Uma pesquisa realizada pelo IPRC Brasil (Instituto de Pesquisa do Risco Comportamental), buscou compreender a visão de profissionais frente a hipóteses de conflitos éticos e seu nível de resiliência a esses dilemas que poderão estar expostos no ambiente organizacional. Para a exposição das situações referentes à corrupção, os temas foram subdivididos em: Suborno, Conflito de Interesse e Presentes.
Foram analisadas as respostas de 2.435 funcionários e candidatos, de 24 empresas privadas situadas no Brasil, que ocupam posições sensíveis em suas organizações, sensibilidade essa que pode estar atrelada à vulnerabilidade das atividades que seu cargo propicia ao lidar com informações confidenciais, bens, dinheiro, negociações, entre outras.
Análises
Suborno
“…foi somente uma forma de me agradecer por ter conduzido a concorrência tão bem.”
Também conhecido como “propina”, “bola”, “bem-vindo”, “pixuleco”, suborno é o ato de prometer, oferecer ou pagar a uma autoridade, governante, funcionário público ou profissional da iniciativa privada qualquer quantidade de dinheiro.
O suborno tem como base uma troca financeira direta, quando o profissional aceita (9% dos respondentes) valores monetários em troca de facilitação ou acesso a algum bem da organização que representa, ou ainda, como parte de uma gratificação (45% dos entrevistados) por bons serviços prestados, mesmo que esta condição não foi anteriormente acordada.
Conflito de Interesses
“…qual o problema de contratar meu irmão? Ele é o melhor fornecedor.”
Já o Conflito de Interesses ocorre quando existe um confronto entre os interesses públicos (para fins dessa pesquisa, entende-se como interesse público àquele desempenhado pela função delegada pela organização, não se limitando a agentes do setor público) e privados, prejudicando o interesse organizacional ou coletivo.
Segundo a Recomendação do Conselho da OCDE sobre Integridade Pública, na raiz da corrupção está o conflito de interesses. Quando profissionais em suas relações interpessoais permitem (17% da amostra) ou não percebem (40% dos pesquisados) a sobreposição dos seus interesses pessoais em detrimento dos interesses institucionais da organização que representa.
Presentes
“…não é suborno! Foi me dado ‘de coração’.”
Em muitas bibliografias, não há grande diferenciação entre o recebimento de presentes e suborno. Porém, a corrupção pode ocorrer por meio da dádiva, com o ato de corromper de maneira implícita e indireta.
A Teoria da Dádiva, cunhada pelo sociólogo e antropólogo francês Marcel Mauss, explica como se dá a criação de laços sociais, destacando que essas relações possuem influência nas suas partes mais do que relação econômica. E, por ter uma natureza tácita, pessoas possuem maior dificuldade para perceber a sua existência (42% da amostra), gerando conflito de interesses quando é fruto de retribuição de presente, favor, serviço, gentileza e entre outros, como 12% dos profissionais estão suscetíveis.
Como lidar?
De acordo com Renato Santos, especialista em compliance e diretor do IPRC, o resultado levanta uma perspectiva alentadora: há menor resiliência quando a corrupção se apresenta na forma de conflito de interesses quando comparado ao suborno. “Alentadora porque abre um curso prático de ação: o investimento em conscientização sobre o que é conflito de interesses”, ressalta.
Segundo o especialista, treinamentos genéricos sobre ética e compliance, formas de contratação sem compreender a visão ética do candidato e a ausência de campanhas rotineiras sobre dilemas éticos profissionais podem contribuir para a formação de grupos com menor resiliência ética e ampliar a possibilidade de problemas relativos à fraude.
Na sua visão, as organizações precisam não apenas declarar a intolerância a desvios evidentes e diretos, mas também investir na ampliação da percepção moral do indivíduo, por meio do investimento na instrução. “E instrução, por sua vez, é mais ampla do que capacitar exclusivamente para a atividade profissional em sua dimensão técnica. Daí a necessidade de investimento em programas de promoção da ética de forma mais detalhada e aprofundada”, destaca.
Fonte: RH pra você
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