Número de unidades instaladas no Estado deu um salto de 225 para 261 no período de apenas um ano.
O setor industrial vivencia um período de grandes transformações no qual precisa se manter como o grande vetor de desenvolvimento da economia e, ao mesmo tempo, melhorar a sua relação com o meio ambiente e a sociedade. Os desafios são vários, porém, as empresas e entidades vêm buscando formas de se adaptarem aos novos tempos.
Entre as transformações está a adoção de práticas ESG nas empresas instaladas em Minas Gerais. Apesar das grandes companhias já estarem bem alinhadas, ainda há o desafio de levar este novo modelo para as pequenas e médias empresas mineiras.
O setor vem também se adaptando à quarta revolução industrial. Para manter a competitividade, empresas investem e desenvolvem novas tecnologias que aperfeiçoam a produção, reduzem custos e os impactos no meio ambiente.
Além disso, o uso da energia gerada por fontes alternativas é uma das soluções encontradas pelo setor tanto para reduzir os custos quanto para mitigar os impactos da atividade industrial ao meio ambiente.
Segunda maior geradora de empregos do Estado, atrás apenas do setor de serviços, a indústria vem aperfeiçoando suas iniciativas para formar mão de obra para atender à demanda crescente.
Neste Especial, serão apresentadas algumas das soluções adotadas pelo setor em Minas Gerais para manter o protagonismo no desenvolvimento econômico nos próximos anos.
Conceito ESG se torna questão de sobrevivência para empresas
A sustentabilidade dos negócios nas indústrias é uma pauta que vem sendo debatida e implantada há muitos anos, mas que, nos últimos três, foi embalada por um novo conceito, o ESG, sigla que vem do inglês Environmental (Ambiental), Social (Social) e Governance (Governança). O ESG representa um grande acordo de resultados equilibrados, no qual as empresas, além de terem o olhar econômico, passam a dar mais atenção também às questões do meio ambiente e sociais.
Em Minas Gerais, a maior parte das grandes indústrias já possui uma jornada ESG bem estruturada. O grande desafio é promover a adoção nas pequenas e médias. Incluir as demais é importante, já que, hoje, aderir e realmente implementar o ESG não é mais uma opção, mas sim o caminho para a sobrevivência das indústrias.
O ESG é um conjunto de práticas que norteiam a atuação das empresas e seus impactos em busca de uma gestão mais sustentável. As empresas trabalham levando em conta as questões ambientais, sociais e de governança. Dessa forma, além de contribuírem para um mundo mais justo e sustentável, tornam-se mais preparadas para mudanças nos padrões de produção e consumo, ficando mais fortes, competitivas e perenes.
A gerente de Responsabilidade Social da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg), Luciene Araújo, explica que o setor vem discutindo a gestão sustentável dos negócios há mais de 30 anos. Mas, há cerca de três, a sustentabilidade foi embalada neste novo conceito do ESG como grande acordo de resultados equilibrados. A aceleração do processo veio por exigências do mercado financeiro, principalmente.
“Nos últimos anos, a adoção da estratégia ESG pelas indústrias foi bastante estimulada pelo mercado financeiro. Os grandes investidores do mundo começaram a colocar na gestão de riscos e de investimento a avaliação do resultado triplo do ESG”, conta.
Além de passar a ser uma exigência para ter acesso a investidores, Luciene explica que outro importante ponto que estimulou a adoção das práticas é o pós-pandemia. Segundo ela, com a pandemia, há uma necessidade muito maior, do ponto de vista das empresas, de se ter uma gestão mais perene, mais eficiente, e aí o ESG se enquadra perfeitamente bem.
Em Minas Gerais, pode-se dizer que grandes empresas, de vários setores, já têm uma jornada muito bem estruturada. Entre os destaques estão Anglo American, Gerdau, Localiza, MRV, Pif Paf, Direcional, Construtora Barbosa Mello (CBM), Vale, Cemig, Banco Inter, Usiminas, Aperam South America entre outras. O avanço na implementação do ESG também tem sido feito por redes e envolvendo setores, como nas indústrias da moda, calçados, joias, vestuário e acessórios.
Mas o principal desafio da indústria mineira é fazer com que a jornada seja adotada também pelos médios e pequenos negócios. Isso porque é exatamente este grupo de empresas que está tentando se recuperar após as perdas geradas pela pandemia.
“As pequenas e médias empresas foram as mais impactadas pela pandemia e, agora, têm muitas coisas para administrar, toda a gestão que precisa ser feita para retomar a produção e todo o processo de gestão destas empresas. A adoção do ESG é um caminho que vai auxiliar nesta recuperação”, destaca Luciene.
Papel das empresas-âncoras
São duas as formas que as empresas têm adotado para a implementação do ESG. A primeira, que vem provocando um grande avanço da pauta ESG no Estado, segundo Luciene, vem pela indução das empresas-âncoras, que incentivam a cadeia de valor e produtiva a adotarem as práticas.
“As grandes empresas precisam qualificar os fornecedores, precisam trazer os fornecedores para a pauta que ela já tem investido e pela qual ela é exigida. Então é uma força muito grande que temos, com estas grandes empresas estimulando a cadeia de produção na adoção”, diz.
Outros fatores de impulsionamento são as necessidades da sociedade. “A cada dia, a sociedade está mais atenta aos produtos, serviços, e não só à qualidade, mas aos impactos que estas empresas podem trazer”.
Entretanto, a implementação real da estratégia tem sido um desafio. A adoção do ESG precisa, efetivamente, estar inserida no planejamento estratégico, ser um valor importante para a empresa e que seja descrito e desdobrado em práticas do planejamento estratégico.
“O ESG tem que ser colocado no planejamento estratégico e no dia a dia da empresa. Não adianta fazer de conta, as pessoas, as empresas, o mercado estão muito atentos ao que as empresas estão fazendo. Tem uma palavra mágica nesta jornada que é a intencionalidade. O ESG não é uma chave que será virada de uma hora para outra, tem que planejar muito bem esse caminho, e ao fazer essa jornada que vai se ter consistência. Mas a intenção de fazer certo, de fazer envolvendo os stakeholders, envolvendo a sociedade e, muito especialmente, com a aprovação e acompanhamento da alta administração, é o melhor caminho”.
Assessoria qualificada
Para auxiliar no processo de implementação do ESG, a Fiemg tem linhas de serviços e mobilização. As empresas que participam têm acesso a assessoria qualificada e é feito um diagnóstico das práticas que cada uma adota.
Os profissionais também ajudam estas empresas a fazerem a implementação no planejamento estratégico, a estruturar a governança, criar o desenvolvimento de práticas interessantes, que vão, no futuro, gerar esse resultado de valor compartilhado.
“Quando este trabalho é desenvolvido, ganham os stakeholders, ganha a empresa, ganha a eficiência do negócio. Temos, pela Fiemg, uma série de manuais, guias, vídeos e serviços que podemos prestar”, explica Luciene.
Ações geram retornos para sociedade e para os negócios
A jornada para a implementação das práticas ESG demanda tempo, planejamento e dedicação. Porém, empresas que adotam o ESG têm diversos retornos, sendo o principal o posicionamento reputacional de alto valor no mercado. O posicionamento traz novos investidores, novos clientes e uma aprovação maior da sociedade.
“Do ponto de vista da gestão, a gente tem uma melhor eficiência, que reduz custo e melhora o resultado econômico também. A melhor gestão do diálogo com os stakeholders faz com que a empresa passe a ter muito mais parceiros. Assim, cria-se uma rede de apoio e aprovação do negócios que o sustenta ao longo do tempo e a empresa ganha perenidade. Com mais força, gera maior possibilidade de geração de resultados e formação de parcerias”, destaca a gerente de Responsabilidade Social da Fiemg, Luciene Araújo.
O sócio e líder de ESG da PwC Brasil, Mauricio Colombari, reforça que a implementação de um programa de ESG nas companhias traz uma série de benefícios, que dependem do segmento de atuação específico da indústria.
“A atuação socioambientalmente responsável vem se tornando praticamente uma licença para operar e deve estar conectada com o propósito e a estratégia de uma organização. Com base nessa premissa, essa atuação pode significar a abertura de novos mercados por meio de produtos com menor impacto ambiental, assim como produzir efeitos positivos na atração e retenção de colaboradores”, diz.
Ainda segundo Colombari, pesquisas feitas pela PWC indicam que os consumidores estão cada vez mais interessados em se relacionar com empresas com boas práticas socioambientais. “Essa é uma razão pela qual essas boas práticas podem ser um importante instrumento de atração e fidelização de clientes. Algumas indústrias também têm se beneficiado das finanças verdes, que são modalidades de financiamento que consideram projetos ou metas socioambientais e que possuem taxas mais atrativas que os instrumentos convencionais”.
Siderúrgica vai atrás de status de carbono neutro
Alinhada à agenda ambiental, social e de governança (ESG), a siderúrgica Gerdau vem avançando nas práticas. De acordo com o diretor-presidente (CEO) da Gerdau, Gustavo Werneck, antes mesmo do ESG ganhar a atenção global, a Gerdau já possuía uma das menores médias de emissão de gases de efeito estufa, de 0,90 tonelada de dióxido de carbono equivalente (CO2e) por tonelada de aço, o que representa aproximadamente a metade da média global do setor. No início do ano, a empresa assumiu o compromisso de reduzir suas emissões para um valor inferior a 50% da média global da indústria do aço até 2031.
Hoje, 73% do aço produzido pela companhia vem da reciclagem de sucata ferrosa, tornando-a a maior recicladora da América Latina, com 11 milhões de toneladas de sucata transformadas em aço anualmente.
“Acreditamos que precisamos ser protagonistas na busca por soluções e disrupções inovadoras para o processo de descarbonização do planeta, ajudando a moldar o futuro de um setor tão essencial, como o do aço, de maneira cada vez mais sustentável. Ao atingirmos a meta proposta para 2031, daremos um passo importante para a nossa ambição de ser carbono neutro em 2050. Queremos ser parte dessa solução”, afirmou Werneck.
A diversificação dentro da liderança também faz parte da agenda ESG da Gerdau. Hoje, a porcentagem de mulheres líderes é de 23%, acima da média nacional na indústria do aço. A meta é de 30% de mulheres em posição de liderança em toda empresa até 2025.
No início de 2022, a Gerdau chegou ao número de 203 empresas fornecedoras, de micro e grande portes, que aderiram ao mesmo pacto. A intenção é continuar trabalhando para ser uma produtora de aço cada vez mais inclusiva e diversa, além de engajar todo o ecossistema em que está presente.
“É papel das lideranças e das organizações liderar grupos de engajamento e discussão sobre diversidade e inclusão, promovendo a construção de ambientes de trabalho e de negócio com oportunidades iguais para todos e todas”, diz Werneck.
Fonte: Diário do Comércio