companhia na área de tecnologia. Contratamos três estagiários de uma das escolas de engenharia de ponta. Os três jovens tiveram um ótimo desempenho, mas começaram a se sentir desencorajados, quando, no final do estágio, perceberam que não haviam planos para contratá-los. O fato é que mundialmente a companhia havia congelado as contratações para não aumentar o tal de “headcount”.
É muito clara a marcante imagem de minha reunião com o diretor de RH, discutindo o potencial desses rapazes e de como sentiríamos em perdê-los. Peguei o telefone, liguei para o meu diretor nos Estados Unidos e falei…”Chefe, você e eu vamos ‘ficar mal na foto’, mas não podemos perder estes jovens talentos… vou contratá-los!”. Com o endosso dele, foi o que fizemos.
Passados cerca de vinte anos, os três tiveram grande sucesso. Um deles continua na companhia e é o diretor regional do Sudeste da Ásia. O segundo, depois de anos de experiência em tecnologia, tornou-se um consultor, mentor e autor de artigos de muito sucesso, com mais de 40,000 seguidores no Linkedin. O terceiro, após um longo período na companhia e em outras empresas, com uma carreira bem-sucedida, hoje é um viajante de “motorhome” cruzando as Américas do extremo sul ao extremo norte. Três grandes jornadas com um ponto de partida em comum!
A segunda lição aqui é que quando bater o sentimento do “patinho feio” “ o esquecido”, saiba que seus superiores sempre vão notar um trabalho bem feito e um claro esforço de progresso. O importante é que você esteja dando o melhor de si, não pela “concorrência” com os seus pares, mas por utilizar o máximo de seu potencial. Ninguém permanece anônimo com esse comportamento.
O melhor e mais curto conselho que recebi em um momento de crise, foi de um sábio “headhunter” que me disse…”Confie em seu taco!”. Portanto… não desista!
Em uma viagem a Tóquio, no Japão, chegamos em grupo para a negociação de um contrato. Estávamos adiantados e enquanto esperávamos, conversamos com três jovens recrutados há pouco tempo naquela gigantesca multinacional. Estavam lá para apoio da reunião. Muito bem vestidos, formados nas melhores universidades do Japão, imaginamos que seu papel seria o de um apoio técnico para a reunião.
O time de negociadores chegou e iniciamos as reuniões. Para minha surpresa o grupo desses brilhantes jovens teve uma função completamente diferente. Buscavam novos documentos necessários na discussão, serviam café e água, tiravam cópias, nos ajudavam a localizar os banheiros, traziam toalhas de rosto úmidas para amenizar os efeitos da enorme diferença do fuso horário. Aprendi que este cenário fazia parte da cultura japonesa altamente hierárquica, na qual quem começa faz absolutamente de tudo.
Nossa cultura é diferente, mas esse princípio se aplica. Esteja pronto para tudo. Segure as afirmativas de que “esta não é minha função” ou “não sou pago para isso”. Às vezes a formação em uma boa universidade pode trazer um sentimento de privilégio, mas você estará começando de baixo onde todos se nivelam e são as ações que irão determinar o futuro de cada um. Portanto, quando você se sentir o “patinho feio” porque tem que fazer de tudo para todos, saiba que faz parte do início da jornada. Todos passamos por isso.
Por fim, saiba sonhar e a “pintar” o seu futuro. Acredite que ele virá e que você atingirá seus objetivos. Foi uma lição que aprendi com a minha namorada, que depois se tornou a minha esposa.
Você fazendo isso, o “patinho feio” poderá se tornar não só um cisne, mas até outro pássaro que voe muito alto, como tão bem ilustrado na pintura abaixo de René Magritte, “La Clairvoyance”.
Afinal, uma imagem vale por mil palavras!
Por Danilo Talanskas
Fonte: RH Pra Você