O caos sanitário e econômico instalado pela pandemia, em 2020, impôs à maioria das empresas brasileiras uma verdadeira revolução na forma de trabalhar. Tudo isso, somado à insegurança quanto à manutenção dos empregos e o medo da própria doença, fez com que um tema, que já deveria ter sido olhado com mais cuidado, se tornasse uma das prioridades no campo da gestão de pessoas em 2021: a saúde mental das equipes.
A conclusão está na pesquisa “Great Place to Work Brasil sobre as tendências em gestão de pessoas em 2021/recorte especial Saúde Mental”. Quando perguntados sobre a questão da saúde mental do trabalhador ser relevante para gestão de pessoas, 71% dos entrevistados acreditam que sim e, além de programas específicos em saúde mental, as lideranças são fundamentais no rastreio e promoção de saúde mental de suas equipes.
Em relação às iniciativas voltadas ao cuidado com a saúde mental do colaborador durante a pandemia, 30% sinalizaram que as empresas começaram as ações de cuidado devido à pandemia e 24% não realizaram ações voltadas ao tema.
O que chama atenção é que, mesmo preocupadas, as empresas não estão treinando ou capacitando seus líderes para atuar efetivamente nesse campo. Apenas 11% sinalizam que o cuidado passa por treinar as lideranças para lidar melhor com a saúde mental de seu time.
De acordo com a diretora de Conteúdo e Relações Institucionais do GPTW, Daniela Diniz, esse desencontro é compreensível na medida que esse ainda é um tema recente para a maioria e os gestores ainda estão tateando soluções.
“Há alguns anos nossas pesquisas já apontavam uma preocupação dos gestores com temas como ‘saúde e equilíbrio’, mas o termo ‘saúde mental’ tomou força com a pandemia. As empresas passaram a adotar ferramentas e estratégias diversas, como monitoramento do descanso e tirar as reuniões de dias-chave como a sexta-feira, por exemplo. O tema chegou, é um desafio. O líder vai ter que se preparar para isso. Daqui a um ano as respostas vão aparecer de forma mais estruturada. Assim como o desenvolvimento da equipe, a saúde mental da equipe não é uma coisa só do RH, é do líder. Não é só da área de saúde e segurança da empresa. Nessa fase de aprendizado as empresas vão perceber isso”, explica Daniela Diniz.
O levantamento também investigou o significado de cuidar da saúde mental dos trabalhadores para entender como esse cuidado se traduz na prática e o que, na opinião dos profissionais no mercado de trabalho, é responsabilidade da empresa e da liderança.
Para 45%, cuidar da saúde mental é identificar as fontes de estresse e atuar sobre as causas com o objetivo de promover um ambiente de trabalho mais saudável.
Observando esse dado, faz sentido o primeiro lugar na lista de principais temas para a gestão de pessoas em 2021 quando o recorte é aberto: comunicação interna, com 54%, seguido por mudança no mindset da liderança, com 53%. A pergunta admitia múltiplas respostas.
“Não há como pensar em cuidar da saúde mental dentro de uma empresa sem cuidar da comunicação interna. Se o líder não estiver verdadeiramente preocupado e não souber como falar com sua equipe dificilmente terá êxito. Não é à toa que as áreas de comunicação e RH ganharam uma relevância muito grande na pandemia. No mundo presencial tem coisas que não precisam ser ditas, elas são vistas, sentidas. No ambiente virtual a gente perde parte dos sentidos, então precisa dizer. Isso é importante, inclusive, para a preservação da cultura da empresa”, pontua.
Ainda que a questão não tenha feito parte da pesquisa, a executiva avalia que esse movimento das empresas preocupadas com a saúde mental dos colaboradores ainda é puxado pelas pelas maiores e mais estruturadas, mas não só por elas. As ações são vistas como investimento. Segundo ela, cuidar de pessoas já não integra a coluna dos custos.
“Fazemos o estudo com empresas que são nossas parceiras e isso significa que elas já estão preocupadas com a gestão de pessoas. Mas hoje temos parceiros de todos os portes, abrimos a possibilidade da certificação para as menores e é uma boa notícia o interesse que elas demonstram. Do outro lado, as maiores já revelam também o compromisso em levar a questão para as suas cadeias produtivas. Entendo que a gestão de pessoas e o cuidado com a saúde mental já é uma variável do negócio vista como estratégica. E quem ainda não se atentou para isso, pode sofrer nos resultados”, completa a diretora de Conteúdo e Relações Institucionais do GPTW.
Fonte:Diário do Comércio