O tempo todo temos que tomar decisões. Sem percebermos, durante grande parte das 24 horas do nosso dia, decidimos centenas de coisas “aparentemente sem importância” e, mesmo que nos pareçam pequenas, fazem toda a diferença na nossa rotina, na nossa vida pessoal e interferem também no coletivo, o que é inevitável. Luciano Salamacha, professor de MBA da FGV e da Esic Internacional, explica que na maioria dos casos, as decisões são automáticas. O nosso cérebro faz escolhas, baseado em nossas experiências anteriores, em nossos costumes locais, em nossa cultura ou construção psicológica, momento hormonal e até mesmo em nossa genética.
Mas, e as decisões, como por exemplo, um projeto, a demissão ou contratação de um profissional, o corte ou o aporte de uma verba, a criação de algo maior dentro de uma empresa, a virada de um sistema de trabalho, a troca de emprego, o pedido de aumento salarial? Como decidir sobre isso e não errar? Salamacha diz que não há como prescrever uma receita imune a falhas, mas há métodos que nos aproximam de decisões mais acertadas.
Tudo passa pelo cérebro, este órgão complexo, que muitas vezes decide por nós. Ele é responsável por aproximadamente 20% de toda a energia que consumimos. Portanto, poupar esforços está sempre no radar das decisões. É uma forma de garantir a sobrevivência, economizando energia para desafios maiores. Isso faz com que o cérebro automatize grande parte das escolhas, para que o esforço seja mínimo. Daí vem o perigo das decisões inconscientes. É quando deixamos de estar no comando de nossas vidas. Quem nunca comprou algo e se arrependeu? Só para ficar no exemplo mais evidente.
O professor, que também é especialista em neurociência aplicada aos negócios, diz que alguns caminhos ajudam muito nas escolhas corporativas. E se você é daqueles que não decide nem mesmo pelo sabor da pizza que o grupo vai pedir, preste atenção nessas dicas e comece a opinar. Afinal, se você errou o sabor uma vez, terá novas descobertas e muitas outras pizzas para comer ao longo da vida.
Salamacha recomenda 10 passos para uma tomada de decisão mais assertiva:
1- Tenha uma mente aberta para coisas novas que possam surgir. Na tomada de decisão é comum que as variáveis que quer encontrar não são as que presumia que existissem. É mais ou menos como fazer uma busca com o objetivo de encontrar uma coisa que já sabe que está lá e nem sempre isso acontece.
2- Questione as decisões rápidas. Normalmente elas são construídas apenas de forma emocional, sem utilizar o trinômio cérebro, paixão e suor.
3- Nunca tome uma decisão baseada apenas no próprio ponto de vista. Olhe a decisão sobre o olhar do outro. É um exercício. Dá trabalho, mas o resultado pode surpreender.
4- Meça as consequências, as perdas e os ganhos. Às vezes as perdas são tão pequenas que valem o risco. O ganho pode ser tão imenso e transformador que compense a perda. Se ousar não é seu gênero, tente de vez em quando. Você pode ter uma grata surpresa.
5- Visualize a sua vida, a dos seus companheiros e o seu trabalho, baseados numa pós decisão que tomaria. Fantasie para medir o que poderá ser bom, mas também aquilo que poderá ser desastroso.
6- Cuidado com o pessimismo. Para a maioria das pessoas, o cérebro é essencialmente condicionado a pensar no pior. O otimismo é contagiante, é uma energia que pode fazer os projetos darem certo e que, de maneira bem prática, acaba com o sofrimento por antecipação. O otimismo contamina positivamente as pessoas em volta e pode ser a alavanca para o sucesso da sua decisão.
7- Tenha prudência. Decidir bem é pensar racionalmente. Mas a prudência é ver as coisas como elas são, reduzindo os filtros que podem turvar a visão. Como disse o filósofo e teólogo, Tomás de Aquino: “É que a prudência é a virtude da inteligência…”.
8- Estabeleça prazo para a tomada de uma decisão. O tempo de hesitação pode te deixar para trás. Alguém pode estar à frente da mesma decisão e chegar primeiro. Não perca o tempo das coisas.
9- Pense em cenários incertos: quais reparos você deverá fazer caso sua decisão não dê o resultado que espera? É um medidor que nos dá um certo conforto, mesmo no erro, porque o remédio já foi pensado.
10- Decida através dos seus valores, naquilo que acredita. Confie na sua visão e na sua vivência.
Por que será que para algumas pessoas tomar decisão é tão difícil, quase um sofrimento?
O professor explica que existem pessoas que se esquivam de tomar decisões por mais simples que sejam. Ao acertarmos uma decisão, mesmo que pequena, como o restaurante agradável para ir com a família, o cérebro produz ondas de dopamina e nos premia com sensações de bem-estar. Isso nos dá mais confiança para decidir outras vezes. Por outro lado, muitas pessoas deixam de decidir quando fazem escolhas erradas, ficam inseguras e não querem sentir o gosto amargo do fracasso novamente. Não caia nesta prisão.
É muito cômodo transferir as decisões para uma outra pessoa (lembra que o cérebro quer economizar energia?). Afinal, se errar, ela será cobrada. Mas e se ela acertar, os ganhos também serão dela e com eles irá construir uma vida, uma reputação e uma carreira mais sólida, mais respeitosa, mais admirada e mais promissora.
Salamacha, que participa de conselhos administrativos diz que a tomada de decisão consciente é um diferencial humano e precisa ser exercido com força dentro das corporações que buscam resultados. Isso não significa perder a conexão emocional, mas sim entender as emoções que estão permeando todas as relações, para que possamos, acima de tudo, termos empatia. Os melhores resultados de uma empresa são obtidos por pessoas, então é justo vivermos atentos às dores que atingem aqueles que nos cercam para que, neste sentido de compreensão mútua, possamos abrir espaço para tudo o que importa ao time. Seja bem-estar, desafio, resultado financeiro ou crescimento pessoal.
O professor afirma que sempre é tempo de mudar coisas que não estão bem. E se esquivar de decisões é defeito no mundo corporativo. Líderes são escolhidos basicamente pelo poder de decisão. O treino em decidir ajuda nessa mudança, portanto exercite o “músculo decisório”. Comece com decisões pequenas, mas vá ampliando o leque e dando autonomia para que o time também decida. Sejamos construtores de pessoas com poder de decisão. As decisões compartilhadas, sempre que possível, estreitam os laços, criam cumplicidade e estatisticamente diminuem riscos de erro.
O professor aconselha que, se apesar de tudo isso, você decidir e errar enormemente, não desista. Afinal, o mundo é sim feito de escolhas e não vamos acertar 100% das vezes. Os enganos podem contar uma bela história de resiliência. O importante é transformá-los em lições para novas e melhores decisões.
Fonte: RH pra você
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