Os benefícios e a necessidade de inovação dentro das empresas para que elas se tornem e permaneçam competitivas já são mais do que conhecidos. A maneira de inovar, porém, não é um caminho tão óbvio. Não basta lançar um produto ou alterar um processo interno. Sem método, essas ações podem causar muita perda de tempo e de dinheiro.
Por isso, a Organização Internacional de Padronização (ISO) lançou um conjunto de normas no intuito de ajudar as empresas a fazerem a gestão da inovação, reunindo as melhores práticas dos países associados, inclusive do Brasil.
Até o momento, já são nove normas que englobam o sistema de gestão da inovação. A ISO 56000 é a norma que determina vocabulários e fundamentos. A ISO 56002 é a norma que passa as diretrizes para implementar o sistema de gestão e é a única que é certificável via atestado de conformidade.
Além delas, existem ainda a ISO 56003, que auxilia as empresas através das ferramentas e métodos de inovação; a ISO 56004, encarregada do assessment; a ISO 56005, de ferramentas e métodos para gestão da propriedade intelectual; a 56006, de ferramentas e métodos para a gestão da inteligência estratégica; 56007, de gestão de ideias; 56008, de ferramentas e métodos para medição da performance do sistema de gestão; e a 56009, que é um guia prático para inovação.
De acordo com o sócio-fundador da Palas – consultoria de inovação e gestão -, Alexandre Pierro, 63 países contribuíram na redação da família ISO 56000. A participação brasileira foi com a norma ABNT 16.501/2011.
“Talvez a tradução das orientações ISO como ‘normas’ não tenha sido a mais feliz em português. O que a ISO propõe são manuais de boas práticas. Ela estuda e reúne os casos de melhores práticas entre os associados para que empresas do mundo todo tenham seus caminhos facilitados. No caso da inovação, as normas ligam aspectos de propriedade intelectual, ferramentas e métodos, entre outros, sempre pensando em novidade e valor – que pode ser financeiro ou não. A ideia é estruturar as empresas para que façam a inovação de forma orgânica e permanente. As decisões ainda não são processuais e isso impede que inovações robustas sejam feitas. A ISO indica processos para que as decisões sejam baseadas em dados, minimizando riscos”, explica Pierro.
Lançada há dois anos, a ISO 56002 é baseada em oito pilares:
A norma defende que uma inovação pode ser um produto, serviço, processo, modelo, método ou a combinação de qualquer uma delas.
A terminologia da norma principal com o número dois é um indício de que ela é uma norma de diretrizes e não de requisitos. Ela aponta caminhos, mas entende que não há uma receita única para todas as empresas.
“O que funciona em uma empresa, pode não funcionar em outra. Por isso, além de entender profundamente todas essas normas, os profissionais envolvidos no processo de implementação devem ter um profundo conhecimento sobre metodologias e ferramentas de inovação para conquistar resultados realmente efetivos. A ISO é um guia, não uma receita, por isso atende empresas de qualquer porte ou setor. O importante é ver como e quanto o mercado é competitivo. A inovação tem que andar junto com a qualidade”.
Certificação
O processo de certificação, via atestado de conformidade, é simples. A ISO 56002 pode ser implementada em empresas de todos os portes e segmentos. É possível fazer a implementação em um único departamento ou na emprea como um todo. Há ainda casos de implementação em várias unidades ao mesmo tempo, inclusive em países diferentes, no caso de multinacionais.
O primeiro passo é a realização de um diagnóstico, que avalia qual é o nível de aderência de uma empresa em relação aos pilares da norma. Depois disso, inicia-se o processo de implementação, que leva de quatro a seis meses, dependendo do nível de complexidade e da maturidade da empresa em relação ao tema. Quando o sistema de gestão fica pronto, uma certificadora faz a auditoria de certificação, que, se aprovada, emite o atestado de conformidade da ISO 56002.
Cerca de 200 empresas no mundo já estão certificadas, sendo seis brasileiras. Outros projetos estão sendo implementados no Brasil, inclusive em Minas Gerais.
“Um negócio é sempre entre pessoas. Então, a vantagem deste manual é que ele traz o ser humano para o centro do processo. E, ainda, destaca o papel da liderança. Liderança, aqui, não é a patente, é o engajador. Hoje, pela primeira vez, temos cinco gerações trabalhando ao mesmo tempo dentro das empresas, cada uma com suas qualidades e defeitos. Isso é muito bom. Além do cliente, temos que ouvir todos os públicos. A certificação depende do momento da empresa. É uma decisão estratégica, um atestado para o mundo que dura três anos”, analisa o executivo.
Os benefícios da ISO 56002 variam de uma empresa para outra. Além de acesso a incentivos fiscais pela Lei do Bem, as empresas que adotam o modelo percebem os benefícios de um processo bem definido para a gestão da inovação, com mapeamento de riscos, avaliação de oportunidades e estabelecimento de recursos para a inovação, como infraestrutura, conhecimento e mesmo o orçamento.
“Qualquer processo de estabelecimento de governança é bom para empresa mesmo que não chegue ao fim porque identifica gaps; diminui custos, desperdícios e retrabalho; e estabelece melhores processos. No caso da ISO 56002, como é muito recente, ainda não temos fundos de investimentos que se dediquem especialmente a ela, mas já temos notícias da certificação sendo usada como critério coadjuvante na concessão de empréstimos, por exemplo. Quem tem a certificação apresenta menos riscos. Mas tudo isso depende muito da estratégia da empresa, se ela quer ou não tornar a certificação e o próprio processo público ou não”, completa o sócio-fundador da Palas.
Fonte: Diário do Comércio