A transformação que ocorre diariamente nas indústrias não seria possível sem a energia elétrica. Essa essencialidade do recurso aponta não só para a dependência de uma matéria-prima comum em todo o setor produtivo, mas para a abertura de caminhos que conduzam os grandes consumidores de energia para uma realidade mais sustentável ambiental e economicamente.
De acordo com Aline Neves, analista de projetos da Gerência de Energia da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), o desenvolvimento de carros elétricos pela indústria automotiva, por exemplo, já demonstra que a descarbonização está ganhando força.
Nesse mesmo fôlego de um pensamento mais verde, o ideal da substituição de fontes energéticas fósseis por outras renováveis se consolida com a expectativa cada vez maior da expansão da utilização da energia solar e eólica, além do hidrogênio verde, do biogás e do biometano.
A diversificação da matriz energética vai ao encontro de uma necessidade emergente: eficientizar recursos energéticos e financeiros nas plantas industriais. “O custo da energia pode afetar investimentos não só em Minas Gerais, mas em todo o País, pois as indústrias deixam de modernizar suas plantas para arcar com os elevadíssimos encargos na conta de luz. Esse custo onera o setor produtivo, que repassa aos produtos e serviços, que, por sua vez, afetam a renda das famílias”, aponta Aline Neves.
Segundo o coordenador regional da Associação Brasileira de Energia Solar Fotovoltaica (Absolar) em Minas Gerais, Bruno Catta Preta, com os custos da energia cada vez mais altos, as indústrias mecânica, farmacêutica, alimentícia, moveleira e de vestuário estão apostando no recurso proveniente do sol para conseguir equilibrar os gastos e agregar valor aos negócios. A adesão, no entanto, não está limitada apenas aos setores citados:
“A energia solar no Brasil é relativamente nova, e deve crescer. E essa não é só uma transformação ambiental, mas de atração do consumidor. Além dos benefícios dos custos e da sustentabilidade, as empresas saem à frente no marketing quando mostram que a energia utilizada é limpa”, afirma Bruno Catta Preta.
Os dados da Absolar a nível nacional demonstram que, no que tange à geração solar fotovoltaica por classe de consumo em todo o Brasil, a indústria tem 1,9% de todos os sistemas instalados, o que representa 7,4% em potência instalada.
O número pode parecer pequeno, mas, conforme ressalta o coordenador regional da Associação, Bruno Catta Preta, apesar de o número de sistemas residenciais superarem, com 77,6% do total, os investimentos na indústria são vultosos e concentram uma potência instalada maior para suprir as demandas fabris. Para ele, é questão de tempo até que a classe industrial alcance a potência de 13,7% hoje destinada aos clientes residenciais.
Energia eólica
Lado a lado à energia solar fotovoltaica, a eólica também está presente nas discussões para a diversificação da matriz energética e garantia de confiabilidade no sistema. De acordo com a Associação Brasileira de Energia Eólica (Abeeólica), a energia dos ventos comercializada no mercado livre superou, a partir de 2018, aquela vendida em leilões do mercado regulado.
De acordo com a presidente da entidade, Elbia Gannoum, essa mudança no mercado aponta que está crescendo o interesse de indústrias e empresas para a compra de energia de baixo impacto junto aos geradores da energia obtida em parques eólicos. As perspectivas são confirmadas pelos contratos já fechados até o momento e investimentos previstos.
“No Brasil, até 2026, teremos pelo menos 33 GW, cerca de 80% dessa capacidade instalada no Nordeste. Digo ‘pelo menos’ porque isso se refere apenas aos contratos já fechados até hoje. Ou seja, esse número certamente será maior, até porque o mercado livre está crescendo cada vez mais para as eólicas. Considerando apenas os contratos já assinados, podemos estimar um investimento de cerca de R$ 80 bilhões nos próximos cinco anos”, afirma a presidente da Abeeólica, Elbia Gannoum.
A entidade lembra que o avanço da legislação sobre a geração eólica offshore, ou seja, a energia gerada por meio de aerogeradores instalados diretamente no mar, pode significar uma das ferramentas mais importantes na luta contra o aquecimento global e no avanço do hidrogênio verde no País, já que esta fonte demanda energia limpa no processo de produção.
Grandes companhias investem na autoprodução
A diversificação da matriz energética é, para a fabricante de veículos Fiat, a garantia da segurança energética contínua, da competitividade no mercado e da economia de recursos. Além disso, a empresa acredita que a busca por fontes alternativas e limpas é a chave para a reduzir a emissão de gases de efeito estufa na atmosfera e contribuir para a qualidade de vida da geração atual e das gerações futuras.
Segundo informações fornecidas pela Fiat, atualmente já existe, na empresa, a autoprodução de energia por meio de fonte solar e projetos de biometanização e gaseificação de resíduos sólidos que compreendem uma estratégia para a redução do volume de gás natural adquirido junto a fornecedores.
A fabricante aposta, ainda, na heliotermia (termossolar). Diferentemente da fotovoltaica, essa é uma energia obtida de forma indireta por meio de uma espécie de refletor que direciona raios solares a um ponto específico, onde o calor concentrado aquece receptores e movimenta uma série de estruturas responsáveis pela transformação da energia térmica em elétrica.
Com esse mesmo propósito, a Gerdau, empresa fornecedora de aços longos e especiais em todo o mundo, anunciou, no último fevereiro, a construção de um parque solar destinado ao atendimento de metade da necessidade de energia elétrica das indústrias brasileiras. Para o vice-presidente da Gerdau, esse passo reforça o comprometimento da empresa em somar ações para garantir um futuro mais sustentável;
“A iniciativa está alinhada à nossa estratégia de oferecer soluções de energia limpa a clientes e avançar na descarbonização, representando mais um importante investimento na jornada pela transição energética”, afirma o executivo, que adianta que a empresa também avalia oportunidades em energia eólica nas Américas.
Fonte: Diário do Comércio