Gestor e investidor Martin Escobari participou do painel “Empreendedorismo e Investimentos”, ao lado do investidor Florian Bartunek, no BRASA Talks
Se você quer empreender ou crescer na carreira, assuma desafios que estejam muito acima de sua capacidade e busque pessoas brilhantes com quem possa trabalhar. Essa foi a mensagem deixada por Martin Escobari, copresidente da General Atlantic (GA), uma das maiores empresa de private equity do mundo, no painel “Empreendedorismo & Investimentos”, da edição 2020 da BRASA Talks. Escobari participou do painel ao lado de Florian Bartunek, sócio-fundador da gestora Constellation e colunista de EXAME.
O experiente gestor e investidor contou o que faz para reter talentos na empresa global de private equity, da qual é também head para a América Latina. “O desafio de manter alguém bom é deixá-lo fazendo coisas com as quais não está confortável, que estejam muito além da capacidade dela, e permitindo que ela encontre seus caminhos. Tem que dar desafios.”
Ele afirmou também que, mais do que o país ou a empresa, importa muito mais com quem se irá trabalhar. “Escolha onde conseguir trabalhar com pessoas brilhantes.”
Escobari, que foi um dos fundadores e principais executivos de uma das primeiras empresas de e-commerce do país, o Submarino, nos anos 2000, contou sua experiência como gestor e como investidor em mais de duas décadas de carreira. Boliviano, mas radicado no Brasil, começou na GP Investimentos, a empresa de private equity de Jorge Paulo Lemann, Marcel Telles e Carlos Alberto Sicupira, no fim dos anos 1990.
“Eu nunca me senti preparado para nada do que eu fiz”, afirmou Martin Escobari, dizendo que esse desconforto foi fundamental para a trajetória que construiu. Ele fez um paralelo com o comportamento característico de profissionais em início de carreira: “Na impaciência de ter feedback de que está indo bem, o jovem fica pulando muito de emprego. E isso atrapalha a construção de algo mais duradouro. É preciso paciência para que as coisas aconteçam no ciclo natural”, afirmou Escobari.
O investidor contou que a experiência no Submarino nos anos 2000 deixou lições importantes: a empresa abriu escritórios demais sem que tivesse resultados que pudessem sustentá-los. “Passamos um ano abrindo escritórios pelo mundo e o outro ano fechando.”
Segundo ele, que chegou perto de deixar o Submarino para trabalhar em uma empresa de salsichas nos Estados Unidos, a forte adversidade enfrentada naquela época deixou marcas positivas em sua trajetória. “Ter passado por um ‘near death experience’ (uma experiência de quase morte) fez a empresa mais forte. Ter ficado sem fôlego e virado a situação me deu autoconfiança”, conta Escobari.
O desconforto e a busca do novo são marcas que o experiente investidor tenta manter, reconhecendo que, na medida em que fica mais velho, acaba sendo natural desacelerar. “À medida que ficamos mais velhos, você tende a experimentar coisas novas com menor frequência e a arriscar menos”, disse Escobari. Ele deu como exemplo de atividade recente em busca do que não é natural para ele utilizar o TikTok mais do que sua filha.
“Sinto falta dessa explosão de novidade e de criar coisas novas, com sensações de risco. Porque não fazer isso é o caminho para se tornar obsoleto”, disse o investidor. “Não adianta ter sido muito bom dez anos atrás. Tem que ter sido bom no último ano”, afirma.
Oportunidades no Brasil
“A vantagem de ter nascido na Bolívia é que voltar não é uma opção, pensando como alguém de negócios”, brincou Escobari ao ser questionado sobre onde escolheria empreender caso tivesse que decidir entre Estados Unidos, China e Brasil.
“As oportunidades no Brasil nos próximos 20 anos são espetaculares”, disse o copresidente da General Atlantic, alertando que as decisões precisam ser tomadas olhando 20 anos para a frente, e não para a foto, ou seja, para o que está acontecendo naquele momento”. Como contraponto, ele disse avaliar que haverá muitas dificuldades nos Estados Unidos nesse período.
Bartunek disse concordar e acrescentou como fatores a favor do país a “escala enorme” e uma população adepta à tecnologia e à internet, argumentando que há uma revolução corporativa em andamento que acontece à margem da macroeconomia, da política, da inflação e dos juros.
“Para quem é empreendedor e quer trabalhar duro, há um mar de oportunidades corporativas. Tem muita coisa acontecendo, empresas novas, IPOs, e eu estou muito animado”, disse o executivo-chefe de Investimentos (CIO) da Constellation, que tem Lemann como um dos acionistas minoritários.
Escobari apontou que há muito capital hoje disponível no país, mais conhecimento dos modelos de negócios que dão certo e transferência de tecnologia. “O ecossistema vai evoluir bem. O grande problema do Brasil é que há uma crise a cada quatro anos. Isso é algo muito disruptivo para um projeto de criação de valor de qualquer empresa”, disse.
Segundo ele, se o país se tornar um pouco menos volátil nos próximos 20 anos do que nos 20 anos passados, haverá um ecossistema muito mais robusto no país. Ele citou que as instituições ficaram mais fortes e que a dívida está em moeda local.
Mas, ao responder especificamente onde se aprende mais, se nos Estados Unidos, na China ou no Brasil, Escobari disse que se o objetivo for abrir a cabeça, a recomendação é ir ao lugar mais diferente, que é a China. Citou a velocidade e a agressividade das mudanças.
“A globalização do empreendedorismo é uma realidade. Mas estou muito comprado no Brasil, a diversidade é riquíssima”, resumiu Escobari ao voltar a defender o país como opção.
Fonte: Exame