O bom líder contemporâneo deve descer do pedestal e aprender com sua equipe.
No dicionário, líder é sinônimo de cabeça, chefe, dirigente, superior, maioral, mestre, patriarca. Nas empresas modernas, os sinônimos precisam urgentemente ser atualizados. Especialistas em gestão apontam que, cada vez mais, a liderança deixa de ser autoritária e unilateral para dar espaço a coordenadores que utilizam a humanização, a conexão e a comunicação como suas principais ferramentas de trabalho. A palavra-chave para um bom líder é, sobretudo, ouvir, afirmam as especialistas.
Uma pesquisa da PUC/MG com 500 grandes empresas brasileiras, divulgada em março deste ano, mostra que o Brasil enfrenta uma crise de gestão corporativa, já que 75% dos executivos entrevistados ainda se julgam “superpoderosos” e promovem gestão autocrática, sem espaço para a colaboração dos liderados.
A especialista em comunicação e professora Vivian Rio Stella garante que esse formato de liderança é o oposto do ideal. Segundo ela, o líder contemporâneo forma sucessores, desenvolve talentos, gera resultados, cria espaços de troca, inovações e contribuição. Já a especialista em segurança psicológica Patricia Ansarah acrescenta que líder é alguém que facilita as relações e direciona o alcance das metas com clareza de papéis e responsabilidades.
“O líder que está num palco, arrastando multidões, já não faz mais sentido na gestão moderna, e sim o líder que constrói conexões, abre espaços e inspira pelo exemplo”, diz Stella. Para Ansarah, o comandante do time deve saber configurar as relações no trabalho e dar espaço igualitário a todos os membros da equipe para ampliar pontos de vista e tomar decisões mais inteligentes.
Ouvir e perceber
As especialistas afirmam que saber ouvir e aprender são características fundamentais da nova liderança, estimulando a humanização das relações de trabalho. “O líder contemporâneo precisa saber ouvir, estar disponível para falar de seus erros e aprendizados, ter uma comunicação direta, saber estabelecer limites, dar feedbacks com foco no aprendizado e estabelecer relações seguras onde a confiança prevaleça”, defende Ansarah.
Stella comenta que se pudesse dar uma única dica de liderança de sucesso nos dias atuais, seria ouvir: “O gestor precisa ouvir não só com os ouvidos, mas perceber o ambiente, participar das atividades da organização, circular por diferentes setores, falar com diferentes pessoas. É uma forma de exercer uma liderança mais humanizada e menos no pedestal”.
A 21ª edição do levantamento Carreira dos Sonhos, realizada entre janeiro e março de 2022, com participação de mais de 117 mil pesquisados jovens, de média gestão e alta liderança no Brasil, reforça essa percepção. “Sentir que é ouvida” foi a resposta mais citada sobre como um bom líder deve fazer para sua equipe se sentir apoiada. Em seguida, os entrevistados pediram autonomia no lugar do microgerenciamento, receber apoio em situações difíceis e compreender o que precisa fazer para ter sucesso na função.
Entre outras habilidades de um bom líder citadas pelas especialistas, estão visão estratégica, capacidade de inovação, pensamento crítico, critérios em relação a resultados e metas e senso de colaboração. Segundo Stella, ser criativo e estar conectado para aprender constantemente são diferenciais. “Um líder que sabe tudo é um líder que aprende tudo e abre espaços para gerenciar. A liderança hoje em dia, pela forma do nosso trabalho, é discursiva, por isso a comunicação é superimportante”, pontuou.
Velhos conceitos
O líder que ainda mantém uma visão egocentrada, de segregação e não de cooperação e colaboração, pode ter funcionado num certo momento da cultura organizacional, mas hoje em dia, conforme Stella, não funciona mais. O bom gestor, conforme Ansarah, não deve ser apaixonado pela própria voz e não deve estar à parte do time: “O líder moderno precisa ser parte do time e ouvir opiniões diferentes das suas antes de tomar decisões”.
Gestão de problemas
As especialistas indicam que a melhor maneira para um executivo gerir problemas é entender do negócio, tendo em vista a estratégia e a cultura da empresa, e envolver diferentes stakeholders (clientes, comunidade, colaboradores) nas decisões. “A visão global amplia a capacidade de tomar decisões que impactam e influenciam socialmente”, analisa Ansarah. “É preciso estudar sociologia, antropologia, tendências de mercado para ter visão macro, pensamento crítico e tomar decisões apuradas”, acrescenta Stella.
Pessoas
Ansarah avalia que o gestor ideal é focado nas pessoas e não no processo, dá voz à equipe e leva em conta diferentes opiniões para engajar e aumentar o nível de colaboração. “A boa dica é aproximar-se da equipe e estabelecer práticas e rituais que aumentem os vínculos, a confiança mútua e promovam um ambiente psicologicamente seguro”, recomenda.
Já Stella enfatiza que a confiança se estabelece quando o discurso e as práticas do líder correspondem à realidade. “Não é um discurso inventado, teatral, um jogo cênico para se manter no lugar de poder. Já é possível ver essa liderança funcionando quando existe confiança, transparência, acesso. Líder não está num pedestal, ele está junto e é acessível”, salienta.
Fonte: Administradores.com