Para executivos que estão à frente de programas de saúde mental nas empresas, diversidade e acolhimento são peças-chave
Acolhimento, pertencimento e diversidade são alguns dos pontos que unem gestão e cultura empresarial à saúde mental de funcionários e líderes.
Essa visão de que a cultura da empresa é a raiz dos problemas e soluções nas questões emocionais dos trabalhadores nem sempre é lembrada quando políticas de bem estar de funcionários são desenvolvidas.
Para Betina Lackner, diretora de RH da Johnson & Johnson, a receita para o sucesso de times e empresas passa pela acolhida e diversidade.
“Quando você não é acolhido, você não tem a sensação de pertencimento. Você não está entregando o máximo e produzindo o que pode produzir. Se a pessoa não se sente conectada, ela apenas sobrevive”, afirma a executiva, que participou nesta terça-feira do Summit Saúde Mental, organizado pela Exame.
Apesar de defender a política da Johnson & Johnson Brasil, cujo mote é You Belong (Você pertence, em português), a executiva reconhece que o caminho para isso é longo.
A visão de que a diversidade é um dos cernes do bom ambiente de trabalho é compartilhada pela presidente da Microsoft Brasil, Tânia Cosentino:
“A inclusão é um tópico importante, além de raça e gênero, mas também religião e cultura. Quando você tem esse olhar do diferente, você trabalha melhor a saúde mental”.
A questão da diversidade e da representatividade também envolve o combate às micro agressões. Essa é uma das responsabilidades das empresas.
“Micro Agressões acontecem sem as pessoas se darem conta das ofensas. O combate a elas vai dando uma força para que os grupos sub representados naturalmente se constituam”, explica Francine Graci, diretora de Career Experience do Twitter na América Latina.
A necessidade de reformar a cultura, independentemente de ações de saúde mental, é reforçada pelo ex-executivo da Nissan e Renault Nélio Bilate, que hoje é CEO da NB Heart, que oferece soluções de saúde mental a empresas.
“Um ambiente com saúde mental é um só um efeito, e uma das causas é uma cultura organizacional leve, sadia, diversa, humanitaria”.
Durante a pandemia, a saúde mental ganhou relevância nas empresas e na vida das pessoas. 37% das empresas registraram aumento de doenças psiquiátricas durante a pandemia, como ansiedade e depressão.
Entre os motivos, estão o medo com a saúde em si, insegurança econômica e a falta de limites entre vida pessoal e trabalho devido ao home office amplamente adotado.
Apesar de a crise do coronavírus ter criado as situações de estresse, incerteza e perdas na vida pessoal e profissional, ela também serviu para o tema deixar de ser tabu.
“Agora sim podemos falar em saúde mental, nas fragilidades que as pessoas têm. A saúde mental até pouco tempo era tabu. Então a pessoa podia se justificar dizendo que tinha uma dor de cabeça, mas ela nunca falaria que estava ansiosa ou deprimida. E isso mostra que a gente tem uma responsabilidade dos líderes de entenderem isso”, defende Maria Scheneider, do Grupo Pão de Açúcar.
Essa responsabilidade que a executiva defende também passa pelo acolhimento. Além de se sentirem pertencentes, os funcionários precisam se sentir confortáveis para falar sobre saúde mental.
É nesse ponto que entra a necessidade de os líderes serem exemplo, e mostrarem que também são vulneráveis.
“Quando você como líder se coloca como vulnerável, você abre espaço para identificação e isso traz legitimidade”, defende Francine Graci.
Tania Cosentino, da Microsoft, também destaca que o líder não pode repetir um papel que existia de ser uma pessoa que suga a energia do funcionário. Ele deve dar a energia:
“Líder tem que dar clareza, gerar energia. O líder tem que cuidar, ser modelo”.
Com a pandemia, houve uma lente de aumento sobre os transtornos emocionais, na visão de Sidney Klajner, do Hospital Albert Einstein, que também participou do Summit Saúde Mental.
Entre as características da síndrome de burnout, o médico destaca a mudança de comportamento e discursos repetitivos.
Segundo a Organização Mundial de Saúde, exaustão, falta de conexão com os colegas de trabalho e redução da eficiência são os principais indicativos de que alguém está passando por uma síndrome de burnout, que é uma doença ocupacional reconhecida pelo órgão internacional.
Fonte: Exame